Reuso de efluentes em condomínios é possível e proporciona benefícios

Equipamento produz ganhos econômicos e ambientais ao possibilitar a reutilização da água potável; retorno do investimento se dá em 6 meses

  • Foto do(a) author(a) Murilo Gitel
  • Murilo Gitel

Publicado em 16 de dezembro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: divulgação)

Desde novembro deste ano, o esgoto sanitário doméstico proveniente do condomínio Supremo Family Club, em Lauro de Freitas, conta com um sistema de tratamento capaz de transformá-lo em um efluente qualificado para o reuso na irrigação do jardim e na lavagem de áreas comuns. Com isso, os cerca de 1.500 moradores dos 380 apartamentos economizam na conta de água e evitam o uso do recurso potável para essas atividades.

A primeira Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do município a realizar o reuso planejado de efluente sanitário doméstico foi implantada pela empresa baiana Clear Water Soluções Ambientais. Batizada de Clearhydro, a tecnologia é do tipo Moving Bed Biofilm Reactors (MBBR), e foi desenvolvida na década de 1980, na Noruega.

“Em certas condições, pode reduzir a poluição hídrica por meio da redução da descarga de efluentes nos rios e lagos. Existem também benefícios econômicos, uma vez que o condomínio tem custos menores, na ordem de 75% de economia, em relação ao consumo de água potável”, destaca o engenheiro Dartagnam Gomes, proprietário da Clear Water.

A ETE, que teve investimento de R$ 160 mil, trata até 150 mil litros de águas servidas (esgoto sanitário doméstico) por dia e faz o reuso do efluente tratado em até 30 mil litros/dia. “Esse efluente que é tratado por esse tipo de estação não é próprio para o consumo, mas pode ser aproveitado para irrigar jardins, áreas em comum, pátios e equipamentos como playgrounds”, exemplifica Gomes, que antes de abrir a empresa trabalhou durante 27 anos na Embasa.Melhorias Segundo o engenheiro, a taxa de retorno do investimento – possível graças à economia de água potável -, é estimada em seis meses a partir do início da operação. O subsíndico do condomínio, Josene Gomes, comemora a chegada da nova estação. “Já até sentimos uma melhora significativa no cheiro que antes exalava no local. Agora não tem mais. Fora os ganhos para o meio ambiente”, afirma.

No condomínio de Lauro de Freitas são consumidos cerca de 10.000 metros cúbicos/mês de água potável. “Estamos economizando de 3% a 4% em volume como reuso. Isso é um ganho de ordem financeira e ambiental sem precedentes”, ressalta Gomes.

Mercado Atenta ao mercado baiano, a concessionária privada paulista General Water anunciou recentemente seu ingresso no estado. A empresa tem como foco o abastecimento de água através de captação subterrânea, reuso e tratamento de esgoto, um leque de serviços que também inclui a implantação de estação de tratamento de efluentes, principalmente em nível industrial.

“Também temos interesse em condomínios, mas nosso foco no que diz respeito ao tratamento de efluentes está nas indústrias”, explica Vander Pacheco, um dos quatro sócios da Synergetic, empresa responsável pelas operações da General Water no Nordeste. Os demais são Aristides Neto, Carlos Javier e José de Assis.

Investimento Pacheco ressalta que o investimento na estação de tratamento de água e esgoto é da própria empresa. “Ao cliente, cabe apenas o pagamento do volume de efluente tratado e disponibilizado para descarte ou reuso.” Segundo o empresário, o custo para implantar um sistema desse tipo em nível industrial depende de inúmeros fatores, como metros cúbicos consumidos e proximidade com fontes de energia, mas o valor aproximado é de R$ 2 milhões.

“No que diz respeito ao tempo de construção de uma estação de tratamento de efluentes em um condomínio, entre todas as aprovações necessárias junto aos órgãos competentes, compra de equipamentos, instalação e operação, é mais ou menos seis meses”, estima Pacheco.

De acordo com o site da empresa, que tem instituições financeiras, shoppings centers e redes do setor farmacêutico como alguns dos clientes, os sistemas ofertados pela companhia trataram cerca de 2 milhões de metros cúbicos de esgoto e água reutilizável no ano passado.

Como funciona O tratamento de efluentes (resíduos domésticos ou industriais provenientes da atividade humana) pode ser compreendido, basicamente, em duas grandes fases: a físico-química e a biológica.

No tratamento físico-químico, há a remoção dos contaminantes através de reações químicas que fazem a separação das fases sólidas e líquidas do efluente. Já o tratamento biológico dos efluentes é realizado por meio de bactérias e outros microrganismos que consomem a matéria orgânica poluente através do processo respiratório.

Em uma ETE convencional, o efluente passa por cinco etapas: pré-tratamento, tratamento primário; tratamento secundário; tratamento do lodo; tratamento terciário – antes de ser devolvido ao meio ambiente ou reutilizado.

Já o tratamento biológico requer o controle da vazão, a recirculação dos micro-organismos decantados e o fornecimento de oxigênio, entre outros fatores, tais como disponibilidade de nutrientes e temperatura. O funcionamento da ETE do condomínio de Lauro de Freitas, por exemplo, pode ser dividido nesses sete passos:1) Gradeamento: retenção de materiais grosseiros; 2) Desarenador: retenção de materiais suspensos (areia, particulados); 3) Digestor anaeróbio: primeira separação de efluente e manta de lodo com material orgânico pela ação de organismos anaeróbios; 4) Tanque de aeração (MBBR): bombeamento de oxigênio no efluente para neutralizar os organismos anaeróbios; 5) Decantação: retenção de lodos decantados para levá-los novamente ao processo anaeróbio; 6) Desinfecção: controle do número de bactérias antes do lançamento final; 7) Reuso: efluente então é direcionado para o reuso (irrigação de jardim, área de pátios, equipamentos como playgrounds, entre outros.

Todos os efluentes que voltam ao meio ambiente precisam se enquadrar nos parâmetros estabelecidos pela Resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), ligado ao Ministério do Meio Ambiente.

 Em vigor desde março de 2005, a norma reclassificou os corpos d’água e definiu novos padrões para o lançamento de efluentes. Ela também prevê pena de reclusão a administradores de empresas ou responsáveis técnicos que não cumpram os parâmetros.