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Especialista destaca em palestra que crianças são as principais vítimas da falta de tratamento de esgoto
Jorge Gauthier
Publicado em 23 de novembro de 2014 às 17:00
- Atualizado há um ano
Saneamento básico não é só ter coleta de esgoto. É preciso ter integração com o tratamento de esgoto, oferta de água potável e coleta de lixo. Essa é a opinião de Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil. É importante fazer o ciclo completo: água potável, coleta, drenagem e saneamento. Hoje, no Brasil, temos cerca de 6 milhões de brasileiros sem acesso a um sanitário. Tem criança nesse país que não sabe nem o que é vaso sanitário. Muitos desses casos estão em zonais rurais e no semiárido”, explica.
Dados da Organização Mundial da Saúde, divulgados esta semana, indicam que cerca de 750 milhões de pessoas não têm acesso a água potável de forma sustentada no mundo, e 1,8 bilhão usam fontes contaminadas com sedimentos. O estudo apontou ainda que 2,5 bilhões de pessoas não têm acesso a saneamento adequado, e que um bilhão não tem acesso a sanitário, nove em cada dez em áreas rurais. O levantamento da OMS aponta ainda que o Brasil é o país que mais investe em saneamento básico e acesso a água potável entre nações que ainda estão em desenvolvimento – um total de US$ 11,7 bilhões.
“O saneamento ficou esquecido por décadas no Brasil. A prioridade foi sendo levar água potável para as pessoas, em uma política desde antes dos anos 70, que, bem ou mal, veio vindo até os dias atuais onde a água potável foi o indicador que mais avançou, mas ainda de forma insuficiente”. O especialista alertou que o descarte inadequado do esgoto já ameaça os oceanos. “O esgoto foi esquecido e essa tragédia que é o sistema de saneamento no país se formou. Acabamos transformando os rios urbanos em diluidores de esgoto. E mais recentemente os oceanos – mesmo com a capacidade de depuração da carga orgânica – acabaram dando sinais da dificuldade em assimilar essa carga”.
Levantamentos realizados pelo Trata Brasil mostram que o Brasil perde 40% de sua água potável e a cobertura de esgoto só chega a 51% da população brasileira. Do esgoto gerado, somente 38% é tratado. “Muitas vezes obras são feitas sem considerar o saneamento sanitário. Há áreas onde as empresas não podem entrar para fazer as obras por razões sanitárias e até mesmo de legislação de ocupação do uso dos solos das cidades”, diz. Prejuízos
A falta de infraestrutura de saneamento afeta principalmente as crianças. “400 mil internações por diarreia foram registradas no Brasil em 2011. Dessas, 53% foram em crianças de 0 a 5 anos. Essa é a face mais cruel da falta de saneamento. Uma criança submetida a uma diarreia constante durante a infância pode ser irreversível. A falta de saneamento é um tiro no futuro”.
A deficiência de abastecimento de água está relacionada diretamente com a ocorrência de doenças oriundas de esgoto. A falta de água abundante para hidratação e higiene colabora diretamente com o aumento do problema. “Em 2011, a Agência Nacional das Águas (ANA) apontava que 55% dos municípios do Brasil poderiam sofrer com a falta de abastecimento de água nos próximos quatro anos, quadro esse que se apresenta forte no país este ano no Sudeste, Norte e Nordeste”;
Apesar da escassez, o índice de perdas de água – por ligação de água irregular, falta de medição, desperdício e falta de hidrômetro – no Brasil é alto. “A média é de 36, 9% no Brasil e, no Nordeste, esse índice chega a 44.6%”.
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