‘Sensação de um pai que perdeu filho’, diz paisagista sobre Parque Costa Azul

José Tabacow diz que perda da área seria irreparável e se dispõe a acompanhar caso e ajudar

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  • Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2018 às 10:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO

O arquiteto José Tabacow foi o responsável pelo paisagismo do Parque Costa Azul, inaugurado em 1995 pelo governo do estado da Bahia. A parte urbanística foi projetada por Manoel Lorenzo, enquanto Oton Gomes pensou o desenho principal do parque, que hoje sobre com abandono e insegurança.

Em entrevista ao CORREIO, Tabacow contou que vê com muita tristeza e decepção a atual situação do parque. “Se quiserem, eu me disponho a acompanhar e ajudar no que for possível, para implantar de uma forma mais coerente o que foi projetado e aprovado por eles”, diz. Hoje, ele mora em Florianópolis (SC).

Qual foi a ideia inicial para o Parque Costa Azul? Um espaço que privilegiasse as pessoas, não tanto as plantas. Por isso, a proposta de predominância de árvores sobre piso. A equipe procurou integrar o parque com a vizinhança urbana, tanto que propôs a passarela que conecta, complementada pela ponte sobre o Camarajipe, as ciclovias da orla e Pituba.

Qual a sensação de ver esse projeto abandonado? A sensação é a de um pai que perdeu o filho! Não só eu, mas os outros profissionais fizeram um grande esforço para dotar a cidade de um espaço agradável, que atraísse as pessoas. Todo esse esforço, o dinheiro do contribuinte para pagar projetos e execuções, foram jogados no lixo.

Qual a importância do paisagismo para um local de lazer? O que o paisagista busca é fazer com que o local seja atraente para os usuários, os habitantes da cidade. Na minha concepção, isso não tem nada a ver com trazer a natureza para o ambiente urbano. Acho que quem quiser contato com a natureza tem que ir onde a natureza, entendida como ambiente natural, está. A cidade é o habitat humano, Deve ser modificada à vontade, para se tornar mais confortável, mais seguro e mais saudável, como é, aliás, o habitat de qualquer espécie de planta ou animal. 

Qual o impacto de uma eventual perda de espaço como o do Parque Costa Azul? A perda de uma área de lazer, um espaço livre no tecido urbano, é irreparável. Durante muito tempo, as praças e demais espaços livres foram encarados como reserva de terreno para as diversas finalidades. Muitos prefeitos decidiam construir escolas, postos de saúde, museus e outros tipos de edifícios  nestes espaços. Felizmente, com o aumento da consciência dos cidadãos e a organização em associações comunitárias, esta tendência desapareceu, embora alguns fatos  isolados ainda ocorram. Mas, o povo, hoje em dia, sabe o valor que tem uma área livre, dentro do emaranhado de construções que uma cidade não planejada apresenta.

Se fosse convidado para restaurar o parque, o que faria na parte de paisagismo? Eu tentaria implantar o que nunca foi executado, embora constasse do projeto. Logo depois de ganharmos a licitação, fiz um cuidadoso levantamento das plantas que poderiam ser usadas ali, apesar dos fortes ventos da orla que, como todos sabem,  não deixam as plantas sobreviverem naquele ambiente, com raras exceções. O que eu propus, incluindo o viveiro de mudas no outro lado do rio, junto à ponte, era uma experiência que seria benéfica para toda a orla da cidade do  Salvador. Com essas experiências, nós poderíamos ter usado algumas árvores que provessem sombra ao espaço. Eu insistiria nisso.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier