Site eterniza obra de Chico Liberato

Página na internet reúne documentos e criações do artista. Será possível também fazer tour virtual pela casa dele

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  • Roberto Midlej

Publicado em 27 de maio de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Em 1976, o artista plástico baiano Chico Liberato e a esposa Alba foram morar com os filhos numa casa na Estrada Velha do Aeroporto, onde vivem até hoje. Ali, Chico, que hoje tem 85 anos, montou o seu ateliê, onde criou diversas obras, incluindo o longa de animação Boi Aruá (1985), provavelmente seu trabalho mais popular. Foi naquele terreno que Chico recebeu Elomar, para conversar sobre a trilha sonora do filme que o músico iria compor. Chico Liberato (divulgação) Na casa, também havia animadas reuniões de artistas e intelectuais da Bahia e de outros lugares que se encontravam para um bate-papo à sombra das árvores. Muitas vezes, a Jornada Internacional de Cinema da Bahia - cujos cartazes eram desenhados por Chico - se encerravam ali. 

Para a família, a casa funcionava como um retiro da cidade e uma maneira de se aproximar da natureza. Funcionava também como uma roça, onde se plantava aquilo que comiam. Agora, Chico e Alba resolveram abrir as portas de casa para o mundo. Ao menos, virtualmente. É que, a partir desta sexta-feira (28), será possível realizar um tour virtual em 360º pelo lar dos Liberatos.  A turnê está no site Chico (www.chicoliberato.com.br), que vai disponibilizar grande parte do acervo do artista, incluindo trabalhos que fez em diversas técnicas, como escultura, instalações e pintura. Sua produção como animador também está registrada, em uma seção onde ficam fichas técnicas dos filmes, storyboards e trechos de suas criações audiovisuais. Será possível assistir a trechos de seus dois longas: Boi Aruá e Ritos de Passagem (2014).

Uma terceira parte reúne trabalhos relacionados às artes gráficas. Há ali reproduções dos cartazes que criou para diversas edições da Jornada de Cinema e também logomarcas que Chico criou na época em que atuou como artista gráfico. Aquela foi a alternativa que ele encontrou durante a ditadura militar, quando a arte era alvo de censura. A coordenação geral do site é Candida-Luz Liberato, filha do artista, que também prepara um documentário sobre ele. "Comecei a produzir esse documentário em 2018 e já vinha me aprofundado na pesquisa sobre a obra de Chico. Comecei a organizar o acervo dele e os arquivos de fotos e coisas que saíam na mídia sobre ele. Achava muito importante organizar esse material e disponibilizar para o público", diz Candida-Luz.

Os textos publicados na mídia sobre Chico são apresentados cronologicamente no site, numa espécie de linha do tempo."São 364 textos publicados em jornais referentes a ele, mas que falam também da história da Bahia nos últimos 50 anos. Também falam dos amigos dele e de outros artistas. Ali, está a trajetória de vida dele".Há também reproduções das cartas que Chico escrevia, a próprio punho, para Alba enquanto estava em uma de suas viagens. "Tinha algumas intimidades que ficaram de fora, mas tudo que ele escrevia para minha mãe sobre arte e sobre os acontecimentos profissionais dele está no site", revela Candida-Luz.

Além do tour pela casa, é possível fazer uma viagem virtual por uma exposição inédita de Chico Liberato. A mostra deveria ter acontecido no ano passado no MAM-BA (Museu de Arte Moderna da Bahia), mas foi cancelada por causa da quarentena. "Aquela exposição seria uma retrospectiva da carreira dele. Queríamos incluir obras que estão com colecionadores, mas a pandemia dificultou a logística. Então, montamos virtualmente, com a coleção particular dele", diz Candida-Luz.

Chico dirigiu o MAB de 1979 a 1991 e no site há um texto sobre sua administração. Segundo Candida-Luz, ele fez uma gestão marcada pela democratização daquele espaço."Quando Chico chegou lá, o museu era elitizado e os artistas integravam uma casta da elite. Além disso, os frequentadores do museu também eram de uma elite".  Candida lembra que logo no começo de sua gestão, Chico criou a exposição Cadastro, que permitia que qualquer pessoa expusesse quadro ali. "Tinha quadro até no banheiro", observa a coordenadora do site.

A página do artista tem também depoimentos de colegas de Chico, como César Romero, crítico de arte do CORREIO: Como pessoa, Chico é uma maravilha, educado, de fino trato, sempre tem uma palavra de carinho, de estímulo. Ele é um dos artistas mais significativos do nosso Brasil e tem um grande amor pelo Nordeste. É um artista profundo, de uma simplicidade muito grande e isso é o que o faz: o talento e a simplicidade”. O diretor de cinema e roteirista José Araripe também fala sobre o amigo: “Chico é uma inspiração para mim, para minha geração, para os fãs, artistas, desenhistas e animadores. Eu amo animação, adoro colocar animação nos meus trabalhos, dirigir animação, escrever animação e Chico é a nossa maior inspiração e nos orgulha bastante”.