Salvador registra pelo menos um assalto por dia a taxistas em 2019

Segundo levantamento da associação da categoria, só no mês de junho já são 29 ocorrências

  • Foto do(a) author(a) Eduardo Dias
  • Eduardo Dias

Publicado em 26 de junho de 2019 às 15:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

O assalto ao taxista Luiz Antônio Andrade, na madrugada desta quarta-feira (26), acendeu um alerta para a categoria. Preocupado com o cenário, o presidente da Associação Geral dos Taxistas (Agetaxi), Denis Paim, fez um levantamento sobre o número de registros de assalto que recebeu só este ano, em Salvador.

Segundo a associação, já foram registrados 179 casos em 2019, sendo 29 dessas ocorrências somente no mês de junho. Como o ano teve 177 dias até agora, a média é superior a um assalto por dia - cerca de 30 casos por mês. O número é muito semelhante ao do ano passado, quando foram registrados 178 casos nos primeiros seis meses do ano e 321 no total.

A associação também realizou um levantamento dos bairros mais perigosos para os taxistas transitarem. Segundo os dados, a maioria das ocorrências foram registradas em Cajazeiras, Castelo Branco, São Rafael, Federação, Itapuã, Suburbana, Liberdade, Fazenda Grande do Retiro, Stiep e Cabula, que lideram o ranking dos destinos.“Não se pode brincar com a vida dos seres humanos, já está chegando ao extremo. São quase 200 taxistas assaltados esse ano. Se continuarmos nessa situação, a tendência é, infelizmente, piorar. É uma situação deprimente", lamentou Denis Paim.O CORREIO conversou com alguns taxistas que rodam na região do Hospital Geral do Estado (HGE), onde foi registrado o último caso desta madrugada. Alguns motoristas relataram que se sentem inseguros quando levam os passageiros para alguns destinos específicos ou quando precisam transitar à noite.

Há mais de 10 anos trabalhando como taxista, Nilton Lopes, 54 anos, conta que, hoje, a categoria corre tantos riscos que chegou ao ponto de se sentirem obrigados a selecionar os passageiros que serão aceitos nas corridas. "Eu não pego qualquer passageiro mais. Ter que falar isso é constrangedor, mas a verdade é dura. Temos que escolher quem levamos no nosso táxi. O medo não me deixa levar pessoas, por exemplo, de bermuda, ou jovens sozinhos em locais desertos. Muitas vezes eles já estão mal-intencionados”, contou.

Colega de ponto de Nilton, Valmir Seles, 54, conta que em 17 anos trabalhando no local, nunca foi assaltado. Apesar disso, ele tem medo de entrar para as estatísticas.

“Sinceramente, ainda acho o número de ocorrências até baixo se comparado ao total de táxis que temos nas ruas, além de ter os casos que não são registrados. É um absurdo, porque são sete mil táxis, a situação dos transportes hoje nos deixou muito vulneráveis. Apesar de evitar alguns destinos, as coisas ainda acontecem. Eu mesmo evito rodar à noite por isso, ou até em dias de festa. Dói no bolso, mas é mais seguro ficar em casa”, contou. Ao todo, Salvador tem 7.296 taxistas atuando na capital baiana.

O taxista Roque Ramos, 45, não teve a mesma sorte. Em 13 anos de profissão, são três assaltos sofridos, sendo o mais recente deles no último dia 1º de junho, na Boca do Rio. Para o motorista, um policiamento mais intensivo durante o período noturno amenizaria os assaltos.

“Eu acho que poderia ter um policiamento mais rigoroso na cidade. Nós que rodamos à noite, dificilmente vemos viaturas, só algumas blitze, às vezes. Eu dificilmente paro para pegar alguém na rua à noite, a não ser que seja uma pessoa de idade”, contou.

O CORREIO entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública e com a Polícia Civil para saber se existem números oficiais sobre assaltos e mortes a taxistas. Através das suas assessorias de imprensa, os órgãos informaram não realizar um levantamento específico sobre a categoria.

Já a Polícia Militar informou, por meio de nota, que "o policiamento ostensivo é realizado diuturnamente" e que a PM "realiza ações específicas através da Operação Apolo, juntamente com as companhias de área, com abordagens preventivas e blitze constantes".

Segundo a polícia, "somente no mês de junho, do dia 1º até o dia 24, foram abordados na capital e Região Metropolitana de Salvador mais de 44 mil veículos duas e quatro rodas. Desses, 13.024 mil eram táxis. Desde 1º de janeiro até junho, já  foram abordados, no total, 99.497 mil táxis".

* Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier