Sete de Outubro

Por Aninha Franco

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Publicado em 13 de outubro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Se no 7 de setembro de 1822 um português expulsou os portugueses do Brasil, no 7 de outubro de 2018 os eleitores brasileiros expulsaram parasitas de seu sistema político como nunca antes na história do país. Quando o eterno representante de qualquer governo, há 24 anos, Romero Jucá, derrotado em Roraima, terra dos bravos Macuxis, terra do caluniado Macunaíma, queixou-se que os políticos foram crucificados, pensei que finalmente pegaram Barrabas! Muitos Barrabas foram pegos no 7 de outubro. A família Sarney caiu em peso. E Flávio Dino, algoz dos Sarney, único governador eleito do PCdoB, perdeu o acesso ao fundo partidário e ao horário gratuito. Ou seja, mesmo derrotando os Sarney, perdeu o fundo. Daciolo, apoiado por Deuxxxxxx, foi mais votado que Boulos e Marina, os prediletos dos artistas.

E o PT subiu para o segundo turno numa desvantagem para Bolsonaro igual a do PSDB em 2002, quando enfrentou o PT de Lula. Subiu como uma mancha vermelha num mapa quase todo azul, como um recado do Brasil de PIB alto e educação de Ipea empinada que a miséria não é um bom negócio. O mesmo 7 de outubro que derrubou oligarquias fez do líder sindicalista Jaques Wagner o político mais poderoso da Bahia. Jaquinho avermelhou o Estado da mesma maneira que seu antecessor, ACM, o Velho, azulou-o um dia, recentemente. A vitória deu a Jaquinho o poder de organizar uma Frente Democrática para derrotar Bolsonaro. A imprensa noticiou o encontro de Wagner com FHC e Ciro Gomes. Mas FHC é o líder honorário de um PSDB que desidratou em 7 de outubro. E Ciro Gomes declarou apoio crítico a Haddad, mas saiu à francesa para descansar na Europa e, na volta, já anunciará sua candidatura à Presidência em 2022.  Gustavo Bizelli  alertou em texto publicado ontem, na FSP, “Os fascistas são a minoria”, que daqueles que votaram em Bolsonaro no primeiro turno, apenas 17% são bolsonarianos. Que os demais são antipetistas porque não suportam mais que o partido tenha transformado a mentira em política de governo. Esconder Lula no segundo turno e trocar as fardas vermelhas de LulaLivre por verde&amarelo é achar que todo brasileiro é idiota.  Mas ele não é. Por isso, um 7 de setembro aconteceu em 7 de outubro e está nas mãos de Jaques Wagner evitar o 2 de julho na Bahia. O PT institucionalizou a mediocracia neste território criativo. Seu deputado federal eleito, mais votado, aliado do PT, tem como projetos legislativos o adiamento do Juízo Final e a entrega da Bahia à Santíssima Trindade. E o governo baiano lhe entrega verbas monumentais para educar adolescentes. Ou seja, o Juízo Final está sendo patrocinado por nós. Perco um tempo enorme - que poderia usar lendo poesia – criticando o PT porque é o dever dos pensadores, e se é para comparar truculências de petistas e bolsonarianos, os líderes das ONGs que servem ao PT baiano e aos aspones de orquestras já ameaçaram invadir a República que eu presido. Por isso, a Frente Democrática que combate a violência deveria começar pela não perseguição a intelectuais e artistas dissonantes na Bahia, perseguidos pelo PT desde 2007.

É o conselho de uma bruxa que leu Kant, e por isso desconfia de Frentes Democráticas com bases rachadas.

*Aninha Franco é escritora e pensadora