Sesab esclarece denúncia sobre investimentos; Cremeb aponta precariedade

Médicos alertam para dificuldades enfrentadas pelos pacientes baianos

Publicado em 13 de novembro de 2018 às 18:29

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo CORREIO

A Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) esclareceu o cálculo divulgado nesta terça-feira (13) feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que aponta o estado como o terceiro estado que menos investe em saúde. De acordo com o secretário Fábio Vilas-Boas, os números não podem ser avaliados isoladamente.

Ele explica que o estudo do CFM considera o valor per capita investido na saúde, que é um valor derivado do PIB (Produto Interno Bruto) da Bahia."Qualquer indicador, seja de saúde, educação, ou o que quer que seja, que atrele ao PIB per capita, vai jogar a Bahia em torno de 20º lugar. Porque somos o 20º estado mais pobre do Brasil", avalia.O secretário da Sesab lembra ainda que, de acordo com a Constituição Federal, o Estado é obrigado a investir, no mínimo, 12% da sua arrecadação na saúde. Villas-Boas aponta que em 2017 foram investidos 13% e, neste ano, o valor ultrapassará 13,5%. Ainda assim, segundo ele, ficará na parte de baixo do ranking.

"O Rio de Janeiro tem praticamente o mesmo número de habitantes da Bahia. Eles têm 16 milhões e nós 15 milhões. Só que o Rio tem um PIB de R$ 90 bilhões, enquanto temos um PIB de R$ 45 bilhões. Metade. Se o PIB é metade do Rio, vamos ter desvantagem numérica. O Rio investe na saúde 12,22%, a Bahia investe 13%. Para termos o mesmo valor per capita deles, teríamos que gastar 26% de tudo que é arrecadado. Que dinheiro sobraria para educação, saúde, segurança?", questiona.

A Sesab informa que, no ano passado, a Bahia foi, em valores absolutos, o terceiro estado que mais investiu na saúde. Fábio Villas-Bôas esclarece que foram gastos mais de R$ 270 milhões. "Investimento é diferente de custeio e manutenção. Investimento é a construção de hospitais novos, reformas. E, neste quesito, ficamos atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais", diz.

De acordo com o Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (Siops), no quesito “despesas totais em saúde”, o Governo da Bahia posicionou-se como o quarto colocado em total de recursos aplicados na saúde em todo o país, com mais de R$ 5,360 bilhões. Já em investimentos no setor, o estado é o terceiro que mais investiu em 2017 (R$ 277 milhões).

Impacto na saúde Embora confirme a metodologia utilizada, o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremeb), conselheiro Júlio Braga, alerta para o risco do investimento, considerado baixo por ele.

"Claro que os 12% do estado mais rico sempre será maior que os 12% do estado mais pobre, mas há quem investe perto do mínimo e quem investe muito acima. A Bahia investe perto do mínimo. E isso pode ser visto diariamente. É visível nas grandes filas de hospitais, nos fechamentos de leito, nas Santas Casas que deixam de funcionar. No fechamento de hospitais como o Espanhol, no São Rafael, que deixou de atender pelo SUS. Parte disso é culpa do governo, que reajusta a tabela SUS há mais de 10 anos", observa.

O Ministério da Saúde informa que "realiza, periodicamente, adequações na Tabela SUS, conforme prioridades estabelecidas e a par de estudos técnicos". Acrescenta ainda que "desde 2010, mais de mil procedimentos tiveram os valores reajustados, sendo 79 procedimentos em 2017".

O médico, que diz que cada profissional recebe do Governo um repasse aproximado de R$ 10 por consulta, alerta ainda para as graves consequências que a população pode sofrer caso o investimento não seja maior.

"Essa é a fila visível, mas existe também a fila invisível, que são os pacientes que não conseguem atendimento, marcação de exames. Muitos desistem de procurar exame, o que é perigoso, porque não previnem doenças, nem tratam no início", alerta."Quando esse paciente não encontra atendimento e desiste, muitas vezes isso gera um derrame, um infarto, coisas que poderiam ser evitadas antes, com um diagnóstico precoce, por exemplo", completa.O cenário é ainda mais grave, segundo aponta o cardiologista, porque o público baiano é muito dependente da saúde pública, já que plano de saúde particular é para poucos.

De acordo com levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), apenas 8% dos pacientes da Bahia têm plano, enquanto o número geral dos brasileiros é de 25%.