Secretário rebate acusações de Flávio Bolsonaro e rejeita 'questão política'

Vídeo divulgado pelo senador mostraria corpo do miliciano; autenticidade não é reconhecida pela SSP

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  • Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2020 às 19:34

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Arquivo

O secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, comentou nesta terça-feira (18) um vídeo que foi publicado pelo senador Flávio Bolsonaro que mostra um corpo que seria do miliciano Adriano da Nóbrega, morto em operação policial na Bahia. Barbosa rechaçou as acusações feitas pelo senador, que criticou a perícia da polícia baiana na sua postagem. 

"A Secretaria da Segurança Pública da Bahia vai continuar com aquilo que nós começamos a fazer desde antes mesmo do dia do fato, que é o auxílio que nós prestamos à operação do Rio de Janeiro. (Vamos) agir com a máxima transparência, com a máxima intenção de ajudar instituições como o Ministério Público e a Justiça, e não trazer confusões e nem teorias políticas a respeito de um trabalho eminentemente policial”, afirmou Barbosa.

Em seu post, o filho do presidente Jair Bolsonaro colocou em dúvida o trabalho da polícia baiana. "Perícia da Bahia (governo PT), diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros a queima-roupa (um na garganta de baixo p/cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões", escreveu Flávio.

Segundo o secretário, o vídeo divulgado não é reconhecido como autêntico nem pela perícia baiana, nem pela do Rio de Janeiro. Ele destacou que as imagens não foram feitas nas instalações oficiais de um instituto médico legal. "Então nós temos a clara convicção de que isso é para trazer algum tipo de dúvida, de questionamento, a um trabalho que ainda não foi concluído", acredita.

Barbosa destacou também que o trabalho ainda não foi concluído e diz que a SSP não vai permitir que pressão política interfira nisso. "Eu reforço aqui o posicionamento das nossas instituições, a transparência com que estamos agindo e não vamos deixar que, por uma questão política, ou por qualquer outro motivo, qualquer outro interesse que esteja por trás disso tudo, venham trazer qualquer tipo de questionamento prévio, sem antes termos a conclusão da nossa investigação, das nossas perícias, e que o Ministério Público e a Justiça se posicionem quanto a isso”, diz.

O secretário diz que há um prazo para que a perícia seja finalizada. "Nós fomos instados a comentar o resultado da perícia, e foi claramente indicado pelo perito que não havia sinais de execução, nem sinais de tortura no corpo que foi avaliado”, diz. Ainda restam outras perícias a serem feitas e testemunhas seguem sendo ouvidas, acrescenta.

O vídeo abaixo foi divulgado por Flávio Bolsonaro. As imagens são fortes:

Perícia Diretor do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), o perito médico legista Mário Câmara afirmou que foi surpreendido pela divulgação do vídeo e que como a imagem não foi periciada não é possível confirmar sua autenticidade. "“Não sabemos se foi adulterado, onde foi feito, não sabemos se o corpo é realmente do senhor Adriano. Então não faremos comentários sobre o vídeo. O que eu posso dizer, é reiterar que o laudo pericial foi feito por um perito médico legal especialista na área, com formação e balística, muito experiente em casos como este", garante.

Para Câmara, o caso em questão não é tecnicamente difícil. “O laudo pericial descreve exatamente os orifícios de entrada, os orifícios de saída, a trajetória dos projéteis, a angulação, não há nenhum sinal de tortura no corpo, não há sinal, no corpo, de execução. Há sinais sim, pela angulação dos projéteis, de um confronto com a polícia. Agora é preciso complementar com outros laudos, com a investigação policial. Essa história toda, essas filmagens que estão aparecendo, não são técnicas, são argumentações de leigos que nos ofendem bastante”, diz.

Ele lembra que o IMLNR foi o primeiro instituto médico legal do país e tem boa reputação. “Daqui saíram os especialistas que formaram a medicina legal em São Paulo, no Rio de Janeiro. Todos os nossos peritos são pós-graduados, têm mestrado, doutorado, não é gente que não tem experiência no assunto. Ninguém tem mais experiência para fazer esse tipo de procedimento do que o perito médico legista. Então nós estamos seguros do que nós fizemos e responderemos perante o juiz como sempre fizemos, vamos esclarecer ao juízo eventuais dúvidas que por acaso apareçam”.

Vice-presidente do Sindmoba (representa médicos legistas e odontolegistas da Bahia), Murilo Safira disse que imagens em vídeo não fazem parte do protocolo oficial de necropsias, apenas imagens em foto. “Geralmente, quem faz essas imagens e acaba vazando para o público são funcionários terceirizados que atuam nos DPTs. Funcionários do Estado que fazem isso estão sujeitos a punições que a depender do caso podem resultar em exoneração”, disse.