Sem apoio, Filhas de Gandhy desfilam apenas um dia no Carnaval

Em julho de 2019 bloco completa 40 anos de criação

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  • Da Redação

Publicado em 1 de março de 2019 às 22:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo CORREIO

Neste Carnaval, o afoxé feminino Filhas de Gandhy completa 40 anos de criação, mas, pela primeira vez, o bloco não conseguiu apoio para sair nos três dias da folia e foi obrigado a reduzir o desfile para apenas um - a segunda-feira (4), no circuito Dodô (Barra/Ondina). Desfile no Carnaval de 2017 (Foto: Arquivo CORREIO) Segundo a presidente e fundadora do bloco afro, Glicéria Vasconcellos, o grupo não conseguiu a inclusão da agremiação no Carnaval Ouro Negro – um programa do governo estadual que oferece apoio para entidades de matriz africana dos segmentos afro, afoxé, samba, reggae e de índio, que desfilam no Carnaval de Salvador.

“Tive que adaptar nosso estatuto para se adequar ao edital e reunir um monte de papelada para tentar o patrocínio, mas, mesmo assim, não conseguimos. Contratei até uma pessoa para cuidar disso, mas não fomos contempladas. Isso me deixa muito triste, porque as Filhas de Gandhy são uns dos poucos blocos femininos que ainda resistem”, afirmou.

Nste ano, a madrinha da agremiação será a cantora baiana Maria Bethânia. Ela divulgou um vídeo em que homenageia as integrantes do bloco e as chama de guerreiras.“Elas completam 40 anos fazendo mais que festas, celebram o estar da mulher no mundo. Mulheres que passeiam pelas ruas espalhando o brilho dourado de Oxum e o mistério das suas águas”, disse a intérprete.

O tema do desfile será uma homenagem aos Filhos de Gandhy, bloco masculino que completa 70 anos de existência em 2019, e do qual derivou a agremiação feminina voltada para as esposas, mães e namoradas dos associados.

A secretária de Cultura do Estado, Arany Santana, comentou, durante o lançamento da programação do Carnaval do governo do estado, na terça-feira (26), sobre o corte de algumas entidades na última edição do edital Ouro Negro. Segundo ela, o principal entrave foram questões legais.

“As exigências para acessar o dinheiro público são normais, mas muitas entidades tiveram dificuldades de acessar, porque não tinham estrutura ou condições de continuar no programa. Simples assim, porque ou ela está legal para receber o erário público ou então eu vou ter que responder por isso. As causas dessas entidades ficarem de fora passam por essa questão”, afirmou. Bloco foi criado em 1979 e desfilou pela primeira vez em 1980 (Foto: Arquivo CORREIO) Despesas Tradicionalmente, as Filhas de Gandhy desfilam no sábado, no circuito Batatinha (Pelourinho), na segunda-feira e na terça, no Circuito Osmar (Campo Grande). Glicéria contou que, quando percebeu que não conseguiria o apoio do governo, buscou outras alternativas com políticos.“Colocar um bloco na rua custa caro. São despesas com as roupas, com o trio, com a segurança, a equipe, alimentação, enfim, não é barato. No ano passado, conseguimos R$ 130 mil com o edital. Foi apertado, mas desfilamos. Estava preparando o comunicado de que este ano não iríamos à rua, quando surgiu o patrocínio da Bahiagás”, contou.O afoxé sai nas ruas de Salvador desde o Carnaval de 1980, mas o bloco nasceu meses antes, em 2 de julho de 1979. Há quatro décadas, mensagens sociais importantes, como a defesa do direito das mulheres, o combate ao racismo e um grito contra a intolerância religiosa são bandeiras levantadas pelo bloco.

Este ano a fantasia custa R$ 200 e, apesar da maioria das foliãs fazer a compra com descontos, não haverá roupa suficiente para as mais de 800 associadas, porque foi possível fazer apenas 600 vestimentas. O telefone de Glicéria não para de tocar com pedidos, mas não há o que ser feito. “Pretendia fazer uma linda homenagem no desfile, mas não posso. A pior coisa é sonhar e não poder”, concluiu.