Queiroz revela vontade DE voltar ao PSL: 'vamos ver se a gente assume esse partido aí'

Ex-assessor de Flávio Bolsonaro é investigado por movimentações financeiras atípicas

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  • Da Redação

Publicado em 27 de outubro de 2019 às 13:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Foto: Reprodução Em novos áudios vazados, o ex-assessor do senador e filho do presidente Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, revelou que sonha em ser reintegrado ao grupo político de Jair Bolsonaro para organizar a sigla no Rio de Janeiro. As gravações foram obtidas pela Folha de S. Paulo.

Os áudios mostram que Queiroz, que é investigado pelo Ministério Público do Rio sobre sua movimentação financeira atípica, mantém planos para ajudar o presidente, inclusive de “lapidar” a “bagunça” no diretório regional do PSL-RJ, atualmente comandado por Flávio."Resolvendo essa pica que está vindo na minha direção, se Deus quiser vou resolver, vamos ver se a gente assume esse partido aí. Eu e você de frente aí. Lapidar essa porra", afirmou ele a um interlocutor. Nas conversas, Queiroz se diz “agoniado” para voltar a trabalhar. "Torcendo para essa pica passar. Vamos ver no que vai dar isso aí para voltar a trabalhar, que já estou agoniado. Estou agoniado de estar com esse problema todo aí, atrasando a minha vida e da minha família, a porra toda." 

Além de afirmar que está "tudo bagunçado aqui no Estado [Rio]", Queiroz se oferece para blindagem do presidente Jair Bolsonaro, de quem é amigo de longa data. "Politicamente, eu só posso ir para partido. Trabalha isso aí com o chefe aí. Passando essa ventania aí, ficamos eu e você de frente. A gente nunca vai trair o cara. Ele sabe disso. E a gente blinda, a gente blinda legal essa porra aí. Espertalhão não vai se criar com a gente", disse o ex-assessor de Flávio nos aúdios obtidos pela Folha.Queiroz e Flávio Bolsonaro passaram a ser investigados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro depois que o Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) identificou uma movimentação de R$ 1,2 milhão nas contas do ex-assessor de janeiro de 2016 a janeiro de 2017. 

Desde que o caso foi revelado, Queiroz teve raras aparições públicas. A defesa dele disse a Folha que ele está em São Paulo desde dezembro do ano passado para o tratamento de um câncer. 

Jair e Flávio Bolsonaro afirmam que não conversam com Queiroz desde que a atípica movimentação financeira do ex-assessor veio à tona, no fim de 2018. 

Os promotores do Gaecc (Grupo de Atuação ao Combate à Corrupção) apuram possíveis práticas de lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro no período em que foi deputado estadual.

Nos áudios, Queiroz também demonstra acompanhar de perto o noticiário sobre o mandato do presidente e ter sugestões para o antigo amigo. Ele afirma que o presidenta da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), "está esculachando". “Estão fazendo chacota do governo dele. Rodrigo Maia está esculachando. Rodrigo Maia… As declarações dele humilha [sic] o Jair. Jair tinha que dar uma porrada nesse filha da p.... Botar o [ministro da Justiça] Sergio Moro para ir no calço [sic] dele. Tem p.... na bunda dele aí, antiga”, afirmou Queiroz, em março.Dias antes, ele reclamou da superexposição do presidente nas redes sociais. “Tem que falar com ele para parar com esse lance de Twitter. Tá pegando mal pra caralho. Ciro botou agora: ‘Elegeram um garotinho de 13 anos twitteiro.’ Aí vem um milhão de comentários. ‘Tem garoto de 13 anos mais inteligente’, não sei o quê. Focar no governo e esquece essa porra de internet de lado. Ta pegando mal”, sugeriu o ex-assessor de Flávio também em março.

Ele também lamentou não poder mais atuar em favor da família, em razão da exposição de seu nome e figura nas investigações. “Se eu não estou com esses problemas aí, cara, a gente não é de bobeira, não ia ter que fazer muita coisa com eles lá em Brasília, podia estar igual a você andando. Dava para investigar, infiltrar, botar um calunga no meio deles entendeu? Para levantar tudo. A gente mesmo levantava essa parada aí”, disse ele em julho, sem especificar no áudio sobre qual tema iria atuar.

Outros áudios No último dia 24, outros áudios do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro também foram vazados, desta vez para O Globo. Neles, Queiroz aparece comentando sobre indicações para cargos no Congresso.

De acordo com a publicação, a mensagem foi enviada por Queiroz em junho - seis meses depois que o Estado de S.Paulo revelou que o ex-assessor foi citado em relatório do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf, agora Unidade de Inteligência Financeira) por movimentações atípicas em sua conta.

"Tem mais de 500 cargos, cara, lá na Câmara e no Senado", diz Queiroz no áudio. "Pode indicar para qualquer comissão ou, alguma coisa, sem vincular a eles em nada. '20 continho' aí para gente caía bem pra c*".

Queiroz cita o gabinete de Flávio. "O gabinete do Flávio faz fila deputados e senadores lá para conversar com ele. Faz fila. É só chegar: 'meu irmão, nomeia fulano para trabalhar contigo aí'. Salariozinho bom, para a gente que é pai de família, p* que pariu, cai igual uma uva".

Outro lado Procurado pela Folha, o advogado de Queiroz, Paulo Klein, disse que o áudio em que seu cliente fala sobre voltar ao diretório do PSL diz respeito, apenas, a uma conjectura baseada na experiência que ele detém. "É fruto do capital político que [Queiroz] amealhou legitimamente, em razão de sempre ter pautado sua atuação dentro da ética e sem ter cometido qualquer crime", afirmou. 

A Presidência da República disse que não comentaria o caso. 

Em nota, o advogado de Flávio Bolsonaro, Frederick Wassef, afirmou que não pode confirmar a autenticidade do material sem ter tido acesso aos áudios na íntegra. Ele disse que só poderá se manifestar se souber a origem das gravações, o interlocutor, o contexto e o período em que as afirmações foram feitas.