Sergio Costa: família, amigos, Flamengo, jornal...todos perderam um apaixonado

Ousar foi o que ele fez diante da vida, de quem se despediu no último domingo

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 8 de março de 2016 às 07:56

- Atualizado há um ano

Querido e admirado, Sergio Costa, diretor executivo do CORREIO, tinha mais de 30 anos de jornalismo(Foto: Evandro Veiga)Chefe, eis uma abertura de texto ruim. É de propósito, só para ver se você volta para puxar nossa orelha.Sergio Costa, diretor-executivo do CORREIO (nosso chefe), nos pedia sempre para abrir os textos com ousadia, mas jamais nos preparou para escrever este texto. Ousar foi o que ele fez diante da vida, de quem se despediu no último domingo. Carioca, filho de mãe baiana, Sergio nasceu no estrangeiro: na antiga Tchecoslováquia, em 1960, período em que o pai, o também jornalista Flávio Costa, vivia no Leste Europeu. Depois, passou parte da infância e adolescência na França. Mas a formação como jornalista foi na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde ingressou em 1979.Depois de formado, trabalhou nas extintas revistas Ele e Ela e Manchete e também nos jornais O Dia e Folha de S. Paulo (sucursal do Rio). Teve ainda uma passagem pela ONU, em Nova York. Em 2009, porém, decidiu ser criativo na terra da criatividade. Em abril daquele ano, desembarcou em Salvador, acompanhado da esposa, a também jornalista Rachel Vita, e da filha mais nova, Júlia. Poucos meses após a reformulação gráfica do CORREIO, Sergio chegou para dar sua cara ao projeto, como diretor de redação. Em 2010, sob seu comando, o jornal conquistou a liderança no mercado baiano. Em setembro do ano passado, Sergio assumiu a diretoria executiva. Mas, na noite de domingo, aos 55 anos, um infarto interrompeu todas suas paixões,  planos e sorrisos. Aventuras baianasPaixões, planos e sorrisos que os amigos lembram já com saudade. Na faculdade, junto com o cineasta Hermann Nass e os também jornalistas Fernando Molica e Oscar Valporto, formaram um quarteto que permaneceu para sempre unido. Hoje foi o dia em que, há 37 anos, os quatro começaram a estudar juntos. “Nossa primeira aula foi no dia 8 de março. Lembro porque o (João) Figueiredo (ex- presidente do Brasil) ia tomar posse na semana seguinte, no dia 15”, lembra Molica. À época, os quatro retomaram o Centro Acadêmico de Comunicação da UFRJ, ainda na época da ditadura militar. De forma independente, publicavam revistas como a Mesa de Bar e a Catanta, que reuniam poesias – inclusive, de Sergio.Em 1984, quando estava prestes a ter o primeiro de seus três filhos, Gabriel, pegou um ônibus e veio para Salvador. “Foi para se preparar. A Bahia sempre foi o ponto de referência dele. Sergio é parente do cineasta Glauber Rocha. É um vinculo desde pequenininho”, lembra Hermann.Na Revista Manchete, primeiro veículo onde trabalhou. À direita, com o primeiro filho, Gabriel, em 1984(Foto: Acervo Pessoal)De volta ao Rio, Gabriel nasceu e, depois Pedro. Mas, em 2009, retomou o velho  vínculo umbilical com a Bahia. Por acaso ou não, a volta ao estado aconteceu praticamente junto com o velho amigo Oscar Valporto, hoje editor-chefe do jornal, e que chegou ao CORREIO meses antes de Sergio.  “Ele era um irmão. No primeiro dia de aula, depois do trote, da cerveja, só ficamos nós. E, depois disso, nunca deixamos o outro beber sozinho. Era um jornalista brilhante e um amigo para todas as horas”, comentou, muito emocionado.Amizade, aliás, era algo que Sergio cultivava fácil, fácil. “Nunca vi o Sergio levantar a voz . Talvez tenha gritado num jogo do Flamengo”, brinca Molica. Sergio era tão flamenguista que foi velado, ontem, com a camisa do time do coração. “Ele sempre tinha uma tranquilidade para fazer as coisas. E ele dizia: 'eu não quero ser um grande jornalista'. Não tinha  ambição competitiva, mas acabou se tornando”.  Sergio, entre Renata Maneschy e Carlos Mesquita, no jornal O Dia, no Rio de Janeiro(Foto: Acervo Pessoal)Jornal o DiaSergio começou a trabalhar no jornal O Dia na década de 1990. Colunista da revista Época, Ruth de Aquino era diretora de Redação e lembra que ele sabia “tudo” de jornal. “Tinha um olho invejável para notícias com viés humano. Gente era sua especialidade. Sabia extrair de cada repórter o melhor”. Foi lá que conheceu Rachel, sua esposa. “O Sergio tinha o dom das palavras, de resolver crises, de fazer páginas espetaculares, de olhar no olho das pessoas e saber o que elas queriam. Era um tremendo repórter, chefe, gestor, marido e pai. É muito difícil, mas ele fez história. E estava tentando fazer mais, mas não deu tempo”, lamentou ela, ontem.Em 1997, foi a vez do atual gerente de Mercado Leitor e Logística do CORREIO, Welter Arduini, encontrar Sergio em O Dia. “Nosso dia  começava  com um sorriso largo. A felicidade era do tamanho dele. Era um prazer encontrar com ele pela manhã”. Humor era marca registrada. Em 2010, ousou após o Vitória perder o título da Copa do Brasil. Em 2011, a capa 'mergulhou' junto com o carro que caiu do ferry-boat e foi parar na água. Inspirada em aposta, capa sobre senador cassado por relação com bicheiro foi finalista do Esso. Capa em duas páginas: despedida da Fonte teve inovação gráfica. Na morte de Niemeyer, usou uma frase do próprio arquiteto para fazer uma das mais belas capas do país e vencer o prêmio SND, um dos mais importantes do mundoAdmiração de todosA simpatia de sua liderança natural deixava o ambiente de trabalho leve. “Sergio foi um dos mais brilhantes jornalistas da sua geração.  Era um chefe cordial e justo”, lembra a editora da revista Plurale, Sônia Araripe, que trabalhou em O Dia de 1998 a 2000. Há cerca de duas semanas, a nova campanha publicitária do CORREIO começou a ser veiculada, mostrando os profissionais que trabalham na redação. Todos os dias, a foto de um funcionário foi publicada no jornal. Todos os dias, Sergio escrevia um texto sobre o funcionário em seu Facebook. Era atencioso assim. Tão atencioso que não era incomum chegar à redação e escutar dele: “Você está feliz?”. Hoje, Sergio, a resposta é não.

Chocados, família e colegas dão adeus ao 'fazedor de amigos'

Incredulidade e saudade. Foram esses os sentimentos dos parentes, amigos e colegas do diretor-executivo do CORREIO, Sergio Costa, nesta segunda (7), no velório do jornalista, no Cemitério Jardim da Saudade, em Brotas. 

Amigo de Sergio, o prefeito ACM Neto o definiu como um jornalista “extraordinário”. “Apesar de não ser baiano, veio para Salvador e passou a entender a essência da nossa cidade e acabou conduzindo um processo de liderança do CORREIO”, destacou. “Lembro bem que, quando ele tinha acabado de chegar, tivemos uma conversa e ele disse ‘vim para cá com minha família, trouxe tudo e vou passar a ser baiano’. Foi verdade. Ele passou a  conhecer nossa história, a forma de ser do nosso povo e foi capaz de traduzir isso para o jornal ao longo desses anos”. 

Acionista e diretora do CORREIO, Renata Correia afirmou que Sergio mostrou sua genialidade na reformulação do jornal. “Ele estava com muita vontade de passar por todos os desafios e trazer um novo momento para o jornal impresso, nessa mudança para o jornal digital, de mostrar que o jornal era algo viável. Ele queria colocar o CORREIO nessa vanguarda e conseguiu reunir todas as áreas do jornal em uma grande família. Acho que todo mundo do jornal hoje fica um pouquinho órfão”. Amigos se consolam durante velório de Sergio Costa. Corpo seguiu para o Rio, onde será cremado hoje (Foto: Evandro Veiga)Também acionista da Rede Bahia, Luís Eduardo Magalhães Filho exaltou o profissionalismo de Sergio. “Era um amigo extraordinário, um ser humano totalmente diferenciado, um profissional muito competente. Estamos todos chocados”. 

O presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior, lamentou a morte. “Perdemos um grande amigo, um grande profissional e uma grande pessoa humana. Competente executivo e jornalista de primeira linha, tinha o respeito e admiração de todos”.

O diretor-executivo da Rede Bahia, João Gomes, disse que é uma perda inestimável. “Era um profissional excelente, que deixa uma lacuna tanto para nós colaboradores da Rede Bahia como também para o mercado e a sociedade baiana”. 

Representando o governador Rui Costa, que está em missão oficial na China, o secretário de Comunicação do Estado, André Curvello, disse que o governador ficou muito abalado com a notícia. “Era um belo profissional e principalmente um fazedor de amigos, um sujeito que respeitava o contraditório, que sabia preservar os princípios democráticos e exercia sua profissão de forma digna. Ele  deixa um exemplo para a geração mais jovem”, afirmou. 

Para o presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI-BA), Walter Pinheiro, Sergio foi um dos principais responsáveis pelo sucesso do  CORREIO. “Não foi preciso muitos anos para firmar seu nome e mostrar o seu talento na imprensa baiana”, afirmou. 

Também presente no velório, o diretor de Marketing da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), José Azevedo, definiu o jornalista como uma pessoa “extremamente agregadora”. 

O gerente de relações institucionais da Braskem, Hélio Tourinho, com quem Sergio trabalhou no Fórum Agenda Bahia, reforçou que o jornalista vai deixar saudades. “Era um cara íntegro. Tivemos algumas reuniões ao longo dos anos, pelo Agenda Bahia, que é um projeto que contribui muito para a Bahia. É uma perda grande para o jornalismo baiano”. 

A diretora teatral e colunista do CORREIO Aninha Franco definiu o trabalho de Sergio como “maravilhoso”. “Eu acho que a morte, às vezes, é completamente louca. Ele não estava na hora de ir. Aí ela vem e desestabiliza tudo. É incompetente a morte”, desabafou. 

Ontem, o plenário da Câmara Municipal de Salvador fez um minuto de silêncio para homenagear Sergio Costa. O vereador Leo Prates (DEM), autor da moção de pesar, afirmou que foi “uma perda lamentável para o jornalismo”. 

O velório de Sérgio será às 14h, no Memorial do Carmo, no Caju, no Rio de Janeiro. A cremação será às 17h30.