Revolta dos Búzios: caminhada no Centro Histórico relembra data

Caminhada, ao som do Olodum e Ilê, saiu da Praça da Piedade e foi até a Praça Municipal para relembrar o movimento pela emancipação negra

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  • Maryanna Nascimento

Publicado em 13 de agosto de 2017 às 17:31

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. por Betto Jr/CORREIO

Em 1798, o Centro de Salvador foi tomado por uma agitação: cartazes e panfletos afixados desde a Igreja da Sé até as portas do Carmo convocavam os baianos a se manifestarem contra a Coroa Portuguesa, pedindo o fim da escravidão. Neste domingo (13), os baianos voltaram a se reunir para celebrar o aniversário daquela manifestação, a Revolta dos Búzios, também conhecida como Revolta dos Alfaiates ou Conjuração Baiana.

A manifestação homenageada terminou no dia 8 de novembro de 1799 com o enforcamento, em plena Praça da Piedade, de quatro líderes da revolta: Luís Gonzaga das Virgens, Lucas Dantas de Amorim Torres, Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus do Nascimento, todos negros e descendentes de escravos. Após a morte, os quatro tiveram os corpos esquartejados e expostos em locais públicos. 

Apesar do desfecho trágico de dois séculos atrás, a caminhada que aconteceu neste domingo foi embalada por sorrisos, o som dos tambores e a música de um trio elétrico. Segundo João Jorge Rodrigues, presidente do Olodum, educação, consciência, igualdade e paz fizeram parte do encontro: “Estamos desfilando em prol da memória da luta baiana por igualdade”.

Fabya Reis, secretária da Promoção da Igualdade Social, também participou do evento e lembrou que além da caminhada pela Revolta dos Búzios, a manifestação também coincide com o Dia dos Pais. “Essa também é uma oportunidade de fazer uma homenagem aos pais da pátria que lutaram por ideais de igualdade, liberdade e fraternidade. É um momento de combater a intolerância religiosa e resgatar a cultura”, afirmou a secretária.

Para comemorar o dia dos pais, Edilenilson Pereira levou a sua esposa Driele de Souza e a pequena Helena Pereira, 2 anos, para a caminhada. Mesmo com o som alto da percussão, a menina estava em um sono profundo. Segundo o papai, Helena gosta muito do Olodum e apesar de ter entrado na escola este ano, em breve espera “que ela aprenda sobre a sua história nas aulas”.

Os irmãos Maila, 7, e Roberto Santiago, 6, também estavam lá pelo conhecimento. “Eles ainda não sabem muito sobre o assunto mas, aos poucos, vão aprendendo”, disse o pai que acredita que o evento é uma aula a céu aberto para os filhos.

Além do Olodum, a caminhada também teve a participação do Ilê Aiyê. Antes de assumir o microfone, Jiauncy Ojubará, cantor da banda, fez questão de relembrar o motivo de estar ali. “Para mim, a luta de Luís Gonzaga, Lucas Dantas, Manuel Faustino e João de Deus foi importante para a Bahia e não deve ser esquecida. Eles foram julgados, enforcados e esquartejados por uma luta que estamos gozando agora e não podemos esquecer”, falou, emocionado.