Representantes de terreiros fazem ato em defesa do Dique

Líderes deixaram de realizar oferendas por conta do mau cheiro

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  • Da Redação

Publicado em 20 de outubro de 2017 às 10:30

- Atualizado há um ano

Adeptos e representantes de 15 terreiros de Salvador estiveram no Dique do Tororó, no início da manhã desta sexta-feira (20), para fazer um apelo em relação à situação do manancial. Eles reclamam que, por conta do mau cheiro, atividades religiosas estão sendo canceladas.

"Nós oferecemos nossas oferendas a Oxum e Nanã que são das águas. Quando fazemos isso, é porque estamos em busca de paz. A água parada para nossa religião significa isso: paz. Impossível ter paz com a lagoa tão suja como está", lamenta o doté Amilton Vodun Zo Dun. (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) Ainda de acordo com ele, a intenção é que, em outro momento, um ato maior possa acontecer para chamar a atenção sobre a preservação das lagoas da cidade. A manifestação ainda não tem data para acontecer, mas, de acordo com um dos organizadores da mobilização, o ogã da Casa de Oxumarê Leonel Monteiro, uma comissão será montada para pensar o próximo ato. 

A ialorixá Maria de Lourdes Lourenzo de Oxum, do terreiro Ilê Axé Ejá Abeokutá, diz que o Dique é a representação viva da entidade Oxum. O local, segundo ela, era utilizado por todos os terreiros da capital baiana. "A gente vem aqui fazer reverência às águas porque é no Dique que está a orixá viva, a mãe Oxum. Eles (orixás) são límpidos. O nosso culto vai nascendo passo a passo e a natureza para a gente tem um valor sagrado. Cabe a todos os representantes das religiões africanas virem defender o culto e os juramentos que fazemos", diz a ialorixá. O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), órgão do governo do estado ligado à Secretaria estadual do Meio Ambiente (Sema), explicou, em nota, que na última análise realizada no manancial identificou valores elevados de fósforo e de nitrogênio, que enriquecem a água, “gerando condições propícias para o crescimento exacerbado de algas, que por sua vez, em processo de decomposição, geram mau cheiro”.

Apesar de fazer anualmente o monitoramento das águas do manancial, o Inema informou que não compete a ele “a responsabilidade sobre o espelho d’água do Dique do Tororó”.

A Secretaria Municipal da Cidade Sustentável (Secis) afirma que a área é do governo do estado, mas a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder) informou que só lhe cabem as áreas do entorno. 

[Atualização: na tarde desta sexta, a Secretaria da Comunicação do Estado (Secom), informou que a Conder já contratou uma empresa para fazer a limpeza do manancial].

A culpa dessa indefinição, segundo o professor Eduardo Mendes, do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), é da falta de políticas públicas para ecossistemas aquáticos em todo o Brasil.

Mau cheiro E para encarar o fedor só mesmo de máscara. E não importa se ela é improvisada, como a do motorista Carlos Machado, 61, que utilizou a própria camisa para fugir da fedentina. Ele, diferente de outras pessoas, encarou o odor de uma forma mais humorada. "Eu acho que todo esse cheiro serve mesmo de anticorpos para alguma doença. Temos que pensar assim porque a situção é complicada", brinca ele.  

A atendente de saúde bucal Cristina Santos, 49 anos, além de apertar o passo, trouxe uma toalhinha que não saiu de perto do nariz durante a sua caminhada matinal no Dique. "Há pelo menos um mês eu vinha percebendo que esse cheiro estava ruim. Agora piorou mesmo", conta a atendente.