Sindicato processa maquiadora que denunciou assédio de motorista de app

Jovem alega que motorista a assediou durante corrida; app excluiu ele da plataforma

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  • Nilson Marinho

Publicado em 7 de junho de 2018 às 12:12

- Atualizado há um ano

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Arraste para o lado para ver as demais mensagens publicadas por Mayane por Imagem: Reprodução/Instagram

O Sindicato dos Motoristas por Aplicativos e Condutores de Cooperativas do Estado da Bahia (Simactter) informou nesta quinta-feira (7) que entrou com uma ação contra a maquiadora e atendente de caixa Mayane Neres, 19 anos, que denunciou ao CORREIO ter sido assediada pelo motorista do 99Pop, Jeferson de Souza Costa, 27, durante uma corrida pelo aplicativo.

A entidade afirma que a ação, aberta no Juizado Especial Cível, no Fórum do Imbuí, cobra da usuária uma reparação por danos morais e financeiros que o motorista sofreu após o caso vir à tona. Ela está sendo acusada pela categoria por difamação e calúnia.

Jeferson foi banido da plataforma, embora tenha negado o assédio. Ele já havia sido banido do aplicativo de transportes Uber, por baixa avaliação.

De acordo com o presidente do sindicato, Átila Santana, a jovem entrou em contradição durante uma entrevista a um canal de televisão. "Ela mudou a versão. Estamos entrando com essa ação pela criação de uma factóide que acabou com o motorista banido do sistema. O que ela comentou foi um crime e estamos pedindo um reparo contra isso", explica.

"E ainda vamos estudar a possibilidade de exigir a exclusão dela do aplicativo 99 como usuária, em equiparação à penalidade que foi imposta ao motorista, em razão da 99 presumir a culpa do mesmo", afirmou Átila. Mayane denunciou o motorista do aplicativo 99Pop, que acabou expulso (Foto: Reprodução) Ao ser informada pelo CORREIO da ação, a maquiadora disse que sabia que precisaria de um advogado por conta da repercussão do caso. “Não chegou nenhuma solicitação formal. Vi no Instagram, o presidente de um sindicato, na terça-feira de noite. Antes de ter visto a postagem, eu sabia que, como o caso tinha viralizado, era preciso ter um advogado. Já estamos preparados", comentou.

Ela também falou sobre o sentimento, diante da manifestação do sindicato. "O presidente tem visibilidade e, por ele ter visibilidade, ele postou no Instagram. Me senti detonada. Não teve explicação. Ele está fazendo isso para ganhar dinheiro. Só eu, enquanto mulher, sei o que passei, como fui tratada. E ele ainda abrir um processo contra mim?", afirmou.

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Reações A maquiadora destacou ainda que está recebendo críticas por ter feito a denúncia. "Estou recebendo muitas críticas. Algumas pessoas estão falando coisas tão ruins sobre mim. Sobre a denúncia contra a acusação, não posso falar nada. Mas eu não vou parar: não estou me sentindo sozinha. Por conta de quem me apoia, estou tendo forças", comentou a jovem. "Existe uma luta por trás disso. Uma não, várias: porque as mulheres no Brasil não têm vez. Não queria me expor, não sou louca de colocar [expor] um cara normal em rede social por nada", afirmou. Entenda o caso que aconteceu na última segunda-feira (03) Passava das 11h30 quando a maquiadora e atendente de caixa Mayane Neres, 19 anos, solicitou uma corrida no aplicativo 99Pop de sua casa, no bairro de Pernambués, em Salvador, para o trabalho, no bairro do Itaigara. Como era finalzinho da manhã, a rua estava tranquila. Não havia o que temer. Quando o carro chegou, optou por seguir no banco de trás. No entanto, minutos depois, o que era pra ser uma viagem tranquila, segundo ela, acabou sendo a mais assustadora e traumática de todas.

O fim do sossego começou, justamente, no início da corrida. Após entrar no veículo, na segunda-feira (3), a maquiadora alega ter sido questionada sobre uma ladeira. “Quando eu entrei, ele [motorista] já veio falando da ladeira da minha casa, dizendo que não ia subir, porque o carro dele era muito pesado”, conta ela, em conversa com o CORREIO.

Ao longo da corrida, segundo Mayane, percebeu uma conduta suspeita no motorista. "Ele estava eufórico, olhando pra mim e pro lado. Fiquei com medo e nervosa, então, tentei puxar assunto, mas ele não falava muito". A situação se complicou bastante, daí por diante, e ela usou sua conta numa rede social pra denunciar o caso. O motorista, que já havia sido expulso do Uber por conta das baixas avaliações de usuários, nega as acusações. 

Perto do destino, Mayane entrou em desespero. De acordo com ela, o motorista mudou a rota. "Ele estava mudando e eu dizendo: 'moço, não é por aí, não. Eu vou por outro caminho sempre'", relata.

Em seguida, a jovem afirma que tentou ligar para uma amiga, mas o motorista não deixou ela completar a ligação."Eu mandei uma mensagem pra minha amiga dizendo que estava na viagem com um Uber [era 99Pop] muito estranho. Aí, quando eu fui ligar, ele me mandou guardar o telefone. Depois, botei o celular no banco do carro. Ali, me senti indefesa. Eu não estava com medo de ser estuprada e não chorava porque queria me manter calma para sair da situação”, explica a maquiadora.Ainda de acordo com Mayane, ao entrar na rua de destino, o motorista viu um carro da polícia. "Ele viu a viatura e deu meia volta. Mas ainda assim a polícia não podia me ver, porque o vidro do carro dele era fumê”, comentou. Nesse momento, segundo a jovem, o motorista disse "não foi dessa vez". 

Já perto do destino final, ela pediu ao condutor para descer. Ela afirma que no momento em que foi descer, ele gritou, mais uma vez: "Não foi dessa vez, mas a gente ainda vai se bater". 

Outro lado Diferente da versão apresentada por Mayane, o motorista Jeferson de Souza Costa, 27, nega que tenha deixado a vítima em qualquer tipo de situação de constrangimento ou que tenha usado tom ameaçador durante a corrida. "Ela não me avisou que tinha ladeira, então eu esperei na ponta da saída da rua, como indicava o GPS. Tentei subir três vezes, pelo menos”, justifica o condutor.

Ele diz que quando Mayane entrou no carro, ele ligou o GPS e perguntou a ela qual a melhor opção de destino. "Perguntei se por onde ela queria ir e ela me pediu pra escolher. Então, liguei o GPS. Ao longo do caminho, fiquei chateado porque ela não me avisou da ladeira, mas não mudei a rota e nem toquei no celular dela. Tudo isso é mentira", afirma Jeferson. 

Ele disse que acordou, na manhã desta quarta, assustado com as ameaças que está recebendo, principalmente pelas redes sociais. "Ela inventou isso e o povo está achando que sou estuprador. O aplicativo já me bloqueou. Como vou trabalhar agora?".

Para Jeferson, a jovem expôs a situação para "ganhar curtidas" nas redes sociais. "Ela parece que é popular na internet. Acho que está fazendo isso pra ter mais seguidores. Mas ela me prejudicou muito hoje", diz o rapaz, afirmando que já prestou queixas contra a jovem.

Posição da 99Pop A empresa 99, que controla o aplicativo de viagens 99Pop, informou, por meio de nota, que recebeu da passageira a denúncia de que um motorista da plataforma a assediou na tarde de segunda-feira. Segundo a assessoria da empresa, o condutor foi imediatamente banido da plataforma.

“A empresa repudia qualquer tipo de violência contra as mulheres. Lamentamos profundamente o ocorrido e nos solidarizamos com a vítima. Estamos em contato com ela para prestar todo o apoio possível. Além disso, nos encontramos abertos para colaborar com as autoridades", diz o comunicado. 

Ainda segundo a assessoria, "a 99 possui uma equipe de segurança com mais de 30 pessoas que trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana, dedicada exclusivamente à proteção dos usuários”.

O que fazer em casos de má conduta do motorista? A 99 orienta os usuários a registrar um Boletim de Ocorrência (B.O.) na delegacia e a entrar em contato com a Central de Segurança do aplicativo pelo telefone 0800 888 8999, um canal exclusivo que oferece auxílio imediato.

A assistência conta com apoio emocional e psicológico, caso necessário. Além disso, a ajuda pode incluir o envio de um carro em ocorrências em que a vítima se encontre em um local isolado, por exemplo. É pedido também que o passageiro envie o B.O. feito para a 99.