Salvador registra 170 assaltos a taxistas em 2018

Profissionais reclamam de falta de segurança e pedem mais abordagens aos veículos

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  • Luan Santos

Publicado em 22 de julho de 2018 às 17:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

O taxista Marco Antônio Lima, 54 anos, aceitou uma corrida para dois homens do Shopping Barra até o Lobato. Era início da noite. Na Avenida Suburbana, os 'passageiros' anunciaram o assalto, levaram celular, carteira e até as roupas do motorista. "Me deixaram só de cueca no meio da rua. Não levaram o carro, mas tiraram a chave e jogaram embaixo de uma barraca. Por sorte, um cidadão passou e me ajudou a encontrar a chave", conta. 

O caso de Marco Antônio, que ocorreu recentemente, ilustra uma situação que tem preocupado os profissionais que atuam transportando passageiros em Salvador: os frequentes assaltos. Este ano, foram registrados 170 assaltos a taxistas, segundo informações levantadas a pedido do CORREIO pela Associação Geral dos Taxistas (AGT) e repassadas neste domingo (22).

Deste total, 87 carros foram tomados de assalto e quatro veículos foram queimados, enquanto um deles não foi encontrado. Ainda constam nas ocorrências 88 furtos e um latrocínio registrado em janeiro, segundo a AGT. 

Diante deste cenário, a Polícia Militar começou, em junho, a intensificar as abordagens aos veículos de táxi e, neste sábado (21), prendeu Jonatas Silva de Jesus, 21 anos, flagrado num carro com arma e drogas. Segundo informações da Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA), equipes da Rondas Especiais (Rondesp) Atlântico patrulhavam, na Avenida Jorge Amado, quando decidiram parar o veículo modelo Voyage. 

Enquanto os documentos do taxista eram verificados, os militares encontraram com Jonatas um revólver calibre 38, munições, um tablete de  maconha prensada, 27 trouxinhas da mesma erva, uma porção de cocaína, R$ 310 em espécie, entre outros materiais. A SSP-BA não tem dados sobre a quantidade de taxistas abordados.

Esta intensificação das blitze, com exigência de que o taxista apresente o crachá de identificação, partiu de uma reivindicação da categoria, que continua reclamando da falta de medidas enérgicas da SSP-BA para combater a violência contra os profissionais. "Vamos pedir uma nova reunião com a SSP. Há casos em que os taxistas passam na blitz, o policial pede o crachá, mas não aborda o passageiro", diz o presidente da AGT, Ademilton Paim. 

Uma das reivindicações mais urgentes, segundo ele, é a criação de uma delegacia especializada para taxistas e a realização de mais abordagens voltadas só para combater os assaltos aos profissionais."Temos muita dificuldade por não termos uma delegacia especializada. Muitos são assaltados, mas acabam não prestando queixa por ficar inseguro, não ter confiança, por achar que não vai dar em nada. Além do medo de reencontrar o criminoso. Eu mesmo já me deparei com um bandido que me assaltou", afirma Paim.O mesmo motivou Marco Antônio Lima a não prestar queixa. "Esses caras sabem onde a gente trabalha, muitas vezes pegam o número do táxi. Somos pais de família, temos que nos preservar", diz. 

Outra queixa é que a SSP-BA, segundo Ademilton Paim, prometeu realizar abordagens com o Esquadrão Águia, mas isso não vem ocorrendo. 

Uma das medidas para inibir os casos de violência é o aplicativo Unitaxi, que está prester a iniciar a operação em Salvador. Segundo Paim, por meio do app será possível monitorar os veículos, que terão câmeras internas conectadas a uma central administrada pela associação.

Stiep tem mais casos O mês de março foi o que registrou maior número de casos de assaltos a taxistas, com 34 ocorrências, seguido por fevereiro, com 28. O bairro do Stiep, segundo Paim, é o que tem maior número de registros. Lá foi registrado o caso mais recente, ocorrido no último sábado (21). Um taxista pegou um passageiro no Rio Vermelho com destino a Itapuã. No Stiep, o 'passageiro' anunciou o assalto e levou objetos do motorista, mas deixou o veículo. 

O taxista Ronaldo Conceição, 33 anos, diz que nunca foi assaltado, mas conta que alterou a rotina para evitar situações suspeitas."Antes, eu rodava de noite, mas de uns dois anos para cá passei a rodar só durante o dia. Antes das 19h, eu já estou em casa. De noite só se for um passageiro conhecido que me ligar", relata Ronaldo.Medo Com pouco mais de dez anos circulando pelas ruas de Salvador, o taxista Antônio de Oliveira da Silva, 51, tem como passageiro o medo. Em frente à Praça Castro  Alves, ele franzia a testa e mantinha o olhar fixo nas notícias através do celular e comenta em voz alta: “A gente trabalha com a segurança daquele lá de cima”.  O taxista Antônio de Oliveira da Silva foi assaltado na última quinta-feira (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Antônio tinha acabado de ler sobre o assalto desta quinta-feira (19), quando um taxista foi vítima de dois homens que levaram seu carro em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). 

Ele disse que já foi assaltado duas vezes este ano. A situação mais recente aconteceu há  quatro meses, quando um passageiro pegou uma corrida em Cajazeiras IV para a rua principal do Pau da Lima. Até então, Antônio não viu maldade no passageiro. “Ele aparentava ser um cara tranquilo, não estava desarrumado e não carregava mochila e nem sacola”,  contou. 

Quando chegou em Pau da Lima, o passageiro pediu para que Antônio entrasse no Beco do Bozó. Foi quando Antônio percebeu que estava numa cilada. “A rua era muito estreita”, disse. Mas era tarde. “Ele sacou a arma a anunciou o assalto. Ele levou o meu celular e todo o dinheiro que eu tinha”, contou.  

Três vezes Na Praça da Piedade o comentário no ponto de táxi era o assalto de quinta-feira passada em Simões  Filho. “Graças a Deus que não ficarem nada com ele. Eu fui assaltado três vezes”,  comentava Hélio Andrade, 49, que há 15 anos trabalha como taxista em Salvador. 

A última investida que ele sofreu de ladrões foi em 2013. “Dois homens vestidos de  ternos entraram na Praça Piedade e pediram uma corrida para o Pau Miúdo. Nas imediações no Hospital Ana Nery, senti o cano gelado na minha cabeça e um deles disse: ‘Não faça graça, senão estouro sua cabeça aqui mesmo’. Eles fugiram levando  meu relógio, dinheiro e o celular”, contou Hélio – as outras vezes em que ele foi assaltado foram em 2005 e 2010. 

Já o taxista João Neto, 37, nunca foi assaltado nos seis anos de trabalho nas ruas de Salvador. “A gente toma alguns cuidados. Evito pegar passageiros nas ruas. Prefiro  trabalhar na porta dos shoppings e atendendo chamadas via rádio por =que tem monitoramento”, declarou.