Saiba tudo o que vai rolar no show de Roger Waters em Salvador

CORREIO foi à Itália ver de perto a turnê que o ex-Pink Floyd vai mostrar na Fonte Nova em outubro

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  • Laura Fernades

Publicado em 21 de julho de 2018 às 06:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Kate Izor/Divulgação
Cerca de 35 mil pessoas foram assistir ao show nas ruínas do Circus Maximus, região histórica da Itália por Foto: Laura Fernandes/CORREIO

Convocada a acompanhar o show do astro britânico Roger Waters em Roma, na Itália, no último sábado (14), a equipe de jornalistas teve seu instrumento de trabalho confiscado antes mesmo de entrar nas ruínas do Circus Maximus. Por questões de segurança, a caneta não era permitida. O que fazer sem a arma do pensamento? Jornalistas à moda antiga, alguns poderiam dizer.

Na verdade, pouco importa. O que interessa é que, passada a revista de praxe, a equipe foi induzida a sacar de imediato os celulares para registrar o show da turnê Us + Them que o baixista de 74 anos, também cantor, compositor e ex-líder do Pink Floyd, vai apresentar na Arena Fonte Nova, no dia 17 de outubro.

Substituir caneta e bloquinho pelo smartphone, logo perceberam, era inevitável diante do show que é um espetáculo cênico feito para impressionar. A primeira pista do impacto visual apareceu assim que o público entrou no espaço e deu de cara com o telão de 66 metros de comprimento e 12 de altura, instalado na região histórica da Itália.

Ao pisar no Circus Maximus – arena com 600 metros de comprimento que foi considerada a maior estrutura de espetáculos construída pelo homem, entre os séculos VII e VI a.C. –, o sistema de som quadrifônico chamou a atenção. Falamos grego? Vamos traduzir: o equipamento nada mais é do que uma forma de preencher todo o ambiente com música. Em outras palavras: 360° de som.

Ou seja, a gargalhada da música Brain Damage surge de um lado e, rapidamente, alcança o outro lado daquele que foi um dos primeiros circos da antiguidade a exibir corridas de cavalo. Sons de gaivota e avião iam de um ouvido a outro e indicavam o que estava por vir naquele espetáculo de números grandiosos: três horas de duração, com 20 minutos de intervalo, e 100 toneladas de equipamento transportados em 24 carretas. Com um telão de 66 metros de comprimento e 12 metros de altura, o espetáculo cênico impressiona com suas projeções (Foto: Laura Fernandes/CORREIO) Show de rock, bebê Não fosse o sotaque – italiano, inglês, alemão, japonês... – o perfil do público que foi a Roma poderia ser facilmente confundido com o do Brasil. Seja pelas características físicas (afinal, é por isso que o passaporte brasileiro é tão cobiçado), seja pelo figurino. Show de rock, né: predominavam as camisas pretas e o famoso prisma do The Dark Side of the Moon, disco clássico do Pink Floyd, usado como anfitrião da festa.

Assim como no Brasil, até encontrar um bom lugar, foi necessário se esgueirar feito ninja no meio da multidão formada por 35 mil pessoas. Cangas espalhadas pelo gramado e all stars criavam o clima clássico do velho e bom show de rock. Gritos ansiosos e aplausos pressionavam, como de costume, o início da apresentação. 

Mas não demorou para Roger Waters entrar em cena com sua pontualidade britânica. No telão, a imagem de uma praia que acalmava os ânimos exaltados mudou de semblante e exibiu um vermelho intenso para anunciar a entrada do astro. Ao primeiro sinal de Us and Them, clássico do Pink Floyd que abre o show, o público fez silêncio absoluto e mergulhou no clima introspectivo.

Mas quem espera uma pulsação a mais não precisa desistir da leitura por aqui. Ao contrário do que muitos podem pensar, o espetáculo não é intimista e o telão dá um show à parte com projeções que atuam como importante elemento cênico para traduzir, em imagens, a potência sonora do grupo que é um dos ícones do rock progressivo.

Por isso, vale a pena ver com certa distância o show que agrada a todos: do fã incondicional a quem pouco conhece, passando por quem cresceu ouvindo Pink Floyd através dos pais e, portanto, sente que tudo soa familiar. Afinal, a turnê batizada com um dos sucessos do The Dark Side of The Moon (1973) é composta por 75% de músicas antigas. São sucessos dos álbuns Wish You Were Here (1975), Animals (1977) e The Wall (1979), além de canções do novo trabalho solo de Roger Waters: Is This the Life We Really Want? Além de criticar os “porcos que dominam o mundo”, Roger Waters denuncia a exploração infantil, a indústria bélica,  a poluição e as forças policiais militarizadas (Foto: Laura Fernandes/CORREIO) ‘Trump é um porco’ Ao contrário do que estamos acostumados no Brasil, o público italiano é discreto, pouco efusivo e só começou a reagir de verdade quando Roger Waters cantou Wish You Were Here. A interação da plateia ganhou fôlego mesmo quando crianças surgiram encapuzadas como prisioneiras de Guantánamo, no clássico Another Brick in The Wall.

Feito super-herói, o coro infantil – formado por crianças de cada cidade por onde o show passa – abriu os macacões laranjas e mostrou camisas estampadas com a palavra “resistir”. Pronto, escancarava-se ali no primeiro bloco o tom político que tem marcado os shows de Roger Waters pelo mundo. Foi apenas o início da provocação.

Com denúncias à exploração infantil, ao racismo, à indústria bélica, à poluição e às forças policiais militarizadas, a turnê Us + Them não poupou nem o presidente dos Estados Unidos. Chamar Trump de porco, com direito a imagens pejorativas e um porco inflável, também fez parte do pacote.

Homem de poucas palavras, Roger Waters quase não falou durante o show, mas no final convidou o público a embarcar em uma reflexão política. “Fodam-se os que disseram ‘espero que você venha tocar música sem essa coisa política’. Se a gente não pensar de forma política, eles vão destruir o mundo”, alertou.

Então justificou sua luta por uma plateia mais crítica: “Queremos que nossos filhos, netos e futuras gerações sejam capazes de respirar o ar e tudo o que esses filhos da mãe estão tentando destruir. Por isso, seja quem for, você tem que se envolver. Não dá para sobreviver de amor à música, você tem que se tornar político e ativista”, defendeu Roger Waters, com seu discurso incisivo. Cada um com sua arma, né?"Seja quem for, você tem que se envolver. Não dá para sobreviver de amor à música, você tem que se tornar político e ativista"*A repórter viajou a convite da produção do evento

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Serviço O quê: Roger Waters na turnê Us + Them Quando: Dia 17 de outubro, às 17h (abertura dos portões) e 21h (horário do show) Onde: Itaipava Arena Fonte Nova (Ladeira da Fonte das Pedras, s/n, Nazaré) Ingresso: R$ 180 | R$ 90 (setor superior), R$ 260 | R$ 130 (leste intermediário e norte intermediário), R$ 300 | R$ 150 (pista/norte inferior), R$ 420 | R$ 210 (oeste/leste inferior), R$ 710 | R$ 355 (pista premium elo/lounge premium). Vendas: no local e no site www.ticketsforfun. com.br Classificação: De 10 a 15 anos, permitida a entrada acompanhado de responsável. A partir dos 16 anos: entrada sem acompanhante.