Rota Pelourinho: com maior concentração de museus, local já teve espaço alvo do MPF

CORREIO visitou seis dos 16 museus do Pelourinho e apresenta condições encontradas

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  • Bruno Wendel

Publicado em 16 de setembro de 2018 às 05:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Os painéis de azulejos trazidos em 1753 recobrem as paredes da igualmente secular Ordem Terceira de São Francisco, onde estão a Igreja e o Museu da organização. Marca da história descascada pelo tempo. No Pelourinho, lugar com maior concentração de museus de Salvador - 16 dos 48 estão lá -, os azulejos descascados são a mostra de como ocorre a preservação da memória na vizinhança. 

Os retratos do cortejo do casamento de Dom José I com Maria Vitória de Bourbon da Igreja e do Museu da Ordem Terceira foram restaurados, pela última vez, há 20 anos. Sem reparos posteriores, começaram a se perder. As condições dos azulejos já foram abordadas em reportagem do CORREIO, mas, ao longo de duas semanas a reportagem voltou a percorrer o Museu da Ordem Terceira e outros cinco da região para averiguar as condições de funcionamento dos espaços.

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Dos visitados, somente um não apresentou nenhum problema aparente: o Museu Abelardo Rodrigues, instalado no Solar do Ferrão, onde há 800 peças entre santos barrocos, gravuras e ourivesaria. No caso do Museu da Ordem, que funcionada ao lado da igreja, há  rachaduras visíveis em vários pontos do teto da maioria das salas. Algumas delas chegam a danificar as pinturas do próprio teto, onde é possível encontrar também ninhos de cupim.

Num passeio pelo museu, é possível notar paredes mofadas, escadaria danificadas e um caixa de energia num emaranhado fios. São problemas para além da azulejaria azul. No último mês, um acordo do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultura da Bahia (Ipac) com a Ordem começou a intervir na azulejaria. Uma tela foi colocada sobre as paredes para evitar a evolução da perda das imagens."É como colocar um curativo numa hemorragia. Assim, o esmalte para de descascar", comemora o presidente da Ordem Terceira Jayme Baleeiro.Ele reconhece, no entanto, a necessidade de outros serviços. Principalmente nos problemas observados pela reportagem. "Os recursos da Ordem são as rendas dos seus imóveis, a maioria no Centro Histórico, aluguel de sepultamentos e doações dos próprios residentes do lar. A fonte de muitos problema, que é a umidade da parede e os minerais que saem dos solos é uma intervenção muito mais cara". 

Num dos museus da Faculdade de Medicina, a poucos metros dali, a degradação do museu já se tornou pauta de inquérito do MPF, em 2003. A pedido da reportagem, o órgão catalogou possíveis investigações sobre danos a museus na região. Revelou-se o caso do Museu de Arqueologia e Etnologia da Ufba. 

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) visitou o local e, após adequação do acervo, o inquérito foi arquivado, em 2011. Mas seguiram parte dos problemas. Na Ala Professor Pedro Augustino, há sinais de infiltração na parede de uma sala onde há exibição de um vídeo sobre a rotina indígena, a presença de um buraco em um outro ponto de exibição mostra que um monitor foi retirado e permanece sem substiuição.

Já na área Ala Professor Valentim Calderón, um emaranhado de fios e no final da Ala Antônio Matos fiações expostas. A reportagem tentou, ao longo de toda a semana, contato com a Universidade Federal da Bahia (Ufba), responsável pelo espaço, mas nenhuma das solicitações foi respondida.

No outro museu da Universidade, o Museu Afro-Brasileiro, alguns problemas também foram encontrados. No acervo, peças da cultura afrianca e afro-brasileira que incluem painéis de Carybé. Quando visitou o local, na primeira sala uma fiação exposta no canto direito do teto denunciava que ali havia uma câmera. Na segunda sala, o teto apresentava marcas de infiltração e um cubo de vidro que protege uma peça estava remendado com uma espécie de fita crepe por causa de rachaduras.

A publicação novamente tentou contato com a Ufba, mas não foi respondida. Foi a própria diretora do museu, Maria das Graças de Souza Teixeira, quem conversou sobre os erros. Segundo ela, já solucionados:“O setor Afro já foi todo requalificado. Por conta de uma infiltração no Setor Afro, transferimos uma parte para o setor da Carybé. Mas a infiltração já foi resolvida. No caso do cubo, aquela fita era para chamar atenção para que as pessoas não tocassem".A diretora afirma, ainda, que todos os dias a temperatura e a umidade são auferidas para preservar o acervo. "Nós antecipamos o problema para não ser pior depois", explica ela, coordenadora do museu há sete anos.

Nas imediações, outro com problemas aparentes foi o Museu Eugênio Teixeira de Leal/Memorial do Banco Econômico. Lá, está parte da história do dinheiro, peças como moedas e medalhas. Foram encontradas, durante a visita do CORREIO, alguns pontos de pintura descascada. Não foi encontrado, em local visível, nenhum extintor de incêndio. 

A diretora do museu, Eliene Bina, confirma o problema com a pintura. Mas justifica:“O museu é imenso, tem mais de 1,5 mil metros quadrados. Fizemos as contas para melhorar a pintura e a questão do ar-condicionado e custaria, em média, R$ 500 mil”.O problema seria, portanto, de captação de recursos para o museu que é gerido pelo Banco Econômico. Sobre a falta de extintores, ela nega: são 28 extintores e um esquema contra incêndio. A diretora diz, ainda, que o cabeamento elétrico foi trocado em 2014. Muito diferente da média nos principais museus da capital baiana. 

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier e da editora Mariana Rios