‘Resistência de teimosos’ marca a II Feira Literária de Canudos

Xico Sá e Marcelino Freire debatem o tema no evento que começa quinta-feira (8)

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  • Laura Fernades

Publicado em 6 de abril de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

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“Basta estar vivo que você já está na resistência hoje”, reflete o jornalista e escritor cearense Xico Sá, 58 anos, ao telefone. Convidado da II Feira Literária de Canudos (Flican), que começa quinta-feira (8), às 14h, Xico participa de um bate-papo virtual com os amigos e escritores pernambucanos Marcelino Freire e Antônio Marinho, “ciganos dessas mesas literárias pelo Brasil inteiro”, define.

Os três vão falar sobre Antônio Conselheiro (1830-1897), líder religioso que saiu do Ceará para fazer história em Canudos, na Bahia. “Vai ser um mergulho na trajetória do Conselheiro e vamos puxar para cá, falar da resistência hoje”, explica Xico. “Vai ser um rastreamento desses teimosos que de alguma forma representam Canudos. A gente migra e grita muito. Vai ser bom esse encontro”, completa Marcelino, 54.

Na mesa ‘Literatura, espaço, tempo e pandemia’, que acontece sexta-feira (9), às 16h10, o trio vai “relembrar para o Nordeste e o país inteiro que Canudos está vivo e tem história para contar”, destaca Xico. “É uma história que não se perde no tempo, porque resume a história Brasil. Não são leituras literais, mas simbólicas. Para entender a história do país, tem que voltar para Canudos”, defende.

Esse processo, continua, implica em reconhecer “que as tropas federais sufocaram um bando de nordestinos e cada pontinha dessa história de Canudos acaba despertando hoje”. Marcelino acrescenta que por ter estado à frente de questões de igualdade, consciência política e educação, “Conselheiro fez uma revolução muito moderna”. “Não é vergonha desconhecer essa história. O ruim é permanecer a vida inteira”, convida Xico.

Resistência Para além da história de Canudos, são várias as resistências que entram no debate durante a Flican. A do artista que na pandemia “se reinventa o tempo inteiro”, destaca Marcelino, e a resistência da força Nordestina, que ganhou fôlego internacional com o premiado livro Torto Arado, do escritor baiano Itamar Vieira Junior. “Cito o exemplo de Itamar para citar tantas forças que não desistem. Faz bem à literatura contemporânea”, elogia.

Outra resistência é manter-se conectado à distância, ou como diz Marcelino: manter-se “quarantenado”, ou seja, “antenado, produzindo, abraçando as pessoas e descobrindo ferramentas para estar junto a elas”. Apesar de o abraço presencial fazer falta, assim como “beber com as pessoas depois das palestras e caminhar pela cidade”, o escritor destaca que o formato digital das feiras e festas veio para ficar.

“Veio pra ficar porque esse alcance é muito bom. Nada substitui o calor presencial, mas na falta dele a gente vai se energizando como pode. A vantagem é que estou em casa indo para a casa das outras pessoas e de repente entramos no espaço do escritor. Você vê a estante dele, de vez em quando o gato passa na câmera, o vendedor de caju que passa na rua (risos)... Quando que a gente teria isso?”, provoca.

Resistir também significa “ficar vivo para continuar contando histórias”, lembra Xico Sá, e seguir “em vigília permanente para manter a democracia, mesmo com todos os defeitos”. “Na democracia, você tem o benefício lindo de falar mal dela, falar mal do prefeito, do governador, falar do buraco na sua rua, da segurança pública...”, enaltece. E o escritor, em sua opinião, tem a liberdade de falar sobre o que quiser.

“Mas, hoje, não dá para não passar por essas broncas que estamos vivendo. Dá para falar de poesia de amor e ser resistente ao mesmo tempo”, defende Xico. O escritor acrescenta, ainda, que “não adianta ter um bando de escritores se não estivermos quem nos escute”, por isso “o leitor é a coisa mais preciosa que a gente tem”. “Levar alguém a ler, hoje, é muito revolucionário. Com reflexão você muda as coisas”, acredita.

Marcelino concorda e acrescenta que a literatura nos ajuda a ler nas entrelinhas, “nas subsombras de um discurso, do poder”. “Quando a gente lê um livro, a gente fica mais esperto”, reforça o escritor. “O bom livro não é o que nos faz sonhar, é aquele que nos acorda. A literatura tem um poder muito grande e é disso que os poderosos têm medo”, finaliza.

Serviço O quê: II Feira Literária de Canudos (Flican) Quando: De quinta-feira (8) a sábado (10), em horários variados. Abertura: às 14h. Gratuito Transmissão: YouTube da Uneb em Canudos e pela Canudos TV  

Programação

08/04 - QUINTA-FEIRA

TARDE

14h - Desfile Literário

14h30 - Interpoéticas com Vitória Luísa – Sertão Sol e Paloma Aleoncio

14h40 - Mesa 1: Assombros e Encantados no imaginário sertanejo Rosana Ribeiro Patrício (UEFS) Franklin Carvalho Márcio Benjamin

15h30 - Um Doutorado para Canudos Dr. Osmar Moreira – Coordenador do Programa de Pós-graduação Pós-Crítica/UNEB

16h - Selo FLICAN - Premiação: Concurso literário – A produção intelectual dos estudantes de Canudos com Lançamento do projeto do livro: A resistência na palavra Roberto Gama (Secretário Municipal de Educação de Canudos) – Mediador

17h30 - Encerramento da tarde

NOITE

19h - Concerto de Abertura com Orquestra Sisaleira (BA)

19h30 - Ode aos homenageados da Flican: José Calasans, Edivaldo Boaventura, Evandro Teixeira e Tripolli Gaudenzi

19h50

- Abertura Oficial: Jerônimo Rodrigues - Secretário de Educação da Bahia Zulu Araújo - Presidente da Fundação Pedro Calmon (Representando a Secretária da cultura Arany Santana) José Bites de Carvalho - Reitor da UNEB Jilson Cardoso - Prefeito de Canudos Roberto Gama - Secretário Municipal de Educação de Canudos Vanderlei Leite - Presidente do Instituto Popular Memorial de Canudos (IPMC) Luiz Paulo Neiva – Curadoria da FLICAN

- Poesia de Antônio Barreto em homenagem a José Calasans - Conferência Inaugural: José Calasans, o demiurgo de Canudos Walnice Galvão (USP)

- Show Bião de Canudos

20h25

09/04 - SEXTA-FEIRA

MANHÃ

08h50 - Abertura 08h50 - A voz de Kaila Marcele (Canudos) 09h05 - Dona Durú (Canudos) – depoimento memorial10h - Visitando o Memorial Antônio Conselheiro 10h10 - Mesa 2: Aprendizagem e resistência em tempo de pandemia Superação e criatividade pedagógica nas escolas de Canudos Josileide Valença Varjão – Professora da Rede Municipal de Ensino

11h30 - Interpoéticas com Mariana Guimarães 11h40 - Encerramento da manhã

Flicanzinha

09h10 - Lançamento de livro infantojuvenil: Ser diferente é legal – Histórias sobre respeito e tolerância Profa. Léa Costa Santana Dias

09h30 - Cordel Cantado: Mariane Bigio (PE)

TARDE

14h - Banda de Pífanos de Canudos – resistência e encantamento cultural

14h10 - Eldon Canário (BA) – depoimento memorial

14h15 - Mesa 3: Evocação de Canudos Luiz Paulo Neiva, UNEB (Mediador) Manoel Neto, CEEC/UNEB Pedro Lima Vasconcelos (UFAL) Floriza Sena (IPMC) João Batista (Historiador) João Ferreira (Professor do CELC, Canudos)

15h30 - Cenário da guerra – Visitando o Parque Estadual de Canudos15h50 - A força jovem da música em Canudos – Robertinho Kambalacho16h - Interpoéticas com Ádila Madança;

16h10 - Mesa 4: Literatura, espaço, tempo e pandemia Xico Sá (CE) Marcelino Freire (PE) Antônio Marinho (PE)

17h20 - Zé Poeta (Monte Santo) 17h30 - Encerramento da tarde

NOITE

19h - Abertura Cultural: a poesia de Zé Américo (Canudos)

19h10 - Museu João de Régis – Com a palavra o Curador Edmilson Santana

19h20 - Museu João de Régis: Olhares e vertigens na memória Flávio de Barros (por Sérgio Guerra), Evandro Teixeira Antônio Olavo

19h50 - Interpoéticas com Yasmin Rabelo e Pók Ribeiro - Coletivo Vozes - mulheres: além das margens.

20h - Mesa 5: - Literatura, poesia e virtualidade Cida Pedrosa (PE) Emmanuel Mirdad (BA) Maviael Melo (Mediador) (PE)

21h30 - Show de Encerramento com Targino Gondim e Rennan Mendes

10/04 - SÁBADO

MANHÃ

09h - A voz de Izael Sertaofrancisco (Paulo Afonso) 09h10 - Joselina Guerra (Canudos) – depoimento memorial

10h20 - Mesa 6: Vozes guardadas: literatura de mulheres Ilza Carla, poeta e escritora UNEB (Mediadora) Erica Azevêdo, poeta Clarissa Macêdo, poeta Áquila Emanuelle, poeta

11h20 - Mesa 7: Entre arpejos e acordes: Uma leitura de O Capitão Jagunço Profa. Ester Figueiredo, UESB (Mediadora) Profa. M. Neuma M. Paes, UNEB Profa. Edil Silva Costa, UNEB

12h - Encerramento da manhã

Flicanzinha

09h15 - Rosa Griô e Sá Benidita (Contadoras de história)09h50 - Antonio Barreto (BA)

TARDE

14h - Para abrir a tarde: Banda de Pífanos de Canudos e Kaila Marcele (Canudos)

14h20 - Monólogo: Marcos Freitas (Cia de Teatro de Canudos)

14h40 - A vanguarda de editoras, livrarias e bibliotecas Sandra Soares (Eduneb) Geraldo Prado (Biblioteca de Paiaiá) Flávia Goulart Roza (Edufba) Murillo Campos (Editora UEFS) Primo Maldonado (LDM)

15h40 - Visitando o Museu Manoel Travessa

15h50 - Visitando o Instituto Popular Memorial de Canudos

16h10 - Mesa 6: Lançamento de Livros Aleilton Fonseca (mediação) Franklin Carvalho Ádila Mandança Sergio Siqueira Pedro Vasconcelos Ester Figueiredo Sílvio Jessé Geraldo Prado

NOITE

19h - Museu João de Régis – Olhares e vertigens na memória Trípolli Gaudenzi José Aras (Por Lina Aras)

19h20 - Mesa 8: Cancioneiro popular e poético de Canudos Braúlio Tavares (poeta, PB) Franklim Martins (Jornalista, RJ) Josemar Martins Pinzoh (UNEB) – Mediador

20h30 - Mesa 9: “O Trabalho Criador de 100 Pessoas no Teat(r)o Oficina UzinaUzona de Os Sertões de Euclides da Cunha in Canudos” José Celso Martinez (Teatro Oficina, SP) Paulo Dourado – Mediador (BA)

21h30 - Show de encerramento: Viva Canudos! Viva Antônio Conselheiro! Fábio Paes (BA) Roze (BA) Gereba (BA)