Salvador está no time das cidades resilientes no mundo

Em entrevista exclusiva, diretor das 100 Cidades Resilientes Eugene Zapata falou sobre a importância da iniciativa

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 30 de março de 2019 às 13:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho

No último dia 26, a Prefeitura Municipal anunciou o Plano Salvador Resiliente. A iniciativa consiste num planejamento integrado, colaborativo e de longo prazo para abordar os desafios da cidade e das pessoas no convívio urbano. Todo o trabalho, iniciado em 2016, tem a meta de construir uma cidade inclusiva, igualitária, moderna e inovadora, e que seja um legado para gerações futuras. Para tanto, a administração pública contou com a parceria do Programa 100 Cidades Resilientes (100RC) da Fundação Rockefeller.

O CORREIO Sustentabilidade ouviu com exclusividade o diretor das 100 Cidades Resilientes para América Latina e Caribe, Eugene Zapata, que abordou a proposta e falou sobre a importância da iniciativa para o futuro da primeira capital do País.

A resiliência é um conceito da física que diz que os corpos voltam ao estado original após serem submetidos à intervenção. A psicologia usa o termo para designar a capacidade de superar adversidades, mas no que consiste uma cidade ser resiliente? 

Uma cidade resiliente é aquela que se antecipa, prepara seu próprio futuro estudando forças e vulnerabilidades, preparando-se para ser melhor. Não é uma cidade que é destruída com adversidades como inundação ou terremoto. Na verdade, é um espaço que, ao enfrentar um desastre, volta a ser construída melhor. Não é um lugar que sofre e é reconstruída da mesma maneira. A resiliência urbana é a capacidade de uma cidade em aprender com os erros e converter um obstáculo em um ganho.   

2. Como se dá a participação de Salvador entre as 100 Cidades Resilientes da Fundação Rockefeller?Salvador é uma das 16 cidades da América Latina que formam o programa e tem a sorte de aprender muitas estratégias de resiliências das outras municipalidades latino americanas. Essa estratégia apresentada na capital baiana é uma das mais ambiciosas, com a função ampla de contemplar a relação dos temas que Salvador não pode ignorar, a exemplo de sua identidade e cultura; mudanças climáticas, inovação, empreendedorismo e novas economias. Não estamos preparando Salvador apenas para enfrentar desastres naturais. Estamos preparando a cidade para enfrentar qualquer desafio que ponha em risco seu futuro para os próximos 20 ou 30 anos. Muitas dessas situações não são derivadas apenas de mudanças climáticas ou da natureza. As estratégias pensadas no programa são integrais e vão servir para diversos setores e aspectos do desenvolvimento urbano e não apenas para prevenir os resultados das fortes chuvas e deslizamentos. Vamos verificar o que Salvador precisa fazer para ser uma cidade próspera, inclusiva e forte para todos.

3. Dentro da agenda de planejamento e ações de uma cidade resiliente, existe algum aspecto prioritário ou mais urgente?Todos são importantes e não existe um tema prioritário. A resiliência fala de uma integração entre diversos sistemas urbanos. Consideramos que um problema de trânsito, de mobilidade ou de transporte público, por exemplo, não se soluciona apenas com políticas de transporte e mobilidade porque os sistemas urbanos estão interligados, então as estratégias de resiliência propõem grandes caminhos para a cidade, mas vias que estão inter relacionadas. Os grandes pilares como cultura, identidade, mudanças climáticas envolvem todos os setores dessa sociedade.  

4. Como pretendem sensibilizar a sociedade para co-responsabilidade em relação à construção desse futuro resiliente?A agenda de resiliência de uma cidade não é uma agenda governamental apenas. Nós não trabalhamos apenas com a Prefeitura de Salvador, trabalhamos com a cidade de Salvador. É claro que o poder público é um ator muito importante porque tem o mandato legal e político, mas não é o único. O conselho de resiliência na cidade atua como uma aliança de diversos setores da sociedade civil, do setor privado, das universidades, tanto nacional como internacional. As estratégias de resiliência pertencem ao povo soteropolitano e não à prefeitura, pois quando mudam os poderes políticos não mudam os desafios de resiliência de uma cidade.

5. Quais as próximas ações do Plano Salvador Resiliente?A estratégia está estruturada a partir de uma visão com base nos pilares importantes e cada um deles possuem metas precisas. Para que Salvador seja sustentável, por exemplo,  é preciso trabalhar a economia circular na gestão do lixo e da reciclagem. Para cada uma dessas metas existem projetos, desde os pequenos até os maiores. Desde a sensibilização cidadã até a  infraestrutura que envolva a destinação de recursos volumosos. Em diálogo com a Prefeitura e com o Conselho de Resiliência, vamos identificar planos de ação e, a partir deles, vamos definir calendários e estratégias específicas. A nível mundial, vamos colaborar com Salvador estreitando a relação e o diálogo com os 112 parceiros internacionais que auxiliam com a proposta de criação de cidades resilientes, como o Banco de Desenvolvimento Mundial ou Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outros. Ajudamos a transformar o projeto em realidade. Tudo o que fizemos até agora e o que faremos não futuro não se restringe a um mero planejamento, é um compromisso de trabalho. O diretor das 100 Cidades Resilientes para América Latina e Caribe, Eugene Zapata, presenteou o prefeito com uma caixa confeccionada por comunidades nativas do México, cuja madeira é usada como amuleto de boa sorte e prosperidade (foto: Arisson Marinho)