Relato: 'Na volta à Fonte Nova, me senti como uma criança novamente'

Torcedor do Bahia contou ao CORREIO sobre a experiência de acompanhar seu time dentro da Fonte Nova após um ano e sete meses

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  • Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2021 às 08:38

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

Vivia até então uma total falta de interesse sobre o retorno ou não do público aos estádios em Salvador. Depois de um estado de letargia e indiferença, o Bahia anunciou que a torcida estaria de volta à Fonte Nova contra o Palmeiras.

O coração, inexplicavelmente, bateu mais forte. Em alguns minutos, retornei do plano de sócios mais básico para o “acesso garantido”, liberei meus dados de vacinação e corri pro abraço. 

Estava no interior visitando a família neste remendado de fim de semana com feriado, mas o famigerado jogo da volta da torcida me fez mudar os planos e voltar mais cedo de Santo Antônio de Jesus. Precisava pegar a nova carteira de sócio. Dirigi pelas rodovias federais sonhando com cada passo que aconteceria à noite. Da BR-324, fui direto pra Fonte e, mesmo ainda num horário distante do jogo, a energia daquele lugar já transcendia pelo Bahia. O comércio de adereços tricolores aquecido, a turma do churrasquinho preparando a comida, as equipes de operação fazendo as mudanças de logística para o jogo. A esta altura, eu já estava completamente emocionado em viver aquilo. 

Já com a carteirinha na mão, fui pra casa desembarcar da viagem e iniciar o meu protocolo pro jogo contra o time paulista. 

Depois de um bom banho, abri o guarda-roupas e fiquei por alguns minutos escolhendo com qual camisa eu deveria ir para o jogo. Pensei sobre o quanto vestir o manto tricolor vinha perdendo cada vez mais o brilho nessa vida de ver jogos apenas pela TV. Parecia ter se tornado um item opcional. Hoje não. Hoje eu tirei a camisa azul, vermelha e branca do cabide tal qual um super-herói que precisa sair de casa para cumprir sua próxima missão (e talvez seja um pouco disso mesmo).

A duas horas da partida, busquei um amigo e fomos juntos em direção ao estádio. Deixando pra trás a avenida Vasco da Gama, entrei no Dique do Tororó e tudo que aconteceu daí pra frente foi um suco de pura magia.

As luzes da Fonte Nova iluminavam as redondezas, as pessoas caminhavam com suas roupas tricolores e com sorrisos denunciados pelos olhos pequenos acima das máscaras de proteção. Passei pela Ladeira da Fonte das Pedras e fui direto para a entrada do estádio.  Chegando aos corredores do estádio, consegui apenas olhar ao redor, encher os olhos de água e pensar: “como é bom estar de volta”. 

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Falei com alguns amigos, encontrei um bom lugar e passei 90 minutos e uns quebrados admirando aquilo que chamamos de turma tricolor. O jogo foi um detalhe, contando inclusive com um Bahia diferente. Intenso, brigador, imponente e esperançoso. Empatamos o jogo, mas ganhamos muito mais. Ganhamos vida. O Bahia ganhou a sua injeção de vida que estava tão distante ao ponto que tão urgente. 

Senti, entre as emoções, os choros, os xingamentos e gritos, que estávamos todos ali pegando o Bahia no colo e dando o que ele precisava para crescer: sustentação. E nada mais icônico que este jogo de retorno tenha sido no dia 12 de outubro, seja por termos todos cuidado do Bahia como um filho, seja por ter me sentido criança de novo, como se fosse a minha primeira vez frequentando o universo fantástico e emocionante que é a Fonte Nova.

Gabriel Tarrão é administrador e sócio do Esporte Clube Bahia