Refugiado senegalês estreia como modelo no Afro Fashion Day 2018

O evento em homenagem ao Dia da Consciência Negra acontece às 18h deste sábado (24), no Museu du Ritmo

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  • Da Redação

Publicado em 23 de novembro de 2018 às 15:45

- Atualizado há um ano

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Nascido em Orefonde, vilarejo a 600 quilômetros de Dakar, capital do Senegal, na África, Abou Ousmane (@abufrica), 27, chegou ao Brasil em 2014 com o sonho de melhorar de vida. Entrou na América do Sul pelo Equador, depois passou pelo Peru e pelo Acre e chegou a morar nas ruas de São Paulo. Ele vai ser uma das estrelas da passarela do Afro Fashion Day, projeto do CORREIO que celebra o mês da Consciência Negra. O evento acontece às 18h deste sábado (24), no Museu du Ritmo, com entrada gratuita que pode ser garantida pelo link bit.ly/AfroFashionDay2018.

"Ter um refugiado na passarela reafirma o compromisso do AFD com a diversidade e com a inclusão", afirma Gabriela Cruz, curadora do Afro Fashion Day. Para a Acnur, agência da ONU para refugiados, a definição de refugiado é vinculada a temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, ou características de crise humanitária, como fome generalizada e a ausência de acesso a medicamentos. De acordo com os dados da Polícia Federal, em 2017, o Senegal foi o sexto país com maior número de refugiados no Brasil, com 1.221 pedidos, atrás apenas de Venezuela, Cuba, Haiti, Angola e China. Abdou chegou ao Brasil com esperança de ter uma vida melhor. Foto: Tiago Lima/Divulgação Morando na Bahia desde o início do ano, ele descobriu o amor por Salvador, pela esposa baiana e pela nova profissão, a de modelo. Abou cresceu no interior do Senegal, numa família de agricultores. Aos 17 anos, após a morte do pai (um imigrante francês), mudou-se para Dakar.

Na capital do país africano, montou uma loja de venda de uma bebida a base de leite. Foi quando se interessou pelo Brasil. “Ouvi falar que o país estava em um bom momento econômico. Então, em 2014, cheguei como refugiado”, conta.

Seu primeiro destino foi Quito, no Equador, país cujo acesso de cidadãos do Senegal não depende de visto. Passou por Peru e Acre, onde morou num acampamento de refugiados até conseguir documentação para ir para São Paulo. No Sudeste, o senegalês sofreu um bocado, mas enxerga o lado bom até de ter morado na rua. “Foi onde aprendi tudo. Cheguei sem falar português, só falava francês. Conheci pessoas legais no Sesc Pompeia e fiz muitos amigos. Trabalhei em restaurante, obra, bar...”, diz. Senegales encontrou o amor e a felicidade na Bahia. Foto: Tiago Lima/Divulgação No país, ele conta que sofreu com o racismo. “Senti preconceito por ser preto e africano. Mas ocorre em qualquer lugar do mundo. Sempre foi assim. Quando pego metrô, todo mundo tem medo, fica assustado, guarda a bolsa. O ônibus não para no ponto. Na rua, com minha bicicleta, a qualquer hora a polícia me enquadra”, lamenta.

Cansado, Abou resolveu apostar na moda como estratégia de enfrentamento. “Conversei com um amigo que mora na África e pedi que ele me mandasse trajes tradicionais, feitos à mão, usados só pelos antigos. Quando comecei a usar essas roupas, tudo mudou. Agora as pessoas têm curiosidade, elas querem falar comigo”, comemora.

Nas experiências profissionais, acabou conhecendo e ficando amigo de baianos, que sempre falavam: ‘Você precisa conhecer a Bahia’. Curioso, aproveitou as férias no trabalho da época e veio. Não quis mais ir embora. “Fiquei apaixonado por Salvador. Aqui é parecido com o Senegal. Não só no visual do Centro Histórico, mas nas comidas, tipo acarajé, que têm semelhanças. Fora as pessoas, a quantidade de gente negra circulando”, pontua. E se encantou também com uma moça da Bahia, com quem casou. “Agora, construo a minha vida e família aqui”. Abdou teve diversas profissões antes da carreira de modelo. Foto: Tiago Lima/Divulgação No Brasil, Abou começou uma nova profissão, a de modelo. “Cheguei a fazer fotos e participei da gravação do clipe novo do Baco Exu do Blues. Mas nunca desfilei. Vai ser interessante a experiência”, afirma. Ele fará sua estreia em grande estilo, na passarela do Afro Fashion Day, amanhã. “Soube do Afro através da minha esposa. Um amigo mostrou minhas fotos para a curadora, que viu e me fez uma proposta. Foi uma felicidade o convite, porque é minha cultura, é minha pele. O Afro Fashion é isso: desfile de resistência de pretos”, revela.

O Afro Fashion Day é realizado pelo CORREIO com apoio institucional da prefeitura de Salvador e apoio de Salvador Shopping, Sebrae, Vizzano e Museu du Ritmo. Este ano, vai acontecer no dia 24 de novembro, sábado, às 19h, com entrada franca, no Museu du Ritmo (Comércio).

*Colaborou para o CORREIO