Santoro está em '7 Prisioneiros', sobre trabalho escravo, na Netflix

Filme é estrelado por Christian Malheiros, de 'Sócrates'

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  • Roberto Midlej

Publicado em 11 de novembro de 2021 às 09:48

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

Em maio deste ano, a HBO exibiu a impactante série documental A Escravidão no Século XXI, dirigida por Bruno Barreto. A produção mostrava casos de pessoas submetidas ao trabalho análogo à escravidão em diversas regiões do Brasil, incluindo o caso de uma baiana mantida em cárcere privado no bairro de Itapuã.

Agora, é a vez da Netflix lançar um filme que aborda o tema, a ficção 7 Prisioneiros, que tem Rodrigo Santoro e Christian Malheiros como protagonistas. A direção é de Alexandre Moratto, de Sócrates (2018), também com Malheiros. Na produção que estreia hoje no streaming, Santoro interpreta Luca, o administrador de um ferro velho que recruta jovens para trabalhar lá e, para isso, vai a áreas em torno de São Paulo para encontrá-los.

Acreditando no "sonho da cidade grande", os rapazes encaram a mudança e deixam para trás a família, a quem prometem um futuro melhor e mais seguro financeiramente. Um desses jovens que vai trabalhar no ferro velho é Matheus, interpretado por Malheiros. O rapaz, que sonha ser engenheiro, sai da roça, onde a mãe trabalha, junto com alguns vizinhos e chega ao trabalho.

Expectativa x Realidade

Mas, chegando lá, logo os jovens veem que a realidade é bem diferente: dormem em condições sub-humanas, não têm direito a uma refeição digna, nada de carteira assinada ou qualquer direito trabalhista. Logo, descobrem que estão em um cárcere privado e são submetidos a violência física.

E, para se libertarem daquela situação análoga à escravidão, os homens precisam quitar uma dívida que adquiriram com a empresa que os explora. Mas, aos poucos, Matheus acaba ganhando a confiança de Luca, o que lhe põe diante de um dilema: servir ao seu explorador e se tornar mais um deles, traindo os colegas, ou recusar-se a isso e correr o risco de ser retaliado?

"Ele é vilão ou é mocinho? Às vezes, fico pensando que Matheus está na luta para sobreviver, mas ele está rendido, em um dilema. Qual o certo e qual o errado? Acho que não existe [o certo e o errado]. O que existe é uma situação em que ele tenta sobreviver", diz Malheiros.

O personagem de Santoro - apesar dos esforços do ator, que evolui a cada trabalho - e da tentativa do roteiro, acaba se tornando um vilão tradicional e não escapa do maniqueísmo. "Luca é um explorador, vive da exploração dos trabalhadores no ferro velho e ele não tem redenção. Esse foi o ponto de partida com o diretor, como humanizar esse personagem. Mas, de maneira nenhuma, redimi-lo, já que não há justificativa para o que ele faz".

Com Matheus, há a mesma tentativa de "humanizá-lo", de não transformá-lo nem em mocinho nem em bandido. E Malheiros também se revela muito talentoso, mas o objetivo de criar um personagem "complexo" não convence e torna-se inverossímil, muito mais por culpa do roteiro.

Nada contra a inverossimilhança, afinal o cinema pode - e, muitas vezes, deve - se desprender da realidade. O problema é quando a inverossimilhança e o maniqueísmo se confundem com essa tentativa de realismo, como em 7 Prisioneiros. Por isso, se você quer mesmo conhecer a realidade do trabalho análogo à escravidão, o melhor é ficar com a série de Bruno, já citada aqui. Real, consegue ser ainda mais chocante que o filme da Netflix, mesmo sem apelar para a violência explícita.