Sem perder a majestade: conheça antigas rainhas de carnavais de Salvador

Primeira rainha do Ilê, primeira vencedora do Fantasia Gay e primeira Rainha do Carnaval de Salvador unânime contam suas histórias

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  • Daniel Silveira

Publicado em 27 de fevereiro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Renato Santqana/CORREIO

O ditado diz que "quem é rei nunca perde a majestade". E se isso vale para o homem, vale também para as rainhas. Por causa disso, fomos atrás de donas de coroas de antigos carnavais de Salvador para falar mos um pouco de suas histórias. Elas mostram porque se tornaram rainhas, contam como lidam com a realeza e espalham fantasia e festa por aí. Dá uma olhada! Mirinha é a primeira rainha do bloco Ilê Aiyê e foi eleita há quase 45 anos (Foto: Renato Santana/CORREIO) A Deusa do Ébano “Alguns me chamam de Tia Rainha, outras de Mãe Rainha, é uma felicidade”, conta Mirinha, primeira rainha do Ilê Aiyê. Ela tinha 15 anos quando ganhou a coroa. “Em 1975, não tinha a Noite da Beleza Negra, era diferente do que é hoje”, lembra. Dez meninas foram pré-selecionadas numa noite de festa e Mirinha saiu vencedora.

“Foi simples, porém bonito, até porque hoje ele está lindo”. Para Mirinha, o valor do concurso é o status de rainha dado pelo Ilê a uma mulher negra, algo incomum na época. “Ser uma rainha negra é um orgulho enorme e o Ilê tem uma participação muito grande na conscientização do povo negro”, comenta. (Foto: Renato Santana/CORREIO) Atualmente mãe de três filhos e com 60 anos, Mirinha ostenta o título de primeira e é espelho e segurança para as outras rainhas do bloco. “Eu tenho orgulho das que vieram depois e das que ainda virão”, conta. Para as que sonham com o título, aconselha: “Se é isso que quer, corra atrás, quando a gente quer uma coisa tem que  batalhar para ter”.

Quase 45 anos depois de ser coroada, a emoção ainda toma conta dela, como aconteceu no sábado passado, quando subiu no palco da Noite da Beleza Negra, que elegeu Daniele Nobre como a rainha deste ano. “Quando eu ouvi gritarem meu nome, senti as lágrimas descerem no rosto”, diz. E celebra não ter sido esquecida: “Tanto tempo depois ainda ser lembrada é uma emoção". Cissa Brito venceu o concurso Rainha do Carnaval por unanimidade: amada pelo público e pelo júri (Foto: Renato Santana/CORREIO) Rainha das rainhas A história de Cissa Brito é mais uma prova de que quem é rainha nunca perde a majestade. A 55ª vencedora do concurso Rainha do Carnaval de Salvador assumiu a coroa em 1998. Cissa foi a primeira na história do concurso a gabaritar entre os jurados. “Eu acabei com 80 pontos, tirei nota máxima em todos os quesitos”, relembra.

Aos 43 anos, não é só na faixa real que ela carrega o orgulho de ter vencido, atualmente é responsável pela direção artística do concurso, assumindo desde 2014, depois da morte do estilista Di Paula. “Antes disso eu também fazia a produção de meninas para o concurso, algumas chegaram a ser rainhas ou princesas”, conta. (Foto: Renato Santana/CORREIO) Mas o concurso é apenas uma parte dos trabalhos que ela desenvolve como coreógrafa, atriz e diretora. Formada em Dança pela Fundação Cultural do Estado da Bahia - Funceb, Cissa viaja o mundo com a Companhia de Dança e Teatro Brasil Colorido. “Com esse trabalho, conheci a Europa quase toda, Japão, alguns países do Oriente Médio, Egito e China, levando a cultura popular brasileira”, relata.

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Quando não está em turnê, se empenha em garantir a continuidade do concurso Rainha do Carnaval. “Não podemos deixar que isso morra”, comenta. E declara a emoção ao ver que a tradição segue viva. “Quando vejo uma menina sendo coroada, fico muito feliz, é como se fosse eu”, diz.

Reconhecida como uma das mais memoráveis rainhas, Cissa deixa um recado para as mais novas: “Precisam saber o que querem de verdade, que seja uma menina politizada, que tenha clareza de sua identidade cultural, que ame a cultura popular, o Carnaval da Bahia e que queira manter a tradição da Rainha do Carnaval e sua corte”. Morando na Europa atualmente, Monalisa foi a primeira a vencer o concurso Fantasia Gay (Foto: Divulgação) Diretamente da Europa Em 2019, o Concurso de Fantasia LGBT completa 22 edições, e a primeira a carregar a coroa dessa festa, apesar de baiana, não morava  no Brasil na época. “Eu tinha acabado de chegar da Europa e aí Marcelo (Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia) me convidou para participar”, lembra a travesti.

Monalisa conta que participou do concurso como uma grande brincadeira. “Na época, como estava começando, não tinha estrutura de palco, foi simples, mas foi maravilhoso”, diz. Atualmente está em Milão, na Itália, ela afirma que o acontecimento tem tanta importância em sua história que até hoje ela guarda o troféu. "Está em uma casa que eu tenho na Ilha", conta.  Filha de Nazaré das Farinhas, veio para Salvador aos 14 anos e, depois de morar em São Paulo e na Europa, viveu na coroação uma consagração. “Quando cheguei na Bahia, construí minha vida, todo mundo me achava muito bonita e por isso me chamaram”.  

Ela acredita que, além de dar visibilidade para a comunidade LGBT na época, principalmente para travestis, ajudou a fazer o concurso ser notável. “Eu já era famosa quando participei”, diz. E claro que sua coroa serve, até hoje, de inspiração. “Tem muita gente que se espelha, me vê bonita, me vê como uma travesti que cresceu na vida”, relata a musa.Siga o Bazar nas redes sociais e saiba das novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, decoração, tecnologia, pets, bem-estar e as melhores coisas de Salvador e da Bahia: