Série Filhos da Pátria critica o ‘jeitinho brasileiro’ com bom humor

Trama que estreia nesta terça-feira (19) na Tv Globo traz provocações sobre a formação da identidade do povo brasileiro

  • Foto do(a) author(a) Naiana Ribeiro
  • Naiana Ribeiro

Publicado em 17 de setembro de 2017 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tv Globo/Estevam Avellar

Por que o Brasil é assim? Quando as coisas começaram a desandar? Essas perguntas norteiam a série Filhos da Pátria, da TV Globo, que estreia nesta terça-feira (19), na faixa das  23h30. Criada por Bruno Mazzeo e Alexandre Machado, a trama tem 12 episódios que serão exibidos semanalmente, sempre às terças, no mesmo horário. Todos já estão disponíveis na plataforma GloboPlay.

Com nomes como Alexandre Nero e Fernanda Torres, a trama bem-humorada critica o ‘jeitinho brasileiro’, que teria surgido em 1822, após a Independência do Brasil. Traz ainda provocações sobre a formação da identidade do povo brasileiro. Bruno Mazzeo é o redator final da série. Traz o olhar crítico e bem-humorado (Foto: João Cotta/Tv Globo) “Certamente o que acontece hoje é reflexo do que teve início lá atrás. As coisas não mudaram tanto ou, se mudaram, entendemos de onde viemos e o porquê de tudo que vivemos hoje. Esse é o lugar que a gente tentou chegar”, explica Bruno Mazzeo, autor da produção. Antes de escrever a crônica sobre o Brasil do século XIX, o filho do humorista Chico Anysio (1931-2012) leu muitos livros com histórias sobre escravos e matérias da época. Através da história do português Geraldo Bulhosa (Alexandre Nero), um funcionário público do Paço Imperial que vive com a família no Brasil, a série conta a história da corrupção no país e como ela afetou (e afeta) a vida dos brasileiros. “Em alguns momentos, os personagens são vilões e em outros são heróis”, ressalta o diretor Mauricio Farias. [[galeria]] Geraldo é casado com a ambiciosa Maria Teresa (Fernanda Torres) e pai de Geraldinho (Johnny Massaro) e Catarina (Lara Tremouroux). Com a Independência, ele se sente ameaçado de perder o emprego e começa a ser assediado por colegas da repartição para  fazer parte de um esquema que cobra taxas sobre o serviço público. Ao longo da trama, ele fica ainda mais ganancioso para agradar a esposa.  Geraldo (Alexandre Nero), Catarina (Lara Tremouroux), Maria Teresa (Fernanda Torres) e Lucélia (Jéssica Ellen) (Foto: Estevam Avellar/Tv Globo) O ator Alexandre Nero destaca que Geraldo se envolve em esquemas de corrupção porque é algo fácil e que não há punição. “A série mostra que as coisas não mudaram por aqui: a corrupção continua acontecendo. Até as piadas continuam  atuais, para sorte da série e azar dos brasileiros”, afirmou em entrevista ao CORREIO.

Nero contou ainda como foi a preparação para viver o personagem: “O trabalho foi mais no sotaque, porque Geraldo não poderia falar com um português de Portugal carregado. Ele só nasceu lá, mas precisava de um sotaque que o diferenciasse dos brasileiros”.  Alexandre Nero interpreta Geraldo, o protagonista da trama (Foto: Tata Barreto/Tv Globo) Apesar de Filhos da Pátria estrear agora, a série foi gravada no final de 2016. Por isso, o ator já tem projetos em mente para os próximos meses: “Tenho  convites para cinema e devo filmar o longa Sem Pai Nem Mãe, dirigido por André Klotzel, no início de 2018. Há um projeto de rodar a cinebiografia do Nelson Rodrigues, também no ano que vem”. Já neste mês, começa a gravar cenas da supersérie Onde Nascem os Fortes, que ocupará a faixa das 23h na TV Globo.

Agente da corrupção Também funcionário do governo na trama, Matheus Nachtergaele interpreta Pacheco, que convence  Geraldo a entrar no esquema de corrupção. “Foi como tirar um nó da garganta. Ainda mais diante dos últimos acontecimentos no país. Na independência, um Brasil diferente poderia ter sido construído, mas o que se instala é a repetição do processo exploratório que os portugueses fizeram. A trama é leve, se não fosse amarga”, opina o ator. Pacheco (Matheus Nachtergaele) é o agente da corrupção (Foto: Tv Globo/Cesar Alves) Seu personagem é o aproveitador e preconceituoso. “Ele acha que escravizar negros e índios é normal, não tem empatia e nem é capaz de ver os sentimentos dos outros. Espero que as pessoas o odeiem”, comenta Nachtergaele, que abusa da ironia para compor  seu personagem. “A ironia é a parte triste do humor. É como rir se afastando”, completa.

Mentes racionais Enquanto Maria Teresa não se incomoda com o desvio de caráter do marido, a filha Catarina contesta os padrões impostos pela família e sonha em trabalhar. Já o primogênito Geraldinho respresenta a superficialidade: é analfabeto e se acha muito esperto. Irmãos Geraldinho e Catarina são muito diferentes (Fotos: Renato Rocha Miranda e Estevam Avellar/Tv Globo) Os escravos Lucélia (Jéssica Ellen) e Domingos (Serjão Loroza) são as mentes mais racionais dentro da casa. “São os que têm a visão crítica e que fazem comentários tão pertinentes que, se tivéssemos ouvido, talvez não seríamos o que somos hoje”, analisa Mazzeo. Trabalhadeira, Lucélia  é amável com os patrões e aproveita as aulas particulares dadas a Geraldinho para aprender a ler e escrever. Ela junta os centavos que ganha vendendo cocada nas horas vagas para um dia comprar sua alforria.  Lucélia (Jéssica Ellen) e Zé Gomes (Flávio Bauraqui) (Foto: Globo/Estevam Avellar) Bem diferente do irmão Zé Gomes (Flávio Bauraqui), que consegue a liberdade forjando uma invalidez. Ele perambula pela cidade atrás de bicos e está sempre a par das novidades . Domingos, por sua vez, é o escravo mais antigo da casa e detém um lugar cativo no coração dos Bulhosa. Obedece as ordens que recebe, mas nem sempre dá conta dos serviços que lhe são requeridos. Domingos (Serjão Loroza) é escravo da família Bulhosa. Trabalha com Lucélia (Foto: Renato Rocha Miranda/Tv Globo)