Relação abusiva

Shirley Moraes é psicanalista e hipnoterapeuta

Publicado em 19 de maio de 2018 às 01:18

- Atualizado há um ano

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A mídia tem apresentado diversos casos de relacionamentos abusivos que culminam em graves agressões físicas. Mas,  antes dessas agressões, são praticados atos silenciosos de violência psicológica, como jogos emocionais, manipulação e humilhação. Comumente praticado por homens, o abuso nos relacionamentos é mais comum do que se pensa. De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará,  em parceria com o Instituto Maria da Penha, realizada nas capitais do Nordeste, pelo menos uma em cada quatro mulheres (27%) sofre violência emocional doméstica. Ameaças de abandono, críticas constantes diante de amigos e afastamento da vítima de seus familiares são alguns exemplos de abusos no relacionamento.

Muitas mulheres sofrem a agressão pela primeira vez e perdoam o companheiro, acreditando que ele vai mudar por amor. Elas sempre procuram um motivo para justificar o comportamento do amado para amigos, parentes e para si mesmas. Mas as agressões se tornam mais constantes e voltam, geralmente, de maneira mais violenta. Nesse tipo de relacionamento, o abusador estabelece um vínculo com o abusado e esse vínculo é baseado numa dependência afetiva. Da mesma forma que o abusado é dependente emocional, física, ou mesmo financeiramente do abusador, esse depende da vítima para se sentir seguro e empoderado.

As pessoas se perguntam por que vítimas de relações abusivas demoram tanto tempo para denunciar os maus-tratos, que podem ocasionar, inclusive, homicídios. Isso normalmente ocorre porque a maioria tem vergonha de contar para outras pessoas o que está acontecendo e negam as características controladoras e ameaçadoras do agressor, assim como negam a possibilidade que o relacionamento não dê certo.

Porém, quando uma pessoa tem uma boa percepção de si, de suas limitações e qualidades, ela tem uma alta autoestima e ao se deparar com uma relação abusiva, ela interrompe logo essa relação e não se permite ser agredida por alguém. Quando a autoestima está baixa, o contrário acontece e a tortura, os jogos emocionais e as humilhações passam a fazer parte do cotidiano como algo normal. O abuso não se consolida num primeiro episódio. Ele se constrói de maneira repetitiva e o abusado passa a conceber as críticas como verdade, desacreditando de suas qualidades.

O que fazer para sair de um relacionamento abusivo? Normalmente, aumentar a autoestima é o ponto fundamental. É importante também retomar relacionamentos com a família e amigos, além de tomar as medidas protetivas,  caso necessário.

Apesar de ter tratado mais sobre a questão da vítima, eu gosto de lembrar que tanto ela quanto o agressor necessitam de auxílio, porque ambos têm seus medos, inseguranças e demandas psicológicas que os levaram a agir de tais formas.

Shirley Moraes é psicanalista e hipnoterapeuta