Quanto aos livros e o que eles significam, não vão morrer nunca

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Malu Fontes
  • Malu Fontes

Publicado em 26 de novembro de 2018 às 05:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

O anúncio da recuperação judicial das duas maiores redes de livrarias do Brasil, a Cultura e a Saraiva, já chegou às manchetes sendo interpretado de um jeito simplista e burro: o livro morreu e a crise das duas empresas seria tão somente uma consequência óbvia do quanto as pessoas trocaram a leitura de livros por textículos de Facebook. Não, não é bem assim e, felizmente, o livro continua vivo. Não houve queda de vendas e a eminência da falência das duas redes tem causas que vão muito além da perda de clientes e de leitores.

Para quem ainda não sabe, recuperação judicial é a forma atualizada de dizer “pediu concordata”. Traduzindo melhor, é quando uma empresa diz ao mercado e aos seus credores: eu devo, não tenho como pagar, mas vou pagar, dentro de todas as possibilidades elásticas que a legislação me permitir. O fato de as duas maiores redes virem a público dizer isso quase que simultaneamente, e às vésperas do Natal, quando se sabe que há um aumento substancial do volume de venda de livros, arregalou os olhos dos clientes e, principalmente, de todo o mercado editorial, que precisa das livrarias para escoar sua produção. 

Elefantes O sucesso e o fracasso da Saraiva e da Cultura têm muito em comum. Há cerca de 10 anos, a Saraiva comprou e incorporou a rede Siciliano, com mais de 60 lojas no país. Mais recentemente, a Cultura negociou a incorporação da francesa Fnac no Brasil. Com a mudança radical dos modelos de negócios de tudo o quanto é coisa no mundo, as estruturas mastodônticas das megastores de livros não parecem ter mais lugar. Basta ver o tamanho das lojas, o volume de impostos pagos por milhares de metros quadrados em todo o Brasil, um exército de funcionários e, paradoxalmente, a concorrência das gigantes on-line, especializadas ou não em livros. 

Parece uma equação pronta para dar errado para as grandes livrarias. Em boa parte do mundo, têm sido uma tendência as chamadas livrarias boutiques, com acervo reduzido, catálogos personalizados, voltado para nichos, e geralmente tocadas diretamente pelos próprios donos, que conhecem a fundo o perfil de seus clientes e o conteúdo comercializado. Os elefantes de prateleira parecem estar com os dias contados. Mas daí a apelar para o reducionismo de que o prejuízo das grandes cadeias de livros se explica pela emergência dos leitores de Facebook é bobagem.

Radioativo  Mesmo no Brasil, onde o percentual da população que compra livros é pequeno, não houve queda de vendas, em números absolutos ou percentuais. O que foi determinante para o endividamento gigante das megastores foi a perda significativa das margens de lucro e a redução da velocidade com que o mercado editorial lança títulos. Prejuízo houve, e muito. Mas não porque as pessoas deixaram de comprar livros. Os preços é que não acompanharam a inflação e as empresas não conseguiram se adaptar à concorrência predatória das gigantes que vendem livros on-line muito mais baratos porque usam o produto basicamente como iscas para leitores entrarem nas plataformas para comprar o último título de Valter Hugo Mãe e, uma hora depois, saírem das plataformas talvez até com o livro do escritor português, mas também com um leave-in Lanza e uma capa de celular que promete proteção radioativa.

Fogueiras Quanto aos livros e o que eles significam,não vão morrer nunca. Como canta Caetano, em sua canção homônima, “os livros são objetos transcendentes, mas podemos amá-los do amor táctil que votamos aos maços de cigarro. Domá-los, cultivá-los em aquários, em estantes, gaiolas, em fogueiras. Ou lançá-los para fora das janelas”. E quem escreve coisas assim sobre livros e leituras é um homem de um lugar, Santo Amaro da Purificação, onde não havia livrarias...