'Quem matou Márcio já tinha a ideia de matá-lo', diz tio do empresário espanhol

Márcio foi morto em perseguição policial em Armação; tio gravou entrevista

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  • Jorge Gauthier

Publicado em 27 de setembro de 2018 às 22:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

“O que está claro é que as pessoas que mataram Márcio já foram com a ideia de matá-lo”. Com essas palavras, o tio do empresário Márcio Pérez Santana, 41 anos, José Antônio Santana, desabafou sobre as recentes notícias sobre o caso, em uma entrevista ao jornal espanhol La Voz de Galicia, na manhã desta quinta-feira (27). 

Márcio foi morto com um tiro na nuca, durante perseguição policial no bairro de Armação, na semana passada. Na última terça-feira (25), o promotor designado a acompanhar o caso pelo Ministério Público do Estado (MP-BA), Davi Gallo, afirmou que a ação policial foi uma execução.

Em um vídeo gravado na redação do jornal La Voz de Galícia, José Antônio Santana citou as declarações do promotor e contou que um advogado da família também está cuidando dos processos, “para que se esclareçam os fatos”. 

“Esses desgraçados (os policiais militares), se forem capturados, para mim, particularmente, em nome da minha família, que estes senhores (os promotores do MP) façam com eles o que consideram justiça. O que nos preocupa é o futuro das filhas dele, que têm toda uma vida adiante e que ficaram sem um pai. Esperamos que tanto o governo espanhol quanto o governo brasileiro não percam de vista essa circunstância, que é muito importante”, afirmou.

Baseando-se na autópsia, em vídeos e em informações da investigação aos quais a família teve acesso, José Antônio Santana ainda destacou que Márcio foi atingido por uma bala na cabeça e uma no braço, mas ninguém sabe dizer quais foram as causas. Para ele, saber o que motivou esses tiros seria o “x” da questão para esclarecer o crime. “Márcio era uma pessoa muito querida em toda a colônia espanhola. Ele tinha duas filhas, uma de 9 anos e outra de 13, e era realmente o pai que se responsabilizava pelo sustento dessas meninas, pela educação dessas meninas e pela vida dessas meninas”, disse. Confira o vídeo da entrevista (em espanhol)

Entenda o caso De acordo com testemunhas, Márcio, que estava acompanhado de uma mulher, foi baleado próximo da porta de casa, pouco depois das 22h. Ele manobrava o carro para estacionar, quando foi surpreendido por uma viatura da 58ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Cosme de Farias) que estava com os faróis e giroflex desligados. 

"Eles chegaram armados dizendo: 'Desce, desce'. Mas acho que Márcio não viu que eles eram policiais e tentou escapar e os caras começaram atirar e um tiro atingiu a nuca dele", disse uma mulher, amiga da vítima.

Na ocasião, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) informou que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apura em conjunto com a Corregedoria da Polícia Militar a morte de Márcio. "Vamos investigar com celeridade e esclarecer como o fato ocorreu", afirmou, na nota, o secretário da Segurança Pública, Maurício Teles Barbosa.

Na última terça-feira, o promotor Davi Gallo afirmou, em entrevista ao CORREIO, que ainda aguarda o envio do depoimento dos policiais feito no Corregedoria da Polícia Militar, instituição que está à frente das investigações. No entanto, ele adiantou que as circunstâncias apontam fortemente que teria sido uma execução.

No mesmo dia, o corpo do empresário foi enterrado em Ponte Caldelas, província de Pontevedra, na Espanha, onde Márcio nasceu - e onde moravam os pais da vítima.

Registro A TV Bahia e o CORREIO tiveram acesso ao registro feito pelos militares após o assassinato, onde eles explicam o que aconteceu naquela noite. Segundo o registro, os PMs foram abordados por pessoas próximo ao antigo Centro de Convenções, por volta das 23h. Elas contaram que homens em um carro branco, modelo Fiat Palio, estavam realizando assaltos na região. Os policiais teriam identificado um veículo suspeito alguns metros à frente e ligaram a sirene da viatura, pedindo que o motorista parasse.

Ainda segundo o relato dos militares, quando os homens no veículo perceberam a presença dos policiais atiraram contra a viatura e tentaram fugir, o que deu início a uma perseguição com tiroteio. Os policiais contaram que o carro de Márcio surgiu no meio da confusão, em alta velocidade e colidiu no canteiro central.  O caso foi registrado na 9ª Delegacia (Boca do Rio).