Série da Netflix une suspense a folclore brasileiro

Marco Pigossi e Alessandra Negrini estão no elenco. Os baianos Fábio Lago e Wesley Guimarães também

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  • Roberto Midlej

Publicado em 4 de fevereiro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos: Alisson Louback/netflix

A Cuca, o Curupira, o Saci e outros personagens lendários brasileiros ganharam vida e agora vivem no Rio de Janeiro, onde formam uma gangue e estão ligados a misteriosos crimes. É dessa ideia surpreendente que parte a série Cidade Invisível, que estreia nesta sexta (5) na Netflix.

Marco Pigossi (o Zeca da novela A Força do Querer, em reprise às 21h) é Eric, um policial ambiental que se tornou viúvo recentemente, depois que sua esposa morreu num misterioso incêndio, numa floresta que é alvo de uma construtora, interessada em erguer um imóvel ali. Depois desse crime que não é esclarecido, uma outra surpresa: o policial dá de cara com um boto cor-de-rosa morto numa praia do Rio de Janeiro. Como um animal típico da água doce foi parar no mar?, questiona-se o policial. Alessandra Negrini é Inês, a Cuca Embora oficialmente afastado das investigações, Eric não se conforma e decide empenhar-se na solução daquele incêndio e de crimes ambientais igualmente misteriosos. É aí que ele vai começar a se envolver com outros personagens, numa trama que pode ser considerada um thriller protagonizado por personagens do folclore brasileiro. No elenco de Cidade Invisível, estão ainda Alessandra Negrini, que vive a Cuca, e Jessica Córes, a sereia Iara. Os baianos Fábio Lago e Wesley Guimarães são respectivamente o Saci e o Curupira.

O projeto é de autoria de Carlos Saldanha, que dá uma roupagem de realismo fantástico à produção. Saldanha, que é carioca, estabeleceu-se nos EUA e dirigiu animações de sucesso como A Era do Gelo 2 e 3 e O Touro Ferdinando, indicado ao Oscar da categoria em 2018. A única experiência dele com live action havia sido no filme Rio, Eu te Amo, que reunia uma série de curtas de diversos cineastas. Carlos Saldanha e Marco Pigossi Saldanha explica por que criou essa história: “Sempre quis me aventurar em um live action e queria trabalhar no Brasil, fazendo algo que fosse importante para mim e para a cultura brasileira, que eu curto tanto. Por isso, fiz Rio, e também porque sou carioca”. Para ele, a série é uma forma de contribuir para que as gerações mais novas se reconectem com a cultura brasileira. “Minha memória vem de minha infância, mas meus filhos cresceram sem essa brasilidade. Se assistem a Vikings e American Gods, por que não ver algo brasileiro?”, questiona o criador.

Como a trama se passa num ambiente urbano contemporâneo, os personagens folclóricos ganharam características de seres humanos. Por isso, segundo Saldanha, eles têm a ambiguidade que marca qualquer pessoa: “Queria dar alguma 'humanidade' a eles. Eu me perguntava 'será que a Cuca é mesmo má ou será que eu é que penso assim?'. O folclore brasileiro permite várias interpretações”.

Baianos No elenco, estão dois atores baianos: Fábio Lago e Wesley Guimarães. Lago, que viveu em Ilhéus na infância e juventude, diz que seu personagem, Iberê - correspondente ao Curupira -, lhe remete à época em que sua avó reunia os netos para contar histórias do folclore brasileiro. “Quando faltava luz, ela reunia os netos e filhos para apresentar algumas lendas”. 

Além disso, o ator, que é de Ilhéus, envolveu-se em questões ambientais em sua cidade. Ele participou de um movimento que reagiu à instalação do Porto Sul, um empreendimento que tem um impacto sobre a Mata Atlântica local. Agiu, então, como o Curupira, que atua sempre para proteger a mata dos malfeitores. Nem que, para isso, precise aprontar umas traquinagens. “Fiz um movimento gigante. Eu estava com o Curupira no corpo!”, brinca. “Mobilizei Governo do Estado, Prefeitura, grupos de artistas... e consegui ouvir um grupo para criar um projeto para diminuir esse impacto que seria causado”. Wesley Guimarães e Fábio Lago Wesley Guimarães - que viveu Marcel na série Irmandade, da Netflix - é Isac, correspondente ao Saci. Para o ator, o personagem tem a dualidade pretendida por Carlos Saldanha: “Ele não é vilão nem mocinho. Caminha para todos os lugares, como um ser humano e tem uma alma livre. Ele tenta proteger do mal todas as outras entidades”.