Quer trabalhar com vinhos? Inspire-se na trajetória destas 6 brasileiras

Elas atuam em áreas diferentes mas dizem que estudo é fundamental

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  • Paula Theotonio

Publicado em 27 de março de 2021 às 16:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: foto/Unsplash

O mundo dos vinhos, do consumo ao mercado de trabalho, é historicamente dominado por homens. E, por muito tempo, a ausência de uma referência feminina na enofilia ou de mulheres atuando nesta área fez com que muitas de nós não nos interessássemos pelo tema. Sempre eram casos à parte, histórias distantes e inacessíveis.

Mas o cenário tem mudado nos últimos 10 anos. O interesse pela bebida tem crescido — teve até um boom no consumo entre mulheres na pandemia, segundo dados da Wine Intelligence. No Brasil, elas vêm ocupando cada vez mais cargos de liderança nas áreas de serviço, gestão, enologia, comunicação, educação e vendas; construindo trajetórias ímpares e inspirando outras profissionais pelo caminho.

Inspirada pela série de posts sobre Vinho & Mercado de Trabalho trazida pela sommelière Jéssica Marinzeck e pela campanha “Minas que Resolvem seu Vinho”, iniciada pela também somm Gabi Frizon, decidi abrir espaço para que 5 mulheres admiráveis deste segmento contassem suas trajetórias. E, ainda, dessem dicas de como chegar lá. Confira:

1. COMUNICAÇÃO: Paula Daidone, sommelière e comunicadora de vinho na Wine

"O mercado do vinho é bem amplo e há diversas possibilidades. Inclusive de mesclar duas profissões. E foi exatamente o que aconteceu comigo. Eu me formei em jornalismo e fui dona de uma agência de comunicação especializada em vinhos e gastronomia por 12 anos.

Há quatro anos, decidi me aprofundar no estudo técnico da bebida. Fechei minha agência e me mudei para a Europa. Morei lá por 2 anos e escolhi temas de aprofundamento que faziam mais sentido para o meu objetivo profissional, que era continuar trabalhando com comunicação. Hoje, sou responsável pela produção e revisão de conteúdo técnico da Wine. Passo o dia pesquisando sobre legislação das denominações de origem, características climáticas, técnicas de harmonização…E esse conteúdo também é aplicado nas atividades técnicas de sommelier que também desenvolvo na empresa.

A palavra de ordem é ESTUDO. Escolha o que estudar de acordo com seus objetivos profissionais. Você pode unir os seus conhecimentos adquiridos à sua atual profissão e encontrar um espaço no mercado em áreas correlatas, como importação e exportação, logística, arquitetura, marketing."

 2. SOMMELLERIE:  Cibele Siqueira, sommelière da Wine

"Para mim, tudo começou como um hobby, mas confesso que não imaginava que ia trabalhar com vinho. Mas a paixão foi tanta que transformou minha vida. Eu me vi, ali, largando uma empresa da família para finalmente ter minha carreira como sommelière.

Ser sommelier é degustar vinhos, é julgá-los dentro da sua proposta, é entender harmonização, história, produzir conteúdo, dar treinamentos. E tudo isso, claro, com sorriso no rosto de quem ama a profissão e com “brilho nos olhos” para passar essa paixão para os outros. Para estar nesta profissão é preciso muita dedicação, estudo, estar ligado nas novidades desse mundo do vinho, pois é bem dinâmico. Tem que ser bom em serviço, entender sobre regiões produtoras e também compreender pessoas! Isso mesmo, pessoas! Tem que saber qual o melhor vinho para indicar de acordo com o perfil de cada um.

Hoje, vejo muitos que colocam o paletó e já se acham autoridade no assunto. Para mim, o segredo é dedicar-se aos estudos, fazer cursos, livros e também ter humildade, não deixar o ego gritar. Eu sempre indico cursos como ABS, Senac, Fisar e os WSET".

 3. EXPORTAÇÃO:  Rosana Pasini, proprietária da The Forties International

"Minha carreira no comércio internacional começou há mais de 20 anos no setor moveleiro, mas foi em 2008 que entrei no mundo do vinho como gerente de exportação de uma grande vinícola brasileira. Na época, 13 anos atrás, ninguém sabia que o Brasil fazia vinhos e foi um grande desafio.

Hoje, tenho certeza que a persistência fez a diferença: conseguimos exportar para os 5 continentes, entramos nas principais redes de supermercados e de vinhos do mundo e tivemos críticos internacionais diversos falando dos vinhos e espumantes brasileiros. Durante minha trajetória, assumi também a exportação de vinhos de uma vinícola no Uruguai para o Brasil, que acabou liderando por anos a venda de rótulos uruguaios para o mercado brasileiro. A empresa ganhou o prêmio exportação RS por 6 anos consecutivos e fui profissional destaque Wines of Brasil por 2 anos consecutivos.

Em 2021, abri minha própria empresa, The Forties International, que auxilia vinícolas brasileiras em seu ingresso no mercado internacional e, ainda, ajuda importadores brasileiros a encontrarem bons fornecedores de azeites e vinhos.

Tenho certeza que o sucesso da minha carreira foi nunca duvidar que era possível. Minha dica para quem deseja seguir este caminho é, a princípio, enxergar o mercado internacional como estratégia a longo prazo, com investimento para entrar e investimento para manter o produto em alta. Em seguida, definir países-foco e jamais desistir no primeiro não".

 4. DISTRIBUIÇÃO:  Thayssa Moraes, gestora comercial Nordeste da Cantu Importadora

"Entrei nesse universo do vinho por acaso e, confesso, não saio mais. Sou publicitária de formação e sempre atuei na área comercial. Após uma experiência apaixonante em uma indústria de destilados à frente das regiões Norte e Nordeste, comecei a trabalhar na Cantu Importadora.

Entrei na empresa mesmo sem nenhuma experiência no mundo do vinho, a não ser minha vivência como consumidora interessada e curiosa, e desde então tem sido uma constante descoberta e aprendizado. Não é um “ensino barato” e nem fácil, pois para obter conhecimento é importante degustar as milhares de possibilidades disponíveis em todo mundo. Mas é claro que nem tudo é um mar de rosas. O mercado do vinho, assim como inúmeros outros, ainda é muito machista. Sofri várias vezes com pessoas duvidando da minha capacidade por ser mulher e relativamente jovem para o trabalho — empecilhos que ultrapassei às custas de muito trabalho duro e horas de estudo.

Tenho dificuldade com minha insegurança em relação ao conhecimento, mas nada que desestimule ou atrapalhe a jornada. Ao contrário: faz com que ela pareça ainda mais interessante e atraente. Aquela frase clichê de Confúcio — “Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida” — é exatamente como me sinto, imersa nesse encantador mundo dos vinhos".

 5. ENOLOGIA:  Eloiza Teixeira, enóloga da Vinícola Terranova (Miolo Wine Group)

“A verdade é que eu tinha escolhido outra profissão antes de me tornar enóloga. Achava que seria chef de cozinha! Mas tive que terminar o bacharelado para conhecer a Enologia e descobrir que seria muito mais divertido seguir esta outra profissão.

Fui para Portugal estudar e, lá, descobri que era possível trabalhar em diversos lugares do mundo fazendo vinho e ganhando dinheiro com isso. Ainda na faculdade em Portugal, estagiei em vinícolas locais e nos EUA. Passei pelo Chile, Argentina, Austrália... Sempre na cantina, sempre perseguindo vindimas. Pensava em continuar viajando, mas não conhecia nada sobre o vinho brasileiro. Em 2014, fiz um estágio numa vinícola no Brasil e achei que fosse mais uma passagem. Fui contratada e transferida para outra unidade do grupo, na Bahia, que me surpreende a cada dia. Descobri que o vinho é feito por pessoas simples, humildes, às vezes nunca beberam vinho! Descobri que o vinho agrega, o vinho transporta, o vinho faz companhia. Fazer vinho não é fácil, mas ninguém me disse que seria diferente.

Crescer profissionalmente, definitivamente, é como uma construção: base e alicerce profundos e ir subindo as paredes com segurança. Um degrau por vez. Sucesso é consequência. Ter pessoas curtindo e apreciando um vinho que você fez é o melhor reconhecimento. Acima de tudo, sempre aprender e gostar muito do que faz".

 6. IMPORTAÇÃO: Juliana La Pastina, presidente da World Wine (Grupo La Pastina)

"Obviamente, ter nascido em meio a este universo maravilhoso da enogastronomia fez com que a paixão pelo vinho estivesse em meu DNA antes mesmo de eu provar a primeira taça. Foram anos de dedicação e estudos, e, ainda muito jovem, ingressei no Grupo La Pastina para poder entender todos os processos e as necessidades de cada área.

Construí minha carreira no marketing e fui responsável pelo rebranding da World Wine, assim como de todo o processo de transformação digital da empresa, o que nos deixou numa vantagem impressionante no início da pandemia. Há 3 anos me tornei vice-presidente do grupo e passei por um intenso processo de imersão, sobretudo nas operações de importação e compras. Foi o que me preparou para assumir a presidência — ainda antes do previsto — e seguir com o plano de expansão da rede, que fechou 2020 com 5 novas unidades e que este ano deve ganhar mais 5. Hoje, carrego o legado de minha família, que é um legado de trabalho e muita paixão por cada vinho que faz parte de nossa história. E sigo olhando para o futuro, numa busca incessante por inovações.

Como dica para quem deseja crescer neste segmento: o mercado de vinhos está em constante transformação, sobretudo do ponto de vista da tecnologia da informação. Da mesma forma que o conhecimento sobre o vinho em si é infinito. Portanto, estudar (e muito) faz parte da fórmula do sucesso. E, claro, é preciso ter paixão".