Residentes do Goethe, artistas gringas ocupam a Praça do Cacau

As estrangeiras reuniram seus talentos e ofereceram retratos de graça para quem passasse pelo Goethe-Institut

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 25 de novembro de 2017 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

O jeito caloroso dos soteropolitanos e a forma que lidam com a vida - mesmo em tempos difíceis - inspirou a fotógrafa venezuelana Ángela Bonadies, a curadora e escritora grega Marina Fokidis e a compositora e musicista peruana Pauchi Sasaki. O que tanto marcou as artistas estrangeiras invadiu a Praça do Cacau quando elas resolveram se juntar no projeto Agora, no casarão amarelo que sedia o Goethe-Institut, no Corredor da Vitória.  Bolsistas do Programa de Residência Artística Vila Sul do Goethe-Institut, as três gringas que transformaram o local e conseguiram aumentar o convívio e a interação entre pessoas no espaço se despedem da capital baiana hoje, às 19h, no concerto Novíssima Arte Sonora Latinoamericana, que acontece  no Teatro  Goethe. O evento gratuito marca a conclusão do projeto Agora.  Durante o mês de novembro, as estrangeiras reuniram seus talentos e ofereceram retratos de graça para quem passasse pela Praça do Cacau - na área externa do espaço. Também fizeram atividades gratuitas, ouviram histórias e realizaram uma instalação sonora compartilhando os depoimentos de quem se abriu para o projeto. (Foto: Marina Silva/CORREIO) Pode entrar “Desde que chegamos em Salvador, convivemos muito tempo juntas e, como ‘mulheres do Sul’, tivemos a ideia de fazer o projeto”, conta Marina, responsável pela curadoria, concepção e identidade do Agora. O fato da área pública do Goethe - onde elas estão instaladas - não ter muito movimento chamou atenção delas. “Estamos no Corredor da Vitória, uma das mais privilegiadas regiões da cidade - com museus, escolas, centros culturais, residências e todas as formas de serviços e pessoas. A nossa ideia foi trazer algo que estimulasse à convivência, o encontro”, acrescentou.

Veja fotos de toda estrutura da residência artística do Goethe O projeto recebeu o nome de Agora por uma coincidência entre línguas. Na Grécia Antiga, significava um espaço aberto ou assembleia. Em português a palavra refere-se ao momento presente. “Isso  nos faz refletir sobre a necessidade dessas esferas públicas atualmente, nas quais a comunidade, residentes,  privilegiados e não privilegiados possam se reunir e participar de atividades, compartilhando interesses, preocupações e ideias”, explica Marina.  Ela é uma das cinco mulheres que participou do programa neste fim de ano. Marina estudou a obra Glauber Rocha e visitou o Acervo da Laje, em Plataforma. Tudo isso deve inspirar a secção States of Possibilities (estados de possibilidades) em  sua revista bienal: “Meu trabalho aqui focou nas possibilidades que vocês criam em situações críticas. A situação é miserável no sertão e a obra de  Glauber Rocha mostra que as pessoas resistem. O mesmo acontece em Plataforma: o museu é um contraponto. Gosto de encontrar essas plantas espontâneas que existem e dão grandes oportunidades. É um aprendizado: em tempos difíceis, precisamos conhecer formas de viver e conviver. Aprendi muito sobre isso aqui”. Marina Fokidis Quem é? Radicada em Atenas, a curadora e escritora grega fundou a revista  Kunsthalle Athena und South as a State of Mind. Já fez curadoria de exposições internacionais e participou de conferências. Faz parte do júri do Videobrasil 2017. O que achou de Salvador?  “Amei o sincretismo: essa mistura e coexistência de diferentes comunidades. Adoro o contato com a natureza e a história de tudo. Poderia ficar para sempre. As pessoas são muito amigáveis”. (Foto: Marina Silva/CORREIO) Troca O portão aberto foi um começo para o Agora, mas o trio pensou em outras formas para deixar o espaço mais vivo. “As pessoas nos deram suas histórias, Pauchi gravou e Ángela fez ótimos retratos para eles levarem para casa. Foi uma troca. A ideia é criar um ambiente em  que todo mundo pode misturar. O projeto deve continuar”, ressalta Marina. Quem foi à Praça do Cacau nesse mês pôde jogar dama e usufruir do Wi-Fi gratuito - que devem permanecer. A ação também distribuiu plantas para o público plantar. No futuro, poderão voltar e acompanhar seu crescimento. Dessa forma, as artistas acreditam que as pessoas vão tratar o local como se fosse delas e voltarão  regularmente. Foram mais de quatro horas de conversas gravadas, com histórias de pessoas de perfis diversos. Teve desde vendedora de picolé que sonha ser fotógrafa até universitários e crianças. “Quem for à Praça hoje poderá escutar esses depoimentos. Sempre estamos em contato com pessoas, mas raramente contamos e escutamos seus dramas e histórias profundas. Falta troca neste muito individualizado. Alguns contaram dramas muito pessoais, outras declamaram textos e poemas... O projeto proporcionou que pessoas, que nem sempre têm com quem conversar, se abrisse”, revela Pauchi, que gravou as conversas e guiou as entrevistas. Em Salvador, a peruana tocou com a Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba), participou do Panorama Coisa de Cinema e conheceu referências da música contemporânea. Pauchi SasakiQuem é? A peruana Pauchi Sasaki é compositora e  performer. Integra música com design multimídia, novas tecnologias e design de  instrumentos em busca da incorporação à música eletrônica. Suas trilhas figuram em mais de 30 filmes. O que achou de Salvador?  “Temos semelhanças, como as diferenças sociais. Mas me impressionei com a natureza, clima, diversidade  e com os ritmos baianos. Descobri que Salvador é um polo da música contemporânea”. (Foto: Marina Silva/CORREIO) No Agora, foram quase 100 cliques. “Como tenho o primeiro contato com as pessoas antes de darem depoimentos, nem sempre conheço a história delas. Teve um menino de uns 8 anos que era super tímido e estava vestido de Homem-Aranha. Quando fui fotografá-lo ele se transformou. Parecia um ator nato. Teve outro, que mora na Vila Brandão, que fez pose de rei. E uma mulher mais velha, de uns 80 anos, que me impressionou pela sua posição diante da câmera”, conta Ángela. A venezuelana fez fotos da costa de Salvador e visitou o Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB): “Vou tomando nota de tudo e levando por onde vou. Devo fazer um artigo”. Ángela Bonadies Quem é? A fotógrafa venezuelana tem um trabalho focado em memória, arquivo, espaço urbano e pensamentos sobre a imagem fotográfica. Já realizou diversas exposições na Venezuela e nos Estados Unidos, Espanha e Alemanha.  O que achou de Salvador?  “A paisagem é alucinante e há água por todas as partes. A arquitetura me encantou. Os edifícios parecem que foram feitos por pessoas diferentes. Mesmo sem uma unidade, as construções conseguem ter estilo e história”. (Foto: Marina Silva/CORREIO) Outras residentes Adama ParisQuem é? Dona da marca Adama Paris, a estilista senegalesa criou a Dakar Fashion Week e a Black Fashion Week.O que achou de Salvador? “É um pedaço de África fora do continente. Fui bem recebida e me senti parte daqui. Foi natural e espiritual”.Julia PhillipsQuem é? Nascida em Hamburgo, ela é cidadã alemã e americana. Mora em Nova York e trabalha com cerâmicas e metal.O que achou de Salvador? “A leveza me impressiona. É um lugar em que opostos coexistem e, mesmo assim, sinto uma energia leve”.ServiçoO quê: Encerramento do projeto Agora | Concerto Novíssima Arte Sonora LatinoamericanaAtrações: Pauchi Sasaki, grupo (Se?Se:não!), Jean Souza e Suyá NascimentoQuando: Sábado (25) às 19hOnde: Teatro Goethe-Institut Salvador-Bahia (Av. Sete de Setembro, 1809, Corredor da Vitória)Quanto: Gratuito