Riachão apresenta em Salvador turnê que marca seus 95 anos de samba

Compositor de mais de 500 músicas, o artista interpreta clássicas e inéditas; confira vídeo exclusivo do sambista para o CORREIO

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  • Vanessa Brunt

Publicado em 28 de novembro de 2017 às 18:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Daniela Carvalho/Divulgação

Uma toalha no pescoço – herdada do costume na capoeira –, uma boina e um sorriso não formariam a mesma prestigiada harmonia se não fosse pela conexão com a música. Um dos sambistas mais renomados do país, conhecido como 'compositor-cronista' de Salvador, continua retratando a cidade através das letras que cantarola. Riachão, que teve várias das suas músicas interpretadas por cantores como Cássia Eller, Beth Carvalho e Zélia Duncan, e é autor da famosa Cada Macaco no Seu Galho (Chô Chuá), gravada por Caetano Veloso e Gilberto Gil, prossegue com a garganta firme e a mente forte para criar e soltar a voz.

É com esse gás que o artista, que tem mais de 500 músicas escritas, sobe ao palco da Caixa Cultural Salvador para quatro apresentações, entre quarta-feira (29) e sábado (02), sempre às 20h. A temporada marca a passagem pelo Dia do Samba, comemorado neste sábado (02). O espetáculo foi idealizado para marcar as comemorações dos 95 anos do compositor, tem ingressos populares a  R$ 10 | R$ 5. Vale destacar que Riachão completou 96 anos no último dia 14 de novembro. Repertório

O cantor leva ao palco composições que fazem um recorte da sua trajetória, como Eu Sei Que Sou Malandro, Retrato Fiel da Bahia e Fala Cavaco. Um dos destaques do repertório, que inclui 13 músicas e clássicos como Chô Chuá, é uma canção inédita que ele gravou especialmente para este momento da sua carreira: Se Deus Quiser Vou Chegar Até 100. Riachão não perde o bom humor ou o olhar detalhista e reafirmou, ao CORREIO, o desejo de gravar diversas  canções que ainda não lançou.

O espetáculo Riachão – 95 Anos de Samba, chega a Salvador após passar por Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo, com um total de 10 apresentações neste ano. Na turnê, o compositor se apresenta com a banda Bambas de Sampa, formada em 2014 exclusivamente para acompanhar o Mestre Riachão em uma apresentação. Formado por novos talentos da cena musical de samba em São Paulo, o grupo, desde então, vem acompanhando o artista em diferentes projetos. Com o costume de não anotar as letras ou as melodias criadas, o cantor perdeu algumas das suas canções, mas afirma que, por vezes, ressurgem na memória. Em 2013, lançou o disco Mundão de Ouro, reunindo alguns dos lembretes obtidos. “E agora, como é que é? / Amor não tem idade / Seja o que Deus quiser”, afirma o baiano na letra de Valdinéia. Se o amor não tem idade, para Riachão, a música também não tem. Confira o vídeo que o CORREIO gravou em dezembro de 2016 com o compositor: Nome artístico Riachão foi o primeiro compositor da Bahia a ser gravado no Rio de Janeiro após Dorival Caymmi, ainda na década de 50. O apelido chegou na infância, já que o menino não parava de buscar evolução e lutar pelo que queria. Mal acabava uma peleja, já estava disputando outra. Chegavam, então, os mais velhos, para desapartar pregando aquele antigo ditado popular: “Você é um riachão que não se pode atravessar”, lembra ele. Assim, Clementino Rodrigues virou Riachão, que atravessou mais de nove décadas da vida até aqui, sem deixar de lutar. Brigou com a inspiração, quando esta demorava a chegar, para compor mais um samba; brigou pela afirmação e sucesso de suas composições, brigou contra as adversidades da vida, mas afirma que sempre brigou com um sorriso nos lábios e a providencial prontidão dos sábios guerreiros. E ele deságua. 

Sentado com um sorriso no sofá da sua casa, no Garcia, ouvindo samba, cantando com empolgação e mexendo o tronco de um lado para o outro, Riachão recebeu o CORREIO de Futuro, no final de 2016, com a sua famosa toalhinha pendurada no pescoço. “Ele ouve música o dia inteiro”, afirma a neta Geisivane. Durante o bate-papo, ao ver alguém com a mão no queixo, o compositor declamava, cantarolando: “Tira! Tira essa mão! Cara de tristeza aqui não! Tudo tem dois lados, mas o melhor deles é sempre o de sambar. As coisas se explicam, mas só para quem quer e entende que é melhor cantar”. Leia a entrevista na íntegra clicando aqui.