Série Um Dia Qualquer, do canal Space, mostra poder das milícias

Augusto Madeira interpreta ex-policial que se torna miliciano e quer ser político

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 14 de agosto de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Divulgação

Em 2002, Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, mostrou como a presença do tráfico de drogas interferia na vida dos moradores das comunidades pobres do Rio de Janeiro. Cinco anos depois, foi a vez de Tropa de Elite, de José Padilha, retratar a violência da polícia carioca. Agora, é a vez de uma terceira instituição carioca muito poderosa ser vista num produto audiovisual: a milícia.

A organização, que constitui um poder paralelo muito presente principalmente em áreas populares do Rio de Janeiro, é retratada na série Um Dia Qualquer, que estreia segunda-feira no canal Space, às 22h. Os cinco capítulos vão ao ar até sexta-feira, no mesmo horário. No sábado, 22, a partir das 18h, será exibida uma maratona completa.

Misturando elementos de drama e thriller policial, a produção se passa num intervalo de 24 horas e mostra a saga de uma mãe em busca de seu filho desaparecido e ela suspeita que os autores do “sumiço” estão ligados à milícia que domina sua comunidade. Paralelamente, outras histórias são contadas e aos poucos revelam a maneira como nasce e se consolida o poder paralelo em uma zona esquecida pelas instituições públicas.

O miliciano Quirino é interpretado por Augusto Madeira, ator de muito talento que inicialmente foi muito identificado com a comédia, mas ultimamente tem feito papéis mais “sérios” e, às vezes, violento. Madeira diz que pediu para sair do elenco do Zorra porque não queria ser vinculado apenas à comédia. Jefferson Brasil é o traficante Seu Chapa, que foi casado com Penha (Mariana Nunes) “Reconheço que fui muito tempo identificado com a comédia, mas não sou comediante. Mas o mercado infelizmente tende a rotular, a botar o ator numa prateleira. O curioso é que, quando deixei a comédia, passaram a me oferecer muitos personagens de caráter duvidoso e violento, como policial, miliciano e pedófilo”. O papel e a atuação de Madeira lembram muito o personagem dele em outra série policial, Crime Time, na Netflix, que, segundo o ator, deu origem ao convite para viver Quirino.

O personagem de Madeira é o tipo que acha que o fim justifica os meios e age paradoxalmente. Para ele, vale tudo para proteger a comunidade, inclusive criar seu próprio código ético e moral, o que inclui o poder de decidir se pode ou não matar alguém que ele considera nocivo para os moradores.

“Quando eu criei a série, pensei que o avanço das milícias e seu poder paralelo, a injustiça social sofrida pela população negra, as buscas das mães de vítimas da violência e as agressões domésticas decorrentes do machismo, são questões que precisam ser resolvidas na nossa sociedade atual”, diz Pedro von Krüger, diretor e criador de Um Dia Qualquer. Nascido na Bahia, Pedro dirigiu o documentário Memória em Verde e Rosa, sobre o Morro da Mangueira. Vinícius de Oliveira, que foi o menino Josué em Central do Brasil, também vive um miliciano na série Mariana Nunes, que em Amor de Mãe viveu Rita, a mãe biológica de Camila (Jéssica Ellen), interpreta Penha, que está em busca do filho. Em flashbacks, descobrimos que ela já foi casada com um traficante, de quem ficou viúva.

“A série pretende ser não só uma forma de entretenimento, mas também um questionamento sobre a violência que cerca o cidadão carioca e de outras regiões do país comandadas por um poder paralelo, em uma realidade em que a violência é legitimada, e qual a consequência para as pessoas que criam e executam a própria lei”, diz o produtor Denis Feijão.

Em breve, estreia nos cinemas também a versão em longa-metragem de Um Dia Qualquer, que já está pronta.