Slogans das seleções: palavras que vão de buzu

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  • Da Redação

Publicado em 26 de maio de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Li esses dias uma reportagem com um cidadão de Goiânia que criou a frase escolhida para estampar o ônibus da Seleção Brasileira durante a Copa do Mundo. Segundo Leonardo Bressan, de olho numa promoção da Hyundai, patrocinadora do evento, ele foi ao site da ação e teclou o seguinte slogan: “Mais que cinco estrelas, 200 milhões de corações”.

Com se vê, caro leitor ou bela leitora, trata-se de um exagero lírico, afinal, pesquisa Datafolha divulgada recentemente aponta que 42% dos brasileiros não estão dando a menor bola para a bola que vai rolar na Rússia.

Desconte o fato de que essas pesquisas são cada vez menos confiáveis, pois Leonardo não tem nada a ver com isso e arrematou uma viagem com tudo pago para ver uma partida do Brasil in loco. Se armou!

Na mesma matéria, havia as frases de todas as seleções, o que me deteve num livre exercício de interpretação geopolítico-identitária, seja lá o que isso quer dizer.

Se o slogan de Leonardo, simbolicamente, juntou os títulos mundiais do Brasil com a propalada paixão nacional pelo futebol, a mesma estratégia publicitária se espalhou pelo mundo, dando um carrinho por trás na originalidade – aliás, em 1970 já se cantava os “90 milhões em ação”.

Enquanto colombianos falam em “um sonho, três cores e 50 milhões de corações”, seus vizinhos afirmam que no buzu “viajam mais de 30 milhões de peruanos”. Iranianos, por sua vez, versam sobre “80 milhões de pessoas, uma nação e um coração batendo”, demonstrando uma harmonia que, aparentemente, só existe mesmo quando o assunto é Copa do Mundo.

Os portugueses, que têm Cristiano Ronaldo e conquistaram a Eurocopa há dois anos, deixaram a modéstia de lado, mas não desapegaram do saudosismo. Assim, lançaram o épico “O passado é glória, o presente é história”. Já os argentinos, que têm Messi, parecem desanimados pela inflação e pelo desempenho da equipe, o que resultou no simplório “Unidos por um sonho”.

A ideia de união, diga-se, é recorrente. A Alemanha, sempre pragmática, defende “Construir a história juntos”, enquanto a Dinamarca afirma: “Juntos nós faremos a história”. Não está claro quem imitou quem, fazendo somente as adaptações pra não ser zerado por plágio na prova.

No buzu da Espanha, veja só, o slogan “Juntos somos invencíveis” soa mais como uma mensagem subliminar, uma espécie de recado do pessoal de Madrid para as regiões que lutam por independência política. E na bola, vão jogar sozinhos?

Talvez ciente de que vai à Rússia cumprir tabela, a Arábia Saudita deixou de lado essa história de sonho e fazer história, homenageando apenas seus homens e sua geografia: “Um deserto de cavalheiros”. Já os guerreiros senegaleses optaram pelo caminho oposto e resolveram plotar que “Nada é impossível”.

Os uruguaios que, como se sabe, são um povo à frente do nosso tempo, parecem ter homenageado o grande Eduardo Galeano, com a poética “Brilha o sol na Rússia, o céu é todo celeste”. Por outro lado, os donos da casa, famosos por enaltecer seus feitos históricos, desta vez optaram pela humildade com o singelo “Joguem com o coração”.

Por fim, uma frase que chama atenção pela proximidade com a Bahia. No seu ônibus, o Egito ensinará ao planeta: “Quando você diz ‘Faraó’, o mundo se levanta e ouve”.

Nada de novo pra gente. Todo mundo sabe o que acontece por aqui quando alguém puxa um “Eu falei Faraóóó!”.*Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados