Senhora da voz: Lia Mara recebe homenagem da Escola de Teatro

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  • Da Redação

Publicado em 3 de janeiro de 2019 às 11:07

- Atualizado há um ano

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Os atores veteranos do Brasil podem até ficar enciumados. Afinal, ao contrário do que acontece na Inglaterra, não costumamos nos referir a eles como “cavalheiros do teatro” quando queremos enaltecer aquelas figuras respeitáveis da velha guarda que se tornaram referências da tradição de uma arte. É diferente da reverência que fazemos às damas do tablado, as estrelas que povoam o imaginário do público ao longo de gerações como mulheres quase míticas. Rainhas do teatro, muitas vezes pioneiras no ofício, elas são como as atletas olímpicas. Carregaram as tochas no passado com o legado de passá-las para novas atrizes. Tornaram-se símbolos de uma cultura com histórias dotadas de inestimável valor de memória.

O teatro baiano também possui sua galeria estelar. Uma dessas damas é Lia Mara, a senhora da voz. Temos falado pouco de Lia. Precisamos falar mais. Aos 86 anos, a artista de cordas vocais potentes é uma herança viva das artes cênicas na Bahia. Na década de 1970, consagrou-se como a protagonista do espetáculo A Casa de Bernarda Alba, dirigida por José Possi Neto, um dos marcos da cena local com grande repercussão em Salvador e em São Paulo.

Formada em direção teatral, Lia Mara trabalhou com outros grandes diretores, sobretudo os que atuaram na capital baiana nas décadas de 1950 e 1960, dentro do circuito universitário de vanguarda da época do reitor Edgard Santos. A lista inclui nomes como o maestro alemão Hans Koellreuter, o diretor americano Charles McGaw e o encenador pernambucano Martim Gonçalves, fundador da Escola de Teatro da então Universidade da Bahia.

A mesma escola onde Lia Mara, na última quarta-feira, foi aplaudida de pé. “A arte é uma saída para o abismo”, emocionou-se a dama ao ser homenageada por docentes e estudantes do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA na tarde do lançamento das novas edições da revista Repertório. A publicação eletrônica do PPGAC traz Lia como destaque nas páginas virtuais de seu 30º número. Diante do público que foi saudá-la no Teatro Martim Gonçalves, a homenageada deu lições de amor ao ofício. Mesmo andando com dificuldades, ela manteve a leveza ao nos ensinar que “para levar o teatro a sério, é preciso brincar”.

A brincadeira lhe rendeu uma carreira de respeito, no palco e na sala de aula como educadora da voz. Durante a homenagem, o diretor Luiz Marfuz ficou impressionado ao constatar que o tempo não ofuscou a qualidade vocal da veterana. É mesmo impressionante. Lia Mara ainda mantém pleno domínio do seu principal instrumento de trabalho. Pode fazer “voz de veludo” ou “voz de arame farpado” com a mesma limpidez. Com Lia, seguimos aprendemos sobre o valor da fala com emoção, do som com afeto e, principalmente, da arte com paixão.

Marcos Uzel é jornalista e professor da Faculdade Jorge Amado

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