Sérvia x Suíça: muito mais que um jogo de futebol

Autores dos gols da vitória suíça, de origem kosovar, fizeram comemoração que se relaciona com a Guerra da Iugoslávia

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  • Ivan Dias Marques

Publicado em 22 de junho de 2018 às 17:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fifa/Divulgação

Sempre se fala que o futebol é muito mais que apenas um jogo. Nesta sexta (22), no embate entre Sérvia e Suíça, pela Copa do Mundo da Rússia 2018, isto ficou bem evidente. Dentro de campo, as origens dos dois autores dos gols da vitória suíça foram combustível para a garra apresentada e eles deixaram isso bem claro nas comemorações.

Granit Xhaka e Xherdan Shaqiri celebraram os gols do triunfo de virada por 2x1 fazendo um gesto com as mãos em menção à águia da bandeira da Albânia. Os dois, além de outros jogadores como Valon Behrami, Blerim Dzemaili, Haris Seferovic, são originários de famílias que fugiram da Guerra da Iugoslávia (1991-2001), que deixou um saldo de 140 mil mortos e mais de 4 milhões de desalojados. 

Os dois jogadores são de origem albanesa, um grupo étnico que concentra a maior parte de sua população na Albânia e no Kosovo. Os pais de Xhaka deixaram a Iugoslávia em 1990, cerca de quatro anos após Ragip, pai do atleta, ser preso por protestar contra o governo iugoslavo. O meia do Arsenal nasceu dois anos depois, já na Suíça. Seu irmão joga pela seleção da Albânia. Shaqiri é um ano mais velho e nasceu em uma região da Iugoslávia que hoje pertence Kosovo. Sua família se mudou para a Suíça em 1992. 

A Guerra da Iugoslávia foi um desmembramento da Iugoslávia após a queda da União Soviética e também foi motivada por questões étnicas, já que os sérvios se incomodavam com o crescimento populacional dos albaneses. Os sérvios foram comandados, na maior parte do tempo, por Slobodan Milosevic (1941-2006), conhecido como 'Carniceiro dos Balcãs' pelos bósnios e acusado pelo Tribunal de Haia de crimes de guerra.

Os capítulos mais fortes da guerra foram no conflito entre a Sérvia e a Bósnia-Herzegóvina e entre a Sérvia e o Kosovo. Até hoje, o governo sérvio não reconhece o Kosovo como um país independente, assim como outros países, como China, Espanha, Brasil e Rússia, sede do Mundial.

Assim, munidos do sentimento de ver sua nação originária ser massacrada pelos sérvios durante anos, Xhaka e Shaqiri entraram em campo com o espírito de 'vingança'. O atacante, inclusive, usou a bandeira do Kosovo em uma das suas chuteiras. Na outra, a bandeira da Suíça. A partida ainda aconteceu num país que possui relações estreitas com a Sérvia e não reconhece o país natal deles como independente. Ainda que representem a Suíça, o sangue que corre em suas veias é albanês. Chuteiras de Shaqiri com bandeiras da Suíça e do Kosovo (Fifa/Divulgação)