Reconhecido pelo trabalho em Frases de Mainha, Sulivã Bispo quer mais

Com personagem, ator baiano chegou ao Prêmio Multishow de Humor; para o segundo semestre, ele planeja um espetáculo e novos vídeos no canal

Publicado em 28 de junho de 2017 às 09:19

- Atualizado há um ano

(Foto: Betto Jr./ CORREIO)Desde que começou a fazer a websérie Frases de Mainha, há um ano, o ator baiano Sulivã Bispo, 24 anos, viu sua vida mudar. Mesmo sem a caracterização espalhafatosa da personagem, por onde passa ele é reconhecido como a mãe do “sonso e espótico” Júnior. “Eu não sei mais o que é ir na padaria comprar um pão sem ouvir um grito”, conta.Agora, Mainha deve começar a alcançar um público ainda maior. Afinal, foi com ela que Sulivã chegou ao Prêmio Multishow de Humor, que busca revelar os novos nomes do humor brasileiro. Em sua sexta temporada, o programa que estreou no último dia 12 de junho conta com a participação de 28 humoristas de todo o Brasil. Único baiano da edição, Sulivã só conseguiu chegar à metade da competição - que tem um total de 20 episódios exibidos de segunda a sexta, sempre às 23h15. Na última sexta, ele foi eliminado pelo júri formado por Bento Ribeiro, Dani Valente, Marcelo Marrom, Natália Klein e Sergio Mallandro.Na primeira participação no programa, ainda na fase classificatória, as expressões cheias de baianidade de Mainha dividiram espaço com as referências geográficas do Rio de Janeiro. Em vez de falar da Liberdade, Ribeira, Itapuã, Sulivã apostou em aproximar seu personagem dos cariocas e citou bairros como São Gonçalo e Campo Grande.A capacidade de improviso e a atuação foram motivos de elogio do jurado Marcelo Marrom que, antes de fazer o comentário, pediu a bênção a Mainha. “Sua bênção! Eu acho que você realmente arrebentou. Personagem incrível, adorei te ver assim cara, você é um belo ator”, comentou, ao que Mainha rebateu com total desenvoltura, arrancando risos da plateia e dos jurados: “Ave Maria, eu só posso lhe dizer o quê? Eu só posso lhe dizer o quê? Muitcho obrigada!”.Oxe, volte aíPara Sulivã, o reconhecimento do canal, que já acumula milhares de seguidores, se deve ao carinho, amor e respeito com que tudo é feito. “Tem pessoas que chegam pra falar com a gente pulando no cangote, e, às vezes, rola aquele susto (risos). Só que ao mesmo tempo a gente fica muito feliz, porque a gente percebe que não tem dimensão da grandiosidade do que a gente faz, de como as pessoas realmente se sentem identificadas”, afirma. Para ele, a grande mensagem do projeto é o respeito aos mais velhos. Com mais de 100 mil inscritos no YouTube e mais de 320 mil seguidores no Facebook, o canal Frases de Mainha traz frases clássicas que só a entonação de uma mãe pode dar o real (e desesperador) sentido para quem as ouve: os filhos (Foto: Reprodução/ YouTube)Quem o vê tão desenvolto nos improvisos pode pensar que a experiência de Sulivã com o humor ultrapassa o único ano no qual ele tem se dedicado a coletar as frases típicas de mães baianas na lida diária com os filhos. Tudo começou quando a página Frases de Mainha, no Facebook, decidiu ir além dos cards e começar a fazer vídeos. Caio Cezar, um dos autores do projeto, convidou Thiago Almasy para interpretar o filho, que depois passou a se chamar Júnior, e foi o próprio Thiago quem indicou Sulivã para dar vida à mãe. Na época, Sulivã trabalhava como técnico de vestuário e se dividia em muitas outras atividades, algumas exercidas ainda hoje por ele.DramaFormado em Teatro, Sulivã não se classifica como humorista, mas como ator. Foi nos palcos que ele deu vida a personagens nada cômicos como os do espetáculo Kaiala, que fala sobre assassinato de uma adolescente dentro de um terreiro de candomblé. Na peça, ele interpreta a avó e o irmão de santo da jovem assassinada, além de uma evangélica.Kaiala conta a história de uma menina assassinada dentro de um terreiro de candomblé, a partir de três pontos de vista: o da avó, do irmão de santo e de uma evangélica. Espetáculo volta a ser encenado neste segundo semestre em Salvador(Foto: Andrea Magnoni)Junto às atuações nos espetáculos Rebola! e Romeu & Julieta, Kaiala lhe rendeu a indicação à categoria de Melhor Ator no Prêmio Braskem de Teatro deste ano. “Fui indicado por três trabalhos totalmente diferentes e vi o Teatro Castro Alves inteiro aplaudindo e gritando meu nome. Mesmo não tendo levado o prêmio, foi muito gratificante ver aquela reação”, lembra.

A trajetória de Sulivã no teatro começou no grupo Por Acaso e no Bando de Teatro Olodum. De lá para cá, trabalhou em outros espetáculos como Compadre de Ogum, que lhe rendeu uma indicação ao Braskem como Revelação em 2015, A Lenda das Yabás, Delicado e o musical Playgrude. É que ele também canta. “Sou nascido e criado no Curuzu, moro ao lado do Ilê Aiyê”, diz. Criado por mulheres fortes, Sulivã carrega uma série de influências femininas e ancestrais. “Meu laboratório enquanto ator é diário. Sou cercado de referências por conta das mulheres da minha vida, dos meus mais velhos”, destaca. Por isso, ele acredita que cada um dos personagens a que deu vida até hoje conta um pouco da sua história pessoal, de homem negro, gay e do candomblé. “O domínio da branquitude é tão grande que em uma cidade como Salvador, a gente ouve que não tem ator negro para fazer tal espetáculo. O privilégio por uma atuação naturalista pretere os atores negros, que são polifônicos em essência: cantam, dançam, atuam, conseguem ir do popular ao erudito”, afirma.Sulivã também tem uma “drag queen preta, com nome, sobrenome e um vasto legado cultural” para chamar  de sua. Koanza Auandê foi uma personagem criada para o espetáculo Anoitecidas, mas segue sendo montada em outras ocasiões (Foto: Divulgação)Dos palcos para a TVA  experiência no Prêmio Multishow de Humor é a primeira na televisão. Para quem começou nos palcos e virou youtuber sem nem mesmo saber que isso significava exatamente, a TV  impressiona. “Quando cheguei, fiquei muito impressionado com tudo. A gente brincou que, durante as cerca de três semanas que estivemos lá para gravar, estávamos confinados em uma espécie de Big Brother”, compara, sem deixar de fazer graça com o fato de o sulista adorar um ar-condicionado. “ Lá em São Paulo, o povo adora um ar-condicionado, tem até no banheiro, sua urina já sai gelada. Eu destesto”, afirma aos risos.Outro aspecto ressaltado por Sulivã no que diz respeito ao audiovisual é sua capacidade de marcar um personagem. “O audiovisual marca muito e a comédia já traz uma proximidade a mais. As pessoas me confundem com Mainha e eu me identifico com ela porque ela é muito expressiva, um furacão, mas assim como Lázaro Ramos não é lembrado só como Madame Satã ou como Foguinho, também sou outras coisas”, lembra. Para o segundo semestre, Mainha planeja novos episódios no canal e um espetáculo para chamar de seu.