'Sensação de impunidade aumenta a criminalidade', diz especialista

Após a morte de um soldado, Feira registra 17 assassinatos em um único final de semana

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  • Gil Santos

Publicado em 19 de junho de 2018 às 04:30

- Atualizado há um ano

O doutor em criminologia e professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Eduardo Paes Machado, diz que é frequente uma série de homicídios ocorrerem após o assassinato de policiais. Foi assim em Salvador após a morte do cabo Gustavo Gonzaga da Silva, 44 anos, na Santa Cruz. Depois do assassinato brutal do PM, que foi torturado e mutilado, 29 pessoas foram mortas na capital.

Foi assim também em Feira de Santana, a 100 quilômetros de Salvador, depois do latrocínio do soldado Wagner Silva Araújo, no último sábado (16). Foram mortas 17 pessoas no fim de semana quando costumam ocorrer cinco crimes. A Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) informou que a participação de grupos de extermínio nas 17 mortes está sendo investigada pela Polícia Civil e pela Corregedoria-Geral da Polícia. Famílias aguardam por informações de vítimas no DPT de Feira (Foto: Evandro Veiga) Machado observa que essa violência desencadeia outros atos violentos, cada vez mais intensos. “As mortes acontecem como se fossem represálias, e isso alimenta uma espiral de violência que fica cada vez pior. Os crimes que acontecem em seguida, como assaltos, por exemplo, costumam ser mais violentos. É lamentável que tudo isso aconteça. As vítimas são, na maioria, jovens e pessoas que vivem em uma situação vulnerável”, disse ele.

O professor e pesquisador explica ainda que a sensação de impunidade aumenta a criminalidade e provoca uma sensação de insegurança. Ele citou o Mapa da Violência como um exemplo de comprovação dessa escalada da criminalidade nos últimos anos.

Solução Ele acredita que a solução para esse problema tem três eixos. Primeiro seria preciso existir uma prevenção social, através da educação nas escolas e na família. Depois, seria necessário promover uma cultura de paz, através de campanhas midiáticas contra a violência.

“Além disso, é preciso que exista uma repressão qualificada, como melhorar a taxa de esclarecimentos dos homicídios, por exemplo. No Brasil, de 5% a 10% dos crimes são esclarecidos, enquanto em sociedades mais desenvolvidas o número é de 60%”, disse.