Se desaparecessem os homens do planeta, o que você faria?

Flavia Azevedo é produtora e mãe de Leo

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 15 de julho de 2018 às 08:38

- Atualizado há um ano

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Eu passeando pelo Facebook e surge esse post: "Se desaparecessem os homens do planeta, o que você faria? Eu sairia à noite para passear". Isso, junto com um texto de teor parecido, escrito por minha amiga que compartilhou. Eu pensei "cacete, eu morreria", e você não entendeu nada se acha que tô caindo em contradição.

Um exercício bobo? Sim, mas vamos topar. Observe que o sumiço de todos os homens não anularia a lógica machista (ou, pelo menos, ela demoraria gerações para acabar) e é ela a grande inimiga. Criada por eles, sim! Mas sustentada por homens, mulheres e pessoas de outros gêneros que, simplesmente, introjetaram e sequer questionam. Boa parte da humanidade acha normal.

Não resolveria o problema, pois. E até suspeito de que mulheres ocupariam os lugares dos machos mais escrotos (muitas já fazem isso!) porque a humanidade é podre e nem todo mundo é legal. Fora essa parte, a gente perderia o lado bom de estar com eles. Porque, como você sabe, há. Pra mim, pelo menos. E aí, até a feminista mais excludente é obrigada a ficar fora disso. É trajetória, desejo, postura, jeitinho pessoal.

(Meu texto é assinado, né? Minha viagem, minha sexualidade, minha opinião)

(E outra que eu não respeito quem quer que todo mundo seja igual)

Tenho uma amiga que comemorou dez anos sem transar com homens, por opção. Achei massa, tudo lindo. E acho normal que algumas mulheres restrinjam, ao máximo, a presença de caras em suas vidas. É um direito e eu não julgo, justamente por conhecer os motivos dessa opção radical. Mas não é a minha e tô feliz na "frição" entre gêneros. Inclusive nas ruas, nos becos, nos bares. Sim, tenho medo, às vezes. Mas tô no embate e topo essa relação.

(De boa e reclamando porque não sou obrigada a calar)

Na minha vida íntima, inclusive, não há alternativa. É quem eu sou, do que gosto, o que me atrai. Por mais que eu ame as mulheres (e amo, cada vez mais), a vida sem cheiro de testosterona, barba e cuecas no banheiro, simplesmente não é uma opção. Acho triste, sinto falta. Não posso fazer nada. Que eu saiba, não é algo que eu possa mudar.

(Talvez isso passe depois da menopausa, se eu não fizer reposição hormonal)

Assim como eu, muitas mulheres. A gente gosta, a gente quer. A gente desanima diante da maioria dos exemplares. A gente sempre espera mais do que eles têm pra dar. A gente educa os filhos para que sejam homens melhores. A gente aposta nos namorados, amigos e maridos. A gente tem fé.

(E foco! Vamos lá!)

Eu não perco as esperanças (pode rir, tá?). E sempre depois de um período "quero ficar sozinha, que se danem os macho tudo", aparece um cheiro, um jeito, um olhar, uma boca... e olha lá ela de volta ao começo, querendo acreditar. "Lá vem uma exceção andando ali", já pensei dezenas de vezes. Na maioria delas, quebrei a cara, mas a vida é isso. Num momento, a gente escuta "é mentira!", que nem quadrilha de São João. E segue o baile, uma hora vai.

"Ela não gosta de machismo", um paquera disse, outro dia, me apresentando a alguém, sem entender que o buraco é bem mais embaixo. Mas tá valendo, já pegou a visão. Só que não é só "não gostar". É não topar nem pelo melhor sexo do mundo, é bancar ser "a louca da casa", "a chata do Natal", a "sem graça" que questiona a piada do tiozão.

É dar de cipó no lombo de quem mandou dar. É não abaixar a cabeça, não ceder nem um tico. É levantar a voz, exigir respeito, se colocar ombro a ombro. Não é mais negociar. Nenhum direito a menos. Nenhuma concessão, mais.

É nem querer mais, muitas vezes, porque a gente também cansa. É preferir ficar em casa e dane-se aquele jantar. É desanimar percebendo que o homem que eu desejo MESMO, ainda não conheci e que a relação que eu imagino, não vejo, na maioria dos casais.

Mas, sumir? Não sumam não! Deusmelivre dessa condenação. Querer existir plena, querer estar inteira, ser inegociavelmente dona de mim, não significa odiar, querer que os homens morram e essa é a confusão que muita gente boa faz.

(E cansa tanto quanto macho babaca, devo informar)

Só que é bem fácil entender. Resumindo, simplificando, desenhando, é assim: se uma pessoa não quer ser sua escrava, estar submetida, ter menos direitos e viver a sua mercê, significa apenas que ela gosta dela mesma. E só uma lógica doente pode entender isso como uma declaração de que ela não gosta de você.

(BTW: Procura-se homem que não seja vítima profissional nem algoz na intimidade, que tenha maioridade mental, saiba andar lado a lado e goste de mulheres reais)

(Mentira, nem tô "procurando"... mas, vai que... sei lá)