Salvador não receberá doses da vacina Sputnik V

Imunizante será aplicado apenas em pessoas de cidades de médio porte na Bahia

  • Foto do(a) author(a) Carolina Cerqueira
  • Carolina Cerqueira

Publicado em 8 de junho de 2021 às 06:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Vladimir Simicek/ AFP

O final de semana e a segunda-feira (7) foram marcados por diversas reuniões. O motivo: liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para importação da vacina contra a covid-19 Sputnik V, concedida na última sexta-feira (4). De acordo com o secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, as 300 mil doses destinadas à Bahia irão imunizar 150 mil pessoas, com intervalo de 30 dias entre a primeira e a segunda aplicação. A data de chegada e as cidades de destino ainda não foram definidas.

Em publicação nas redes sociais, o secretário informou que os municípios que vão receber a Sputnik V devem ser de médio porte, conforme cenário epidemiológico local, para melhor monitoramento. Com isso, devido à grande quantidade populacional, por enquanto, Salvador vai ficar de fora.“Aqui na Bahia nós deveremos aplicar 300 mil doses, sendo 150 mil pessoas e com intervalo de 30 dias. Nós faremos isso em cidades de médio porte, que estão por ser definidas em reunião com o governador Rui Costa com base no cenário epidemiológico da taxa de contágio”, afirmou Vilas-Boas. O secretário disse ainda que a Bahia irá cumprir exigências da Anvisa referentes à checagem de lotes, envio de documentos e realização do acompanhamento da eficácia e segurança da vacina. Sobre a previsão de envio, publicou: “As vacinas devem estar aqui na Bahia cerca de 30 dias após nós iniciarmos o processo de ajuste contratual, que já está em fase avançada de conversa com os russos; são ajustes para reduzir a 1% o que havia sido pactuado originalmente”, finalizou. 

Cronograma

Também nesta segunda, representantes da Anvisa, equipe técnica do Consórcio Nordeste e Amazônia Legal, e representantes dos procuradores e secretários de Saúde dos estados se reuniram para discutir a implementação das condicionantes pactuadas entre os estados e a Anvisa. Nesta terça (8) e também nos próximos dias, devem ocorrer reuniões com o Fundo Soberano Russo e com o Ministério da Saúde para definir o cronograma de entrega das vacinas. 

“Vamos dialogar com a própria Anvisa, com o Ministério da Saúde para o mais rapidamente possível cumprir com estas regras e ter mais vacinas para mais vacinação. Já na terça-feira teremos uma agenda com o Fundo Soberano Russo, com o ministério da Saúde da Rússia para poder garantir esse cronograma. Um cronograma, esperamos, com a condição de entrega de vacinas até o mês de agosto para que a gente possa seguir salvando vidas no Brasil”, afirmou o presidente do Consórcio Nordeste e governador do Piauí, Wellington Dias. 

O secretário de saúde Fábio Vilas-Boas explicou os ajustes que devem ser feitos. “É preciso fazer um ajuste contratual porque, a partir do momento que a gente autoriza a importação, não podemos nos basear no contrato anterior, que diz que vamos executar 50 milhões de doses, o que não é factível neste momento. É uma questão legal que precisa ser ajustada”, pontuou. A declaração foi feita em entrevista à TV Bahia.

Vilas-Boas também afirmou que está sendo decidido entre Rio de Janeiro e Pernambuco qual estado irá receber os imunizantes, já que os lotes deverão passar por avaliação do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) para, então, serem liberados para distribuição. Também há discussão acerca de como será feito o monitoramento após aplicação das doses. 

“Existe uma norma geral entendida de que a gente não deve pulverizar essa vacina aleatoriamente porque nós precisamos fornecer à Anvisa dados de farmacovigilância, de efeitos colaterais da vacina. Uma decisão que foi tomada pelos governadores é de concentrar em poucos municípios para que se possa ter um acompanhamento próximo e, sobretudo, rápido, já que, uma vez aplicadas essas doses, nós teremos, em sequência, a liberação para a importação de demais doses”, ressaltou Vilas Boas. 

Para esse controle, o secretário afirmou que, para cumprir a exigência da Anvisa, o Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais do Instituto Couto Maia deverá ser utilizado para acompanhamento da vacinação.

Vacina é feita com dois adenovírus diferentes

A Sputnik V, fabricada pelo Instituto Gamaleya de Pesquisa (Rússia), foi o primeiro imunizante registrado contra a covid-19 no mundo. A vacina foi lançada pela Rússia em agosto de 2020, quando ainda tinha testes em andamento. A eficácia comprovada até agora é de cerca de 91%, podendo chegar até 97%, segundo o site oficial do imunizante. Até o momento, não há registro de reações adversas graves com ligação comprovada com a aplicação da Sputnik V.  A vacina deve ser aplicada em duas doses, com intervalo de 21 dias entre elas, podendo ser ampliado para três meses. É preciso ter atenção redobrada na aplicação, já que o conteúdo da primeira dose é diferente do da segunda. Isso porque o imunizante utiliza a tecnologia de vetor viral não replicante, com dois adenovírus diferentes, nomeados de D-26 D-5. 

Como explica o site da vacina, "vetores" são portadores que podem entregar material genético de um outro vírus para uma célula. Nesse caso, o material genético do adenovírus que causa a infecção é removido e o material com um código de proteína de outro vírus (o coronavírus) é inserido. Este novo elemento é seguro para o corpo, mas ajuda o sistema imunológico a responder e produzir anticorpos que protegem contra infecções.

Na primeira dose, o D-26 leva a proteína S para dentro das células humanas, o que causará uma resposta imune do organismo, que começa a criar defesa contra a proteína e, consequentemente, anticorpos contra o coronavírus. Na segunda dose, entra em cena o D-5, outro adenovírus que fará o mesmo papel, mas ao mesmo tempo tende a ser o diferencial mais assertivo do imunizante. Isso porque, segundo cientistas, por ter duas ‘fórmulas’ diferentes, essa vacina pode ajudar a produzir mais anticorpos contra o coronavírus e ser a responsável pela alta eficácia.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo