Queremos pagar a conta de luz

Luis Antonio Gomes é professor e escritor

  • D
  • Da Redação

Publicado em 12 de julho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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 Se tem uma conta que é mais paga no Brasil é a de energia, a popular ‘conta de luz’. Algo tão necessário na rotina dos brasileiros que se houver algum imprevisto, isto é, o não cumprimento da obrigação, a companhia de energia elétrica suspende os serviços.

Todos os meses, a fatura em forma de nota fiscal chega às residências com alguns dias de antecedência do vencimento, diga-se de passagem. Para alguns consumidores, essa preocupação quase que não existe por conta de pagarem com o débito automático em conta-corrente ou utilizarem o aplicativo em seus aparelhos smartphones. Mas a grande parte da população precisa ir às filas para quitar a fatura e, nos últimos dias, no estado da Bahia está mais complicado cumprir esse compromisso.

Depois que foi encerrado o convênio da Coelba com a Caixa Econômica Federal devido ao aumento nas taxas da referida instituição bancária cobradas à companhia de energia elétrica, a situação da população, principalmente as de classe mais baixas, ficou muito complicada. As agências lotéricas eram os lugares mais utilizados por todos para efetuarem esse pagamento mensal.

A Coelba explica em seu site oficial que há mais de “700 estabelecimentos credenciados em todo o estado da Bahia” como opções de locais de pagamento, com o objetivo de facilitar a vida dos clientes. O que, na prática, não está ocorrendo, pois havia mais de novecentas casas lotéricas que aceitavam as contas, além de serem mais acessíveis nos bairros, de fácil acesso, elas também ofereciam vários caixas, o que diminuía o tempo para realizar a operação. Nessa conta, com a mudança, o que aconteceu foi uma diminuição dos pontos de pagamento.

Para aqueles que têm acesso à tecnologia e a outras facilidades, o que não é o caso da maioria da população, a empresa até oferece algumas alternativas para o pagamento, dentre elas, o débito automático bancário em conta-corrente, home banking; totens em algumas lojas com cartão de débito de apenas uma bandeira; os Correios que trabalham com o Banco Postal; além dos bancos credenciados, que não são os principais que atuam no mercado, e o pagamento por meio de um cadastro no próprio site da Coelba. Mas, mesmo assim, está muito difícil para aqueles que querem pagar as suas contas em dia e que não têm acesso a esses canais de pagamento.

Os transtornos são evidentes. Há relatos de consumidores que enfrentaram até oito horas em uma fila; de mais de cem pessoas na fila; de locais que têm limite de recebimento; de locais que estão cobrando taxa para receber a conta – o que não é utorizado pela Coelba – e, sem contar, a quantidade de idosos que estão tendo que ficar expostos ao sol ultrapassando, algumas vezes, o horário de almoço e até mesmo em situação de perigo ao ficarem sujeitos à insegurança de algumas esquinas e ruas durante as filas com valores em mãos.

Há bairros em Salvador que não têm postos credenciados para efetuar o pagamento da fatura da conta de energia e em outros bairros têm apenas um posto de recebimento. No interior do estado, a situação é complicada também, pois tem gente que precisa se deslocar de uma cidade até outra para pagar uma conta de energia. E, é claro, isso tem um custo, no mínimo o transporte. Sem se falar no tempo que muitos estão perdendo em uma fila.

Acompanhando as excelentes matérias da TV Bahia nos últimos dias, tanto no Jornal da Manhã como no Bahia Meio Dia, em que destaca o assunto de forma direta, com os profissionais indo in loco verificar o que está acontecendo na cidade e no interior, este que vos escreve ficou indignado em perceber que as autoridades estão assistindo a tudo isso indiferentes e com uma incrível distância do problema da população.

Vamos aguardar o que acontecerá nos próximos dias. O Ministério Público já notificou a Coelba. E a Caixa Econômica Federal? Um banco público que deveria ter preocupação com os que precisam e poderia abrir mão um pouco de seus lucros. Ela tem responsabilidade também e é a parte principal na solução deste problema.

Enquanto isso, a grande parte da população continuará sofrendo para pagar a conta de energia, cumprirá a obrigação mensal e vai esperar que as duas empresas entrem em acordo. Até quando?

Luis Antonio Gomes é professor e escritor