Que, em 2018, o mundo inteiro entenda: estamos juntas e cada vez mais

Flavia Azevedo é produtora e mãe de Léo

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 30 de dezembro de 2017 às 16:12

- Atualizado há 10 meses

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Feliz Ano Novo, amiga irmã. Feliz Ano Novo, mulher desconhecida do outro lado do planeta. Feliz Ano Novo, moça que deu em cima do meu namorado. Feliz Ano Novo, namorada do moço que eu quis pra mim (e desculpa aí...)

Sim, meia noite eu agradeço porque sempre há muito a agradecer. Mas peço também. Peço no Reveillon, no São João, num dia qualquer. Peço muito no meu aniversário. Peço pra caramba na virada do ano porque, desde menina, quero mais. Quero ficar mais na festa, quero mais uma risada, quero mais um beijo, quero mais felicidade porque eu não mereço pouca coisa. Nem você.

Neste ano, peço pra poder voltar a fazer topless no Porto da Barra e em Ipanema, sem ser incomodada pelos caretas. Peço que as mães amamentem com suas tetas de fora em todo lugar. Em paz. Peço que os rapazes finalmente encontrem os nossos clitóris e que, assim, possamos nos divertir juntos para sempre, amém. Peço orgasmos. Físicos e existenciais.

Peço que homens parem de dizer que a camisinha não cabe no pinto, que consigam lavar os pratos, cozinhar e limpar a casa. Peço que cada menina se olhe no espelho e se veja linda porque é. E que parem de fazer dietas malucas, que não enlouqueçam mais atrás de um corpo impossível. E desnecessário também.

Quero que, em 2018, a gente pare de morrer a toa. Simbolicamente, em relações escrotas (por que, meu deus?) e concretamente, pelas mãos dos "companheiros". Quero que a gente aprenda a dizer "sim" e "não" dependendo apenas da nossa vontade. E que a nossa palavra seja levada a sério.

Peço pra concluir meus raciocínios nas reuniões de trabalho, sem ser interrompida por um homem qualquer. E que nenhum homem me explique, de novo, as coisas que eu sei porque ele acha que eu não entendi.

Peço pra dizer "quero você", sem ser chamada de vagabunda e pra transar na primeira noite ou em nenhuma, dependendo apenas do meu desejo (e do dele), sem que isso me faça valer mais ou menos como mulher.

Quero deixar meu filho com o pai pra dançar até o dia nascer. E que esteja tudo certo. Quero que os pais registrem os filhos que fizeram e que cuidem deles também. Que brinquem, que levem pra passear, que não continue também na nossa conta a responsabilidade sobre essa relação.

Quero andar sem sutian e que isso seja só problema meu. Quero vestir a roupa que eu quiser sem que ninguém ache que tô "pedindo" nada. Quero andar sozinha sem medo. Quero fical solteira, quero casar, quero fazer o que achar que devo e que o meu estado civil não me defina como mais ou menos respeitável.

Quero me maquiar, ou não. Quero me depilar, ou não. Quero usar salto alto, ou não. Quero alisar e pintar meus cabelos ou não. Porque a vida é curta e tudo isso é detalhe. Pouco demais para estar na pauta até de quem vive patrulhando mulher. Pouco demais para ainda ser discussão.

Peço, finalmente (mas teria muito mais) pra ter tempo de pensar no que importa. Que tenhamos. Que todas as tralhas saiam dos nossos caminhos. Que a gente consiga atravessar o monte de lixo que ainda está diante de nós para que possamos, finalmente, viver bem. Do jeito que queremos. Do jeito que merecemos e que só cada uma de nós, num íntimo livre e feliz, vai saber qual é.

Quero ser meu colo e ter outros e ser colo pra quem precisar de mim. Quero novos amores e curtir os antigos. Quero ver o primeiro dia do ano nascendo, num parto normal bem bonito e é isso que também desejo a você.

Feliz Ano Novo, amiga irmã. Feliz Ano Novo, mulher desconhecida do outro lado do planeta. Feliz Ano Novo, moça que deu em cima do meu namorado. Feliz Ano Novo, namorada do moço que eu quis pra mim (e desculpa aí...). Feliz Ano Novo, executiva, cabeleireira, caminhoneira, desempregada. Feliz Ano Novo, mãe de seis ou child free. Feliz Ano Novo, mulher trans. Feliz Ano Novo, mulher hetero, homo ou bi. Feliz Ano Novo, mulher preta, mulher branca e mulher mestiça. Feliz Ano Novo, Anitta e seu bumbum. Feliz Ano Novo, minha mãe, minha irmã, minhas primas, tias e avó.

Vão remando daí que eu vou remando daqui. O barco é o mesmo. Imenso e cabe todas nós. Que, em 2018, o mundo inteiro entenda: estamos juntas e cada vez mais. E essa é a coisa mais bonita que há.

(Feliz Ano Novo também para os homens que já entenderam: de mãos dadas, lado a lado é mais legal)

(Aos que insistem em ser escrotos, o "cantinho do pensamento". Fora isso, eu não desejo nada não)