Rogério Flausino fala sobre novo show, Salvador e cenário musical atual

Por Giuliana Mancini

  • D
  • Da Redação

Publicado em 6 de março de 2018 às 05:05

- Atualizado há um ano

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Já imaginou o Jota Quest sem seu cantor, Rogério Flausino? Calma, não se preocupe: nem ele pensa nisso. “Meu sonho de criança era ser vocalista de uma grande banda de rock. A vida me deu esse presentão e eu não vou largar esse osso por nada”, garante, rindo. Rogério Flausino celebra volta à Concha Acústica: “Estamos muito empolgados” (Foto: Reprodução/Facebook) Neste fim de semana, o grupo aporta em Salvador, com o projeto Acústico Jota Quest - Músicas Para Cantar Junto, domingo (11), às 19h. O local escolhido para o show foi a Concha Acústica, onde a turma não sobe ao palco há quase 20 anos, desde 1999. Rogério comemora o fim do hiato. “Estamos muito empolgados com este retorno, principalmente porque sabemos que nosso novo espetáculo é a cara deste espaço icônico. Sabemos da importância e da tradição deste lugar, o que torna tudo ainda mais intenso e desejado”.

Nesta entrevista, o mineiro fala mais sobre a apresentação, comenta a relação com o público baiano e faz uma análise do cenário musical atual. Confira:

Jota Quest Acústico é o primeiro álbum lançado pela banda neste formato. Foi algo que vocês sempre quiseram gravar? Como surgiu esta ideia? Fazer nosso Acústico era um sonho antigo. Quando chegamos à cena pop-rock, no fim dos anos 90, os Acústicos, produzidos pela MTV Brasil, revolucionaram a música brasileira. Naquela época, éramos ainda uma banda muito nova e, apesar de termos recebido o convite, decidimos que seria legal criarmos um repertório maior e mais consistente para que nosso Acústico pudesse ser algo realmente marcante em nossa carreira. No final de 2016, quando completamos 20 anos do lançamento do nosso primeiro disco, J.Quest, achamos que havia chegado a hora. Então, convidamos o Liminha para produzir o álbum com a gente e partimos pra cima. Foi uma viagem muito bacana. O que mais trabalhamos foi cuidar para que cada canção ganhasse uma “vida nova”, mas sem perder sua identidade original.

Em geral, as músicas do Jota Quest são bem dançantes. Como o público está recebendo o espetáculo acústico? Acho que estão curtindo muito. Na verdade, temos em nosso repertório muitas canções “não-dançantes” também. O fato é que nossa influência da black-music (funk, disco, soul, R&B) segue muito presente no show, principalmente nas músicas mais dançantes, porém, mais aplainadas, e com velocidades mais baixas, o que, de certa forma, as deixa até mais dançantes. Acho que temos conseguido uma excelente dinâmica nos shows. Ele está mais intenso, lírico e emocionante, sem perder a alegria e o groove que sempre nos caracterizaram. Penso que o grande barato do formato acústico é o poder que ele tem de trazer as músicas à tona. Por isso, escolhemos o sobrenome Musicas Para Cantar Junto. Este espetáculo é uma celebração à canção.

A banda tem mais de 20 anos, com muitos sucessos lançados. Entre tantos hits, foi difícil montar o repertório para este show? Como se tratava também de um álbum comemorativo, selecionamos inicialmente nossos maiores sucessos desses 20 e poucos anos, incluindo alguns dos discos mais recentes. Depois, trabalhamos em algumas canções totalmente inéditas, das quais selecionamos três. E, no final, pusemos uns dois “b-sides”. No total, foram gravadas 25 músicas. O show segue basicamente este roteiro, mas já estamos até tocando algumas que não foram registradas.

A última vez que vocês tocaram na Concha Acústica foi há quase 20 anos, em 1999. Qual a expectativa para voltar ao lugar? A gente está muito feliz e empolgado com este retorno, principalmente porque sabemos que temos um novo espetáculo que é a cara deste espaço icônico que é a Concha Acústica! Sabemos da importância e da tradição deste lugar, o que torna tudo ainda mais intenso e desejado. Tocamos na Concha uma única vez, em 1999, no auge da turnê do álbum De Volta Ao Planeta, e foi, sem dúvidas, um dos melhores shows que já fizemos em Salvador! Dias que não deixaremos para trás!

O público de Salvador é, de alguma forma, especial para o grupo? Salvador sempre foi muito importante para a gente e para todo artista do pop-rock, exatamente por ser esta cidade multicultural que é. Conseguir “acontecer” na capital baiana sempre foi e sempre será um desafio a ser vencido. Temos muitas boas recordações de momentos vividos aí ao longo desses mais de 20 anos de batalha, e só temos que agradecer ao povo local!

Atualmente, o funk e o sertanejo têm um grande domínio das paradas musicais do Brasil. Você acha que o cenário musical está complicado para outros ritmos, como o pop-rock? Penso que uma série de fatores influenciou para esse desequilíbrio - entre eles, o triste fim da MTV como plataforma unicamente musical e as mudanças no faturamento no mercado fonográfico, inicialmente com a pirataria e, logo depois, com a chegada do mundo digital. Isso fez com que, durante mais de uma década, as grandes gravadoras, que sempre investiram pesado em nosso seguimento, reduzissem drasticamente seus investimentos em novos artistas, criando assim este grande hiato de renovação. Há ainda, obviamente, o amadurecimento de diversos outros estilos como o hip-hop, o funk carioca, o sertanejo universitário, a eletrônica, entre outros. Mas acho que esta diminuição de espaço, a médio prazo, será até interessante para o rock e seus derivados - afinal, rock é guerra, combina com batalha, contestação, tomar espaços, dar a volta por cima, comprar a briga... O mercado está nos dando todos os ingredientes para nos renovarmos. Agora é com a gente! Então, vamos para cima!

São mais de 20 anos de carreira do Jota Quest. Qual o segredo para se manter firme no mercado? Não tem segredo, tem trabalho. A gente continua acreditando que é possível se ter uma banda de pop-rock no Brasil, lançar discos e fazer turnês, mesmo com todas as mudanças de mercado e de consumo de música, que não foram poucas nesta última década. Tentamos também observar o mercado internacional e, na medida do possível, implementar alguns de seus conceitos por aqui. Mas, acima de tudo, existe no Jota Quest uma grande vocação e disposição para o trabalho. Somos operários do rock, e isso faz muita diferença.

O Jota Quest conseguiu manter a mesma formação desde o início, coisa bem difícil para bandas com tantos anos de estrada. Já passou pela sua cabeça uma carreira solo? Eu acho que cada banda tem a sua própria história e é preciso respeitá-las. Não existe uma fórmula ou regra a ser seguida. Realmente, não é nada fácil conviver em grupo por tanto tempo, mas também não é impossível. Acho que, aqui no Jota Quest, existe um ideal comum que está acima das individualidades, e isso tem nos mantido unidos e fortes. Meu sonho de criança era ser vocalista de uma grande banda de rock. A vida me deu esse presentão e eu não vou largar esse osso por nada (risos)!