'Renato Russo: o filho da revolução'

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Publicado em 11 de agosto de 2017 às 15:27

- Atualizado há um ano

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Por Alberto Heráclito Ferreira Capa do livro Renato Russo - O Filho da Revolução, de Carlos Marcelo (Foto: Alberto Heráclito Ferreira)  Acabei de ler o livro “Renato Russo: o filho da revolução”, um trabalho de fôlego do jornalista Carlos Marcelo, em edição revista e atualizada pela Planeta, em 2016. Foi um exercício que demandou anos de pesquisas em jornais, revistas, discografia especializada e muita entrevista com a família, amigos, artistas e empresários da música. Os dois primeiros capítulos são os melhores - enquanto contribuição à história cultural brasileira. O autor traça um retrato muito rico da vida política e cultural do Brasil nos anos de chumbo. E mais: de Brasília e os seu despertar enquanto cidade e o nascimento da sua rebelde juventude de classe-média.

É interessante perceber como se desenvolve, nos play-grounds dos prédios dos eleitos na hierarquia funcional da cidade, nas escolas das elites, nas turmas de zoação e festinhas uma sociabilidade juvenil particular. Entre o autoritarismo do regime militar e a impunidade concedida pelas suas carteiras de identidade especiais, esses filhinhos de papai vão construindo um espaço particular na cena brasileira de fim da ditadura. Filhos de bancários com alto posto (o pai de Renato, por exemplo), diplomatas, militares, altos funcionários da burocracia, políticos, etc, eles estão mais próximos da música inglesa e americana do que do samba das favelas cariocas. E querem delimitar espaço a partir desta diferença.

Consumidores vorazes do rock e da pop music internacionais, eles têm acesso aos melhores produtos da sua safra. Fluente na língua inglesa, geralmente com longas estadas na Europa ou EUA exibidas no currículo, eles começam a construir formas de reconhecimento que os fazem distinguir da cena artística brasileira e muito em sintonia com a ideia de “Brasília cidade do futuro.” Não é à toa que o barulho musical dos grupos e bandas brasilienses, é responsável pela explosão do rock brasileiro da década de 1980: o BRock. E a Meca desse movimento da nova juventude é, claro, a adolescente Capital Federal – mais afinada, è época, com Kurt Corbin do que com a música popular brasileira. 

Do terceiro capítulo em diante – quando o autor começa a tratar da ascensão e da fama de Renato Russo e do Legião Urbana, o texto perde a qualidade dos primeiros capítulos: a relação entre cultura e política. E mais, a própria vida do ídolo pop e as suas questões com drogas e sexo são tratadas de forma muito indireta e superficial. Na minha opinião, o livro perde densidade interpretativa por causa dessas lacunas. Não se pode pensar um ídolo pop, sem pensá-lo enquanto performance, onde vida e arte estão intimamente associadas. 

Pessoalmente acho que a obra de Renato Russo por si só não se sustenta em termos de qualidade artística, se não levarmos em conta o contexto da sua inserção. Com esses melindres, o livro fica mais indicado pra os estudiosos de música brasileira contemporânea – são riquíssimas a informações musicais que o autor nos oferece e a sua influência na obra do Renato. Não se pode pensar o Brasil da abertura e da Nova República sem pensar nessa juventude roqueira e urbana (última tentativa de vanguarda nas artes brasileiras depois do tropicalismo), a "geração Coca-Cola", da qual Renato Russo é um dos nomes mais significativos. Renato morreu em 22 de outubro de 1996, aos 36 anos de idade, em consequência de problemas de saúde oriundos da AIDS. 

O livro encontra-se à venda na Livraria Leitura pela bagatela de 25 reais.

Texto originalmente publicado no Facebook