Reunindo reações conflitantes, suspense psicológico Mãe! é chocante

Filme é alegoria perturbadora com elementos religiosos

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  • Hagamenon Brito

Publicado em 21 de setembro de 2017 às 06:04

- Atualizado há um ano

Responsável por filmes intensos como Réquiem Para um Sonho (2000) e Cisne Negro (2010), o roteirista e cineasta americano Darren Aronofsky, 48, radicaliza a sua estética autoral com o suspense psicológico Mãe!, filme complexo e provocador que desperta amor ou ódio no espectador, mas nunca indiferença. Ele escreveu a primeira versão do roteiro em cinco dias, numa explosão de energia criativa. “Uma coisa que me incomoda no processo cinematográfico é que tudo leva muito tempo. Eu queria fazer algo como os cantores e compositores, que têm uma inspiração, pegam o violão e já saem com a música pronta”, explicou o diretor em entrevista coletiva, terça-feira, na capital paulista.

Na história, alegoria perturbadora com elementos religiosos envolvendo drama, terror e ação (os 30 minutos finais são vertiginosos e podem ferir os fracos de estômago), Jennifer Lawrence é a Mãe do título. Sensata e equilibrada, é casada com um egocêntrico escritor mais velho e em crise criativa (Javier Bardem), personagem chamado de Ele nos créditos. Pacientemente, ela reforma sozinha a imensa casa no meio do nada. Uma noite, um estranho (Ed Harris) bate à porta e sem motivo aparente  o marido permite que o homem se hospede lá. No dia seguinte, a esposa (Michelle Pfeiffer) do homem chega. Mãe não gosta dos convidados, mas o seu marido adora a atenção que os estranhos lhe dão. Logo, outros estranhos chegam e o lar de Mãe vai tornando-se numeroso, caótico e violento.

Aronofsky, que está namorando a duplamente oscarizada Jennifer Lawrence, diz que o personagem Mãe tem muito das suas inquietações existenciais e religiosas: “Em qualquer um dos meus filmes, existe pelo menos um personagem em cena que diz o que eu penso e age como eu agiria naquela situação. Nesse caso, me coloco no papel da Jennifer, já que ela simboliza a Terra, que está sendo devastada e degradada a cada dia. Me preocupo muito com isso e ainda tenho esperanças de que as coisas possam mudar”. O marketing prévio de Mãe!, em teasers e o trailer,  fez muita gente pensar que o filme era um terror psicológico semelhante ao clássico O Bebê de Rosemary (1968), de Roman Polanski, mas no geral não é nada disso. “Esta foi uma pista falsa muito bem plantada e fez as pessoas comentarem. E com atores como estes, podem pensar que é um filme normal, digamos, mas não é o caso de Mãe!”, afirma Darren Aronofsky, também não demonstrando surpresa com o fato do longa-metragem ter sido mal recebido pelo público americano. A produção de US$ 30 milhões faturou apenas US$ 7,5 milhões ao estrear nos Estados Unidos no último fim de semana. Namorados na vida real, Jennifer e Aronofsky no set de filmagem (Foto: Divulgação) “O filme é bem agressivo. Se você dá um soco, então vai receber um soco de volta. Por outro lado, aqueles que entenderam a proposta abraçaram o filme de modo intenso. Tem muita violência, mas tudo é muito real. Um tiro em Mãe! é como um tiro na vida real, não como em filmes comerciais de ação. Podem falar o que quiserem do filme,  só não  achem que ele é falso”, diz o diretor, que não vê maiores problemas criativos em filmar com baixo, médio ou alto orçamento. O que importa é filmar, mas não esquecer,  em qualquer circunstância, que quem investiu quer retorno. Seu filme de maior orçamento foi, aliás, o menos feliz em assinatura artística pessoal: Noé  (2014), que custou US$ 125 milhões e faturou US$ 362 milhões.

No resumo da ópera do sétimo trabalho de Darren Aronofsky, um diretor que consegue fazer cinema de autor na Hollywood atual, Mãe! é uma experiência cinematográfica única, um dos filmes mais chocantes dos últimos anos, mesmo que muita gente o deteste no final da sessão. O caos proposto pelo roteiro, com milhares de referências (da criação divina e bíblica ao terrorismo e o culto à celebridade, passando por ambientalismo, patriarcado, matriarcado...), merecia ser menos pretensioso, é verdade, mas a inventividade da direção e a entrega de Jennifer Lawrence ao papel são admiráveis. Mãe! é um delírio criativo que exige olhos e mentes abertas à provocação artística. Um filme que incomoda.

COTAÇÃO: BOM

* O jornalista viajou a São Paulo a convite da Paramount

Horários de exibição:

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