'Ser feminista é ser exatamente como você quer ser', diz Jout Jout

Convidada da Flica, a youtuber fluminense conversou sobre padrão de beleza, feminismo, polarização de opiniões. Confira.

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  • Laura Fernades

Publicado em 7 de outubro de 2017 às 15:02

- Atualizado há um ano

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“As pessoas veem o feminismo muito como ‘tudo sapatão, com pelo no sovaco’. Ser feminista é ser exatamente como você quer ser, porque é seu direito”, defende a youtuber fluminense Julia Tolezano, 26 anos, a Jout Jout, ao CORREIO. Sentada em uma poltrona do Hotel Pousada Convento do Carmo, em Cachoeira, com os cabelos molhados e bem à vontade, Jout Jout, conversou sobre temas como autoconhecimento, padrão de beleza, feminismo, exposição na internet e polarização de opiniões.

A importância de eventos de literatura como a Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) também entrou no papo, já que Jout Jout é uma das convidadas da Flica neste sábado (7), às 14h, para particpar da mesa Verbos Implacáveis, Surtos Criativos, Angústias Favoritas. No encontro, a youtuber compartilha vivências de uma forma descontraída, por meio de um bate-papo com Tia Má, personagem da jornalista Maira Azevedo. Antes do evento, confira o bate-papo completo com a dona do canal JoutJout Prazer.

Qual é a importância de um evento como a Flica? Em quais outras circunstâncias certo público viria para Cachoeira? É legal isso. O pessoal do Brasil não tem muita noção do Brasil. Nem quem tem condição de conhecer vai para o Brasil, prefere ir para fora. O que também tudo bem, a gente não tem que ditar para onde as pessoas têm que ir. Mas acho que esses eventos deixam o ‘ir conhecer o Brasil’ mais cool, sabe? A pessoa fala: “ah, eu vou em uma Festa Literária Internacional, na Bahia”. Acho que soa legal, é mais atrativo (risos). E é ótimo para quem está aqui, também. Desde 2008 eu vou para a Flip, em Paraty, e na Flip sempre tem algum protesto na cidade, como dizendo que está faltando educação por exemplo. A cidade está cheia e a própria cidade quer ser ouvida. Então essas coisas são legais, para te fazer pensar um pouco fora da caixa.

Sua vida é um livro aberto na internet. Teme uma exposição excessiva? Eu calibro muito bem o que eu mostro e o que não mostro. Parte desse trabalho que é ser youtuber é você mostrar um pouquinho da sua vida. Mas não sou muito boa nisso, porque não sou muito das redes sociais. Então eu compartilho realmente o que eu quero muito compartilhar. Não sei se é por medo de superexposição, acho que é mais uma coisa de “eu tenho meus assuntos”, porque nas poucas coisas que você compartilha já tem gente dando opinião em cima. Então eu tento manter essa pequena fronteira.

Você compartilha situações cotidianas que repercutem nas redes sociais e até polemizam. O que acha disso, em tempos de polarização de opiniões e ânimos aflorados? Toda discussão é sempre ótima. Tem aquele negócio de “toda a unanimidade é burra”, sabe? Mas, ao mesmo tempo, tem umas coisas bem absurdas que também, de certa forma, te instigam a falar “meu deus, isso é absurdo, precisamos lutar para mudar isso aqui”. Às vezes é maligna essa polarização tão intensa, mas ao mesmo tempo faz você pensar em por que isso esta acontecendo, por que chegou até aqui. É uma fase. Esses momentos são necessários para chegarmos em outros momentos mais tranquilos e que façam mais sentido pra gente.

Você recusa o papel de ‘princesinha’ e mostra um outro lado da mulher. De que forma isso ajuda o feminismo? Não que faça sentido, mas uma coisa que acontece é que a gente precisa de “permissão” de alguém pra fazer as coisas do jeito que a gente quer. Acontece inconscientemente. Aí quando você vê uma pessoa meio descabelada, sem maquiagem, pouco arrumada, você fala: “Eu sou assim também! Se ela está sendo assim na internet, pra todo mundo ver, tudo bem eu ser assim também”. Então é meio uma coisa de te tranquilizar, tipo “relaxa aí, você pode ser do jeito que você é que está tudo bem”. E também um discurso de “confirme isso com suas atitudes”. Você meio que pensa isso dentro de casa, mas você sai de casa e às vezes sua empresa exige que você use maquiagem, que você se arrume de certa forma que não é confortável para você. Só essa consciência de saber o que está acontecendo com você, esse autoconhecimento é top.Quando você vê uma pessoa meio descabelada, sem maquiagem, pouco arrumada, você fala: “Eu sou assim também! Se ela está sendo assim na internet, pra todo mundo ver, tudo bem eu ser assim também” (...) Só essa consciência de saber o que está acontecendo com você, esse autoconhecimento é topQuem é o seu público e, em sua opinião, porque seu sucesso é grande entre os adolescentes? Meu público é um pouquinho mais velho, jovens adultos de 16 a 35 anos. É uma galera mais velha, mas acho ótimo que pegue adolescentes também. Eu queria que pegasse mais adolescentes, inclusive. Porque essa galera é que vai ser os “cagados” ou os “ótimos” do futuro, sabe? (risos) É até um exercício que preciso fazer pra falar com esse pessoal mais novo, porque queria muito falar com essa galera de 12 anos, sabe? Até tem e recebo e-mail de gente falando “sou feminista por sua causa” e é a coisa mais linda do mundo. Mas é pouco ainda, eu acho. Tinha que ter mais.

O que é o feminismo pra você? Muita gente vê como uma prisão, umas regras que te aprisionam, mas acho que é uma coisa que te liberta tanto. As pessoas veem o feminismo muito como “tudo sapatão, com pelo no sovaco”. Ser feminista é ser exatamente como você quer ser, porque é seu direito. Feminismo pra mim é isso.

Você é formada em jornalismo, não é? Isso, me formei há cinco anos. Mas não curti muito jornalismo não, preferi ser youtuber (risos). Já me formei sabendo que eu não ia fazer!

Por que você não seguiu o jornalismo? Ética! Eu inventava as matérias (risos). Os princípios básicos do jornalismo eu não seguia. Eu sabia muito a estrutura, mas aí eu ficava floreando... Esse negócio de checar fato, eu não checava nada (risos).

Qual é o poder da literatura? A grande parada da literatura é que você dá uma viajada boa e você está na sua sala. Você vê o mundo pelos olhos de alguém e ver outras realidades, você sai completamente da sua bolha. Com o livro, você vai pra uns lugares e tempos que não iria sem ele, futuros que você não conheceria sem ele. Então é um registro muito importante. É como se você tivesse um autor falando com você! Olha que coisa maravilhosa? Você e o cara, ou uma mina, no seu quarto, antes de dormir, batendo um papo. É essa viagem do seu quarto, mesmo estando no seu quarto.