Salvador: sobe de 16 para 41 locais com risco de infestação de dengue

Fazenda Coutos foi o bairro com maior índice de infestação, atingindo 7,4%

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  • Fernanda Varela

Publicado em 7 de maio de 2019 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fiocruz/Divulgação

Salvador teve um aumento no índice de infestação do mosquito da dengue de 1,9% para 2,7%. As informações são do novo Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (LIRAa), realizado em abril e divulgado nesta terça-feira (7), pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A pesquisa é feita a cada três meses - no último levantamento, Salvador tinha registrado redução no índice de infestação. O levantamento foi realizado em 277 localidades, entre os dias 1º e 5 de abril.

O estudo também apontou que o número de áreas de risco aumentou em Salvador. Agora, ao invés de 16 bairros, como foi registrado em janeiro deste ano, são 41 - no entanto, o número caiu em relação ao mesmo período do ano passado, com 52. Destes, o que apresenta maior exposição ao índice de infestação é o de Fazenda Coutos, que subiu de 4% para 7,4%. O com menor indicador foi o bairro da Engomadeira, com apenas 0,4% - esse número indica um baixo risco de uma epidemia na localidade.

Agora, são consideradas áreas de risco, com mais de 3,9% de indicador de infestação, os seguintes bairros: Lagoa da Paixão, Valéria II, Alto do Cabrito, Bela Vista do Lobato, Boa Vista do Lobato, Campinas de Pirajá, Marechal Rondon II, Pirajá II, Bairro Guarani, Liberdade II, Liberdade I, Calabar, Chame-Chame, Engenho Velho da Federação I, Jardim Apipema, Ondina, Federação I, Amaralina, Caminho das Árvores, Itaigara, Pituba, Rio Vermelho, Nordeste de Amaralina, Cassange, Nova Esperança, Tancredo Neves II, Lobato, Plataforma II, São João do Cabrito, Escada, Praia Grande II, Rio Sena, Mirante de Periperi, Nova Constituinte, Fazenda Coutos, Coutos I, Vista Alegre, Coutos II, Paripe I. Alguns bairros são divididos para facilitar o trabalho de campo, segundo a SMS.

O estudo também mostrou que o Índice de Infestação Predial (IIP) na capital baiana subiu de 1,9%, em janeiro de 2019, para 2,7%. Ou seja, a cada 100 imóveis visitados, aproximadamente três apresentaram focos do mosquito. No entanto, o índice é o mesmo se comparado a abril do ano passado.

Nestas casas, ainda segundo o LIRAa, a maioria dos focos do mosquito, que podem transmitir os vírus da dengue, chikungunya e zika, estão em baldes, tonéis e outros recipientes utilizados para armazenamento de água.

Até o dia 30 de abril deste ano, Salvador registrou 856 casos de dengue, 153 de chikugunya e 48 de zika vírus.

Clima contribuiu para aumento De acordo com a subgerente das Arboviroses do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Isolina Miguez, a manutenção do índice em relação ao ano passado não era esperada. "Não esperávamos porque fizemos muitas ações, intensificamos muito, então, esperávamos uma redução. Ao mesmo tempo, é natural, porque choveu bastante nesse período antes, durante e pós LIRAa", explica.

Segundo ela, um dos fatores que contribuiu com esse aumento no índice de infestação foi a chuva. Segundo ela, as condições climáticas de Salvador neste período de outono contribuem para a proliferação do mosquito.

"Vários fatores contribuem para o aumento do indicador nesta época do ano. As condições climáticas com chuvas intercaladas com momentos de forte calor facilitam a reprodução dos mosquitos. Outro fator a ser considerado é o armazenamento de água em depósitos a nível de solo, local onde as equipes de campo mais encontram focos do Aedes aegypti. Naturalmente, quando não há um fornecimento regular de água nas residências as pessoas buscam se organizar através do armazenamento em recipientes, que são prato cheio para proliferação do vetor se não estiverem devidamente tampados ou cobertos", explicou.

Foi justamente isso que fez com que o número de localidades de riscos aumentasse. "As áreas de risco são aquelas que mais possuem reservatório no nível do solo, que são baldes, penus. Foi, inclusive, o motivo de tanto aumento em Fazenda Coutos" pontua Isolina.

Para combater o problema, a Prefeitura de Salvador intensificará as ações durante o mês de maio, com o objetivo de eliminar focos e criadouros do mosquito. "Estamos mantendo as estratégias de rotina como os mutirões de limpeza nos bairros prioritários, em parceria com a Limpurb. Nessa mobilização, intensificamos as visitas casa a casa, além de trabalhos de manejo ambiental, limpeza, remoção e descarte de lixo ou quaisquer outros materiais que possam se tornar criadouros nessas localidades", afirmou Isolina, que garantiu que, com o aumento, serão feitas ainda mais ações contra o mosquito, com visitas, faxinaços e conscientização da população.

O plano de ação começa já nesta quarta-feira, quando agentes de combate às endemias realizarão uma mobilização no bairro da Vila Verde, na Estrada Velha do Aeroporto, a partir das 9h.

Aumento de casos na Bahia Só neste ano, a Bahia já apresentou um crescimento de 322% na Bahia em comparação com o mesmo período de 2018. O último levantamento foi feito no dia 17 de abril. Foram 5.871 casos notificados em 158 municípios do estado. No período de 30 de dezembro a 12 de março, foram seis óbitos por dengue.

O município com a pior situação é Feira de Santana, a segunda maior cidade do estado, que teve 2.264 casos prováveis de dengue no período, quase 40% de todas as notificações da Bahia, de acordo com dados da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Feira também concentra a maior parte das mortes: foram quatro na cidade, uma em Salvador e uma em Candeias.

Luís Eduardo Magalhães ficou em segundo lugar, com 310 casos, seguido de Paramirim com 244, Macaúbas com 206 e Riacho de Santana com 172 notificações.

Apesar de não serem os municípios com maior número de casos, algumas cidades são campeãs na incidência de dengue no estado. O índice leva em consideração o total da população. Se a incidência for maior que 100 casos para 100 mil habitantes, há estado de alerta.

O município campeão no coeficiente de incidência é Ipupiara, seguida de Wagner, Tanquinho, Paramirim, Palmeiras, Serrolândia, Lençóis, Caturama, Riacho de Santana e Santa Bárbara.

A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) registrou 508 casos de janeiro a abril deste ano. O número é menor do que o mesmo período do ano passado, quando o registro foi de 580. Houve uma redução de 12,4% nos casos, de acordo com dados da pasta.

Em nota, a Sesab afirmou que o aumento de número de casos no estado se deve ao período de outubro a maio, que é mais propício para a proliferação do vetor da dengue. A pasta ainda destacou que "entre três e cinco anos ocorre um surto de dengue".

Para combater o crescimento das arboviroses, a Sesab distribuiu 7,4 kits com 26 itens para combater o mosquito. Cada kit é composto de pesca larva, pipetas de vidro, tubos de ensaio, álcool, esponja, lanterna de led recarregável, bacia plástica, dentre outros materiais. Ao todo, foram investidos R$ 2,6 milhões na ação.

Um alerta ainda foi emitido pela pasta em janeiro de 2019 para os municípios do estado sobre o alto índice da doença.

"A Sesab solicitou que os municípios realizassem mutirões de limpeza, com atividades de vistoria e remoções de focos do vetor nas residências, juntamente com caminhadas de conscientização e distribuição de materiais informativos. A Sesab também distribuiu repelentes para as gestantes dos municípios com maior incidência do mosquito", disse a pasta, em nota.

Arboviroses Outras doenças como chikungunya e zika reduziram o número de notificações no estado. Neste ano, foram 277 casos de chikungunya em 48 municípios e 168 de zika em 39 cidades. Houve redução em 2% nas notificações de chikungunya e 50% nas de zika, de acordo com a Sesab.

Em Salvador, no entanto, o número de casos de Chikungunya aumentou de 31 casos em 2018 para 119 em 2019. A zika reduziu de 36 para 28.

Dicas básicas para manter o mosquito afastado: 1. Deixe tudo tampado (ventos tiram as tampas das caixas d'águas do lugar). 2. Lembre-se de colocar areia nos vasos. 3. Verifique o quintal e tenha atenção com o lixo. 4. Retire a água dos pneus velhos. 5. Deixe latas e garrafas bem guardadas. 6. Cuide das piscinas e caixas d’águas. 7. Utilize telas de proteção. 8. Coloque desinfetante nos ralos. 9. Atenção com potes de água dos animais e aquários. 10. Use repelentes e inseticidas.

Principais sintomas e complicações de cada doençaDengue Das três arboviroses, ela é a mais conhecida e antiga no Brasil. Os sintomas são febre alta, que geralmente dura de 2 a 7 dias, dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele. Nos casos graves, o doente também pode ter sangramentos no nariz e gengivas, dor abdominal, vômitos persistentes, sonolência, irritabilidade, hipotensão e tontura. Ao surgirem os sintomas, o paciente deve procurar atendimento médico. Geralmente, as recomendações são ficar de repouso e ingerir bastante líquido. 

Chikungunya  De acordo com o Ministério da Saúde, os primeiros casos da doença no Brasil apareceram em setembro de 2014 em Oiapoque, no Amapá. O principal sintoma é a dor nas articulações de pés e mãos, que é mais intensa do que nos quadros de dengue. Além disso, causa também febre repentina acima de 39 graus, dor de cabeça, dor nos músculos e manchas vermelhas na pele. Segundo o MS, as mortes são raras e cerca de 30% dos casos não chegam a desenvolver sintomas. Para tratar é preciso ficar de repouso e consumir bastante líquido. Não é recomendado usar o ácido acetil salicílico (AAS) devido ao risco de hemorragia.

Zika  Pacientes com essa doença apresentam febre mais baixa que a da dengue e chikungunya, olhos avermelhados e coceira característica. Normalmente a zika não causa morte, e os sintomas não duram mais que sete dias, mas vale ressaltar que ela relaciona-se com uma síndrome neurológica que causa paralisia, a Síndrome de Guillain-Barré, e também com casos de microcefalia. O paciente infectado pelo zika também pode apresentar diarreia e sinais de conjuntivite. Assim como nas outras viroses, o tratamento consiste em repouso, ingestão de líquidos e remédios que aliviam os sintomas e que não contenham AAS.