'Quem vai ficar no lugar dele agora?', lamenta filha de taxista morto no Barbalho

Motorista de 78 anos, que fazia ponto na Barra, foi arremessado do próprio táxi, um veículo Prisma, na Rua Artur Cesar Rios

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  • Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2017 às 12:22

- Atualizado há um ano

Foto: ReproduçãoManuel dos Reis Alves, 78 anos, vivia para o trabalho e amava a profissão de taxista - que atuava havia cerca de 50 anos. Ele foi morto na tarde desta terça-feira (13) e teve o corpo arremessado do próprio táxi, um veículo Prisma, na Rua Artur Cesar Rios, no Barbalho. Os bandidos fugiram levando o carro. Inconformados, familiares estiveram na manhã desta quarta-feira (14) no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) para cuidar da liberação do corpo e organizar o sepultamento do motorista, marcado para às 16h30 de hoje, no Cemitério Jardim da Saudade, em Brotas.

"Como eu fico agora, filho? Sem pai? Quem vai ficar no lugar dele agora? Por quê isso?", disse a filha mais velha, Fátima Alves, 56. Consolada pelo filho, ela andava de um lado para o outro no IMLNR, implorando para ver o corpo do pai. Manuel morava em Pernambués, começou a rodar táxi no Campo Grande e, há 40 anos, fazia ponto no Hotel Monte Pascoal, na Barra. "Ele não rodava na rua, costumava sair de casa para pegar pessoas com as quais ele já tinha uma relação. Os clientes desse hotel, por exemplo, chegavam em Salvador e já ligavam para ele", relata o genro da vítima, o comerciante Almir dos Santos, 54. Ainda conforme Almir, o sogro não trabalha à noite e costumava sair de casa às 9h. Ao meio-dia, retornava para almoçar com esposa e filhos, com quem morava."Especificamente ontem [dia do crime], ele saiu para levar a nora dele no Hospital Roberto Santos, no Cabula, por volta de 13h. Ficou combinado dele voltar para casa, descansar e esperar o retorno dela, pois tinham um compromisso marcado às 16h. Acreditamos, então, que alguém botou a mão ainda dentro do hospital, e ele acabou parando", relata Almir, acrescentando o fato da vítima ter sido arremessada às 13h45. 

O comerciante contou ao CORREIO que o carro de Manuel foi encontrado esta manhã, na região da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), na Cidade Baixa. As chaves do veículo, porém, não foram encontradas. "Aparentemente, está tudo normal com o carro. Mas não tivemos acesso à parte interna, pois estava trancado".

O veículo foi encaminhado para o pátio da Delegacia Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFR), na região do Iguatemi - onde deve ser periciado. O taxista havia adquirido o veículo há cerca de três meses, segundo o genro, pouco antes de ser submetido a uma cirurgia de apendicite. "Nós relutamos para convencê-lo a não mais trabalhar, mas infelizmente não conseguimos. Ele não tinha essa necessidade financeira, a família tem estabilidade", afirmou."Muito tranquilo, um homem de bem. Vivia para o trabalho e para a família. E é isso o que os nossos governantes querem, que a gente morra trabalhando", reclamou um parente do taxista. "Ele foi estrangulado, um senhor idoso. Essa pessoa não é gente, é monstro", completou outro familiar que preferiu não se identificar. Manuel deixa sete filhos.

ReaçãoPara a família do idoso, Manuel dificilmente teria reagido a um assalto. "Sinceramente, eu não acredito em uma reação. Mas é aquela coisa, a gente não estava lá para saber. A única coisa que sabemos é que ele tinha uma estrutura física muito frágil, não oferecia qualquer risco a esses bandidos. Tanto, que nem usaram arma, utilizaram a própria mão", pondera. Por meio de sua assessoria, a Polícia Civil informou que, embora houvesse sinais de estrangulamento no corpo do taxista, apenas os laudos periciais podem comprovar a natureza dos ferimentos.  A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, na noite de ontem, que determinou empenho e celeridade na apuração do caso.

O crimeEm nota, a Polícia Militar informou que policiais da 2ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/ Barbalho) estiveram no local, mas já encontraram a vítima sem vida. Os militares isolaram a área e aguardaram a chega dos peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT).  

Manuel apresentava uma pancada na cabeça e tinha marcas de sangramento no pescoço compatíveis com estrangulamento. As testemunhas contaram aos policiais que dois homens teriam participado do crime. De acordo com o delegado Getúlio Machado, da Delegacia de Furtos e Roubos a Veículos (DRFV), o táxi foi encontrado hoje pela manhã na Av. da França, próximo aos portões da Companhia das Docas da Bahia (Codeba).

Ainda conforme o delegado, o automóvel foi encontrado em bom estado. O veículo está fechado, aguardando a família levar a chave para que a polícia possa fazer a perícia e constatar se há algum material no interior do táxi. O crime está sob investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

O presidente da Associação Geral dos Táxis (AGT), Denis Paim, disse que a instituição está acompanhando o caso. "Ele era um taxista que foi vítima de latrocínio, ou seja, foi um roubo seguido de morte. Ele foi arremessado do carro. Não sabemos ainda aonde ele pegou o passageiro, mas o crime aconteceu no Barbalho. Vamos aguardar mais informações da polícia, mas faremos uma carreata depois do enterro", disse.