Quatro líderes de facção que domina Cajazeiras saíram de cena em março, diz polícia

Bairro registrou 46 mortes entre janeiro e março deste ano; aumento de crimes violentos foi de 119%, em relação ao mesmo período de 2016

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  • Bruno Wendel

Publicado em 7 de abril de 2017 às 09:50

- Atualizado há um ano

“A polícia nunca agiu em Cajazeiras como está agindo agora. Temos feito prisões importantes”. A declaração é do delegado Guilherme Machado, da 2ª Delegacia de Homicídios (DH) Central, ao comentar a expansão da facção Bonde do Maluco (BDM), responsável pelo crescimento de crimes violentos na região de Cajazeiras, este ano.

Segundo Machado, em março deste ano quatro líderes do BDM foram colocados fora de circulação. A prisão mais recente aconteceu no dia 28. Adailton Santos Soares, 25 anos, o Dal, foi capturado em um matagal entre os bairros de Jaguaripe e Fazenda Grande II. Ele estava com 70 quilos de maconha e um fuzil.

Entre outros criminosos presos está Ueslei Silva Sarinho, o Heures, 22, apontado como principal responsável pela morte de Felipe Yves. “O bando foi praticamente desmantelado e é responsável por diversos crimes da região”, diz o delegado. A prisão do traficante Livion dos Santos Amará também foi uma das ações destacadas pelo delegado. “Ele fornecia droga para quase toda Aisp 13. É um dos líderes do BDM na capital”, explica.

Nas operações, há uma morte decorrente de confronto entre bandidos e policiais. “Tivemos um enfrentamento e terminou com a morte de Rafael Canu, líder do BDM em Cajazeiras IV”, declara o delegado. “Há uma determinação de que a gente atue em regime de mutirões em diversas frentes para mitigar esses números. Aumentamos o número de operações, intensificamos o mapeamento com o Serviço de Inteligência (SI), fazemos rondas específicas para a captura de traficantes”, conclui.

O coronel Eduardo Luís Costa Ferreira, da Risp Central, aponta que todas as ações têm sido cautelosas, no intuito de evitar o que chama de “custo social”. “A nossa intenção é evitar um confronto devido ao custo social, ou seja,quando alguém morre. Mas esses confrontos têm sido cada vez mais inevitáveis, devido à reação dos traficantes”, explica.

Para ele, segurança pública não é única solução: “Falta aplicação de política públicas. Temos a falência de algumas instituições, como a família. Se os pais não adotam seu filho, o traficante adotará. A criança vive no consumismo e o tráfico consegue cooptá-lo em cima disso”.

119% de aumentoEntre janeiro e março foram 46 assassinatos nas Cajazeiras, contra 21 ocorridos no mesmo período do ano passado. É quase uma morte a cada dois dias, um aumento de 119% de um ano para outro.

De acordo com levantamento da Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA), só nos dois primeiros meses de 2017 foram 31 homicídios dolosos e um latrocínio na Aisp 13 - formada por Cajazeira II, IV, V, VI, VII, X e XI, Fazenda Grande I, II, III e IV, Águas Claras, Jaguaripe I e Boca da Mata. Em março, outros 14 CVLIs entram para a conta, mas não há, ainda, um detalhamento do tipo de crime cometido. O mês de março de 2016 registrou nove mortes na área.Moradores fazem protesto nas ruas para pedir paz em Cajazeiras, após morte violenta (Foto: Arquivo CORREIO)Moradores pedem ajudaDiante da violência crescente na região, moradores de Cajazeiras pediram mais segurança e participaram da última reunião do Pacto Pela Vida, na Desenbahia. As reivindicações foram apresentadas pela União da Associação de Moradores e Entidades Representativas das Cajazeiras e Adjacências. “As informações foram tomadas e serão apresentadas ao secretário de Segurança Púbica (Maurício Barbosa)”, declara o presidente da entidade, Evanir Borges.

Segundos os moradores, os assaltos são mais frequentes à noite e entre as 5h e as 7h. “Eles aproveitam que tem muita gente saindo para trabalhar, ir para a escola ou a faculdade e praticam os assaltos. Outro horário comum é à noite, depois das 21h, quando as pessoas estão chegando do trabalho”, conta um morador, sob anonimato.

Outro morador disse que o número de homicídios aumentou nos últimos anos e que o motivo  é a disputa pelo tráfico de drogas entre as quadrilhas. “Depois que surgiram essas facções, essas quadrilhas, parece que a cada dia morre uma pessoa em Cajazeiras. A insegurança aumentou muito e a gente quase não vê uma viatura na rua”, reclama.