Sindihotéis se reunirá com Othon: 'São 240 funcionários perdendo emprego'

Os funcionários ainda vão ser comunicados na próxima sexta-feira

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  • Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2018 às 16:29

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO

Um dos mais tradicionais hotéis de Salvador e maior hospedaria em atividade da Bahia fechará suas portas no próximo mês. Conhecido por fechar o circuito Dodô no Carnaval, o Bahia Othon Palace, localizado no bairro de Ondina, que emprega diretamente 240 pessoas, deixará de funcionar na capital baiana a partir do dia 19 de novembro.

O presidente da Salvador Destination, Roberto Duran, expôs que a entidade tomou conhecimento do fechamento da unidade há aproximadamente uma semana. Segundo Duran, a decisão do Conselho Diretor do Othon é de manter as portas abertas até o dia 18 do próximo mês. “Estávamos vendo se conseguíamos reverter (o fechamento). Os funcionários ainda vão ser comunicados na próxima sexta-feira”, explicou Duran, por telefone, ao CORREIO.

De acordo com a Pesquisa de Ocupações de Hotéis, divulgada mensalmente pela Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FeBHA), o Othon é o terceiro maior hotel em média de ocupação deste ano, com 71,04% de média entre janeiro e setembro, ficando atrás apenas do Intercity Premium SSA (80,20%) e do Monte Pascoal (78,19%) em Salvador. O Othon tem quase 10% a mais da média de ocupação dos 25 maiores hotéis de Salvador nesse período, que é de 61,43%.

O presidente da associação Salvador Destination - que é responsável por promover e divulgar a capital baiana no segmento de eventos - atribui a decisão de fechar o hotel à falta de investimento no turismo brasileiro, principalmente na divulgação dos principais destinos do país, a exemplo de Salvador.“Isso foi causado pela crise, pela falta de investimento do governo federal e do governo estadual, que não veem o turismo como prioridade. O pouco que foi feito por Salvador não conseguiu reverter por completo”, sustentou. De acordo com Duran, o Bahia Othon Palace, conta com 284 apartamentos. O Sindicato dos Empregados em Hotéis Bares e Similares (Sindihotéis) ainda não foi comunicado da decisão oficialmente. “Na verdade o hotel solicitou, há um mês, um acordo sobre a gorjeta de seus funcionários. O hotel tem uma excelente ocupação. Não dá para entender que ele queira fechar em pleno início do verão”, afirmou o presidente da entidade, Almir Pereira.

O presidente afirmou que terá uma reunião nesta segunda-feira (15) com integrantes da diretoria do hotel, que virão do Rio de Janeiro para Salvador. “O impacto é bastante negativo, caso o hotel realmente feche. É um hotel tradicional com mais de 40 anos na Bahia. São 240 funcionários perdendo emprego em um momento difícil que estamos passando”, lamentou.

De acordo com Pereira, desde julho as demissões diminuíram significativamente na hotelaria baiana. “Na verdade, a hotelaria já sofreu um enxugamento muito grande. Até maio nós tivemos bastante demissões, os hoteis já estão com os quadros muito reduzidos. A previsão para o verão é de contratação”, afirmou.

O gerente geral do Othon na Bahia, Albano Theodoro, afirmou que o hotel irá, de fato, fechar.“Não sei se é fechamento por reforma, não estou a par de nenhum tipo de situação. Se houver um fechamento, a minha diretoria ainda não me posicionou e acredito que eu seria um dos primeiros a saber. Não tem nada concreto”, disse. O CORREIO tentou contato com a assessoria de imprensa do Othon mas não obteve respostas até o fechamento desta matéria.Viabilidade Econômica Além do prejuízo com a perda de mais um hotel, o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha), Silvio Pessoa, destaca que a capital baiana deixa de ter mais um centro de convenções.

Agora, são considerados grandes centros de convenções apenas os dos hotéis Fiesta e Gran Hotel Stella Maris. “Ele (Othon) tinha um centro de convenções para até três mil pessoas. Isso vai fazer uma falta enorme para a cidade de Salvador. É uma péssima notícia” afirma.

Na avaliação de Pessoa, o fim das atividades do Othon também está relacionada ao grande incentivo para a construção de hotéis nos anos que antecederam a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Para ele, não houve estudos de viabilidade econômica.“Além disso, não tem promoção no exterior. A Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) tem apenas US$ 17 milhões para promover o turismo brasileiro no exterior por ano, enquanto o México tem US$ 470 milhões e o Peru investe US$ 70 milhões. Ou seja, nós não investimos no turismo porque não é prioridade para a Bahia, para Salvador, para o Nordeste”, critica.Dos 404 hotéis operando em Salvador, pelo menos 401 vêm funcionando no vermelho há quatro anos. A informação é do presidente da Salvador Destination, Roberto Duran, que preferiu não revelar quais são os estabelecimentos que não vêm tendo prejuízo.

“Ou seja, eles estão pagando para manter as portas abertas. Houve uma melhora no segundo semestre de 2017 e no início deste ano, mas ainda não foi suficiente. Por isso, esperamos não ter nenhuma outra surpresa”. 

Reversão  O secretário de Turismo do Estado, José Alves, afirmou que está em contato com a diretoria do hotel. “Estamos tentando entender o que está acontecendo para saber de que forma podemos ajudar o hotel, para que ele não saia da Bahia”, afirmou. 

Alves ressaltou a possibilidade da decisão do hotel, que faz parte de uma rede, não ser específica para Salvador. “A gente sabe que as vezes é uma questão mais macro, do próprio grupo, mas enquanto não fecha a gente tenta amenizar a situação de alguma forma e ver alternativas que os empresários possam se interessar”.

O secretário ainda ressaltou que as reservas do hotel são “bem procuradas” e que a ocupação do hotel é alta.

O secretário de cultura e turismo de Salvador, Cláudio Tinoco, destacou que a taxa de ocupação do hotel é alta, mas reconheceu a dificuldade dos hoteis no país. Tinoco ainda ressaltou a abertura de dois novos hoteisna cidade.“Sabemos também que a indústria hoteleira teve que segurar o valor da diária média para se manter viva depois da crise pós Copa. Tivemos hotéis abertos na cidade, como o Fera e o Fasano, que abrirá logo. Temos uma obra importante de infraestrutura urbana em execução na região do Hotel. Implantamos, no final do ano passado, uma ferramenta de monitoramento da reputação de 80 meios de hospedagem, além de 37 atrativos turísticos da cidade e sabemos o que ocorre com cada um. A notícia associa a decisão à unidade de Belo Horizonte. Portanto, não vincula ao destino Salvador. Mas estamos ligados e vamos agir sempre em defesa do nosso Turismo”, destacou.O vilão Um consenso geral existe entre os membros do trade turístico baiano: o Centro de Convenções é o grande vilão e responsável pelo fechamento de muitos hoteis na Bahia.

"O fechamento do Centro de Convenções da Bahia (CCBA) é um dos fatores do fechamento de mais um hotel. Ele é um dos principais motivos que veio esse prejuizo todo. Infelizmente o Othon é mais uma vítima do Centro de Convenções", lamentou Glicério Lemos, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA).

De acordo com Lemos, os grande hoteis foram os mais atingidos com o fechamento do CCBA. "Os grandes precisam do Centro para manter o ponto de equilíbrio. Ele é a cereja do bolo. Não chega a ser o principal, porque não se sobrevive só do Centro de Convenções, também sobrevivemos do turismo do dia a dia, mas ele é a cereja do bolo", disse.

O presidente do Sindihoteis, Almir Pereira, destacou que a Bahia perde "grandes eventos" para outras capitais do Nordeste, como Aracaju e Recife, por conta da ausência do Centro de Convençõe. "Os eventos precisam de uma capacidade maior. A nossa expectativa é o término da obra do novo Centro de Convenções e a construção de um novo do Estado", disse.

O presidente da FeBHA, Sílvio Pessoa, também lembrou a falta do Centro de Convenções e lembrou que, com o fechamento do Othon, a Bahia contará apenas com dois centros de convenções: o do Fiesta e o do Gran Hotel Stella Maria. 

A prefeitura de Salvador iniciou as obras de um novo Centro de Convenções na capital no início do mês passado. Com investimento de R$105,2 milhões, a obra tem prazo de um ano para ficar pronta.

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Entrevista com Glicério Lemos, da ABIH-BA O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA), Glicério Lemos, vê o fechamento da unidade com surpresa e ressalta a melhoria dos números do turismo na Bahia.

A ABIH já sabia do fechamento do hotel? Como receberam a informação? A ABIH não foi comunicada desse fechamento. É uma notícia nova para mim. Pelo o que eu pude fazer alguns contatos, é uma decisão de rede e vai acontecer também com o hotel de Belo Horizonte. Em um momento que a hotelaria se recupera em Salvador, para nós foi uma surpresa. Acredito que foi uma decisão de rede. 

Como estão os números da hotelaria em Salvador? De julho do ano passado para cá temos taxas de ocupação ascendentes - não é o ideal ainda, ainda estamos operando com dificuldades. A ocupação ainda não está suficiente para manter uma lucratividade, de retorno de investimentos, mas tivemos uma recuperação de 15% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período no ano passado. 

O hotel conta com 240 funcionários. O que será feito?  Um grande impacto negativo são as demissões. A ABIH-BA, na hora que receber a notícia oficialmente, irá fazer esforços para realocar esse pessoal em outros hotéis. Vamos tentar minimizar ao máximo esse impacto. 

Quais são as expectativas para o verão? Na alta estação a hotelaria contrata em torno de 2 mil pessoas. É um reforço para o período. A expectativa é que a gente cresça em torno de 13% do mesmo período no ano passado. Nós fechamos em 80 e devemos ir para 93%. Esse crescimento se deve ao trabalho que a ABIH tem feito nos últimos anos com a prefeitura de Salvador. Capacitamos 3.600 nesse ano e vamos em outras seis cidades até o fim do ano.