'Só lembro dos caras quebrando tudo', diz torcedor vítima de atentado

Empacotador estava a caminho do Barradão, de ônibus, quando foi atingido por pedrada no olho

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  • Tailane Muniz

Publicado em 11 de setembro de 2017 às 15:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo CORREIO

O empacotador Luiz Augusto Cruz Vieira Filho, 21 anos, lembra de poucos detalhes do atentado que sofreu, na tarde deste domingo (10), quando cerca de oito homens armados com revólver, pedras e paus cercaram um ônibus em que ele e outros torcedores do Vitória estavam, na Avenida Gal Costa, em Salvador.

Era por volta de 14h e Luiz estava a caminho do Estádio Manoel Barradas, o Barradão, onde assistiria ao jogo Vitória x Fluminense, pela 23ª rodada do Campeonato Brasileiro. Cerca de quatro minutos após entrar no coletivo, porém, o empacotador foi atingido por uma pedrada no olho esquerdo. "Eu só lembro dos caras quebrando tudo com paus e pedras. Ouvi dois disparos e, depois, mais dois. Só aí que notei que tava ferido e um outro rapaz baleado. Foi horrível", contou ao CORREIO, por telefone. Na tarde desta segunda (11), o torcedor seguia internado em observação no Hospital Geral do Estado (HGE), para onde foi socorrido junto com Adrien Matheus Andrade Souza, 19, que foi baleado no braço esquerdo durante o atentado.

O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) indiciou, nesta segunda-feira (11), seis torcedores da Bamor, torcida organizada do Bahia, pelo crime. São eles: César Bloise Barbosa, Daniel Cruz Alves Júnior, Danilo Barbosa Souza, Edílson da Silva Venâncio, Thiago Rabelo Oliveira e Diego Santos Novaes. O presidente da organizada, Luciano da Silva Venâncio, foi ouvido e liberado ainda no domingo (10).

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"Eu fiquei preocupado com ele, mas graças a Deus está bem. Adrien veio se despedir de mim aqui. Eu estava indo para o jogo, mas o rapaz é católico, tinha saído da igreja, Deus salvou ele", relata, acrescentando que Adrien contou que não é torcedor do time. 

Adrien Matheus recebeu alta do hospital nesta segunda-feira (11). Conforme Luiz Augusto, os bandidos não vestiam camisas de time e não falaram nada que fizesse referência à Bamor. "Eles estavam sem camisa, só de short e tênis. Foi um quebra-quebra. Imaginava que poderia ter relação com briga entre torcidas, mas não dava pra ter certeza na hora", conta.  Revólver calibre 38 estava sob posse de integrantes da Bamor (Foto: Divulgação SSP) Atentado Luiz Augusto disse que pegou o ônibus da OT Trans Integra, linha Estação Pirajá x Sete de Abril, por volta de 14h. Quatro minutos depois de deixar a estação de transbordo a caminho do estádio, ouviu os barulhos e percebeu que estava ferido no olho. "O ônibus estava bem cheio. Tinha torcedores organizados e não-organizados. E tinha também outras pessoas", lembra.

Para Luiz, a presença de torcedores da TUI, dentro do coletivo, pode ter motivado o crime."Deve ter sido isso. Porque os caras estão querendo transformar Salvador nesse cenário violento. É muito triste. Por mim podia acabar as torcidas organizadas, só tragédia", defende a vítima do atentado.De acordo com a vítima, pelo menos oito homens, em dois carros e uma moto, participaram da ação. Luiz, porém, disse que não conseguiria reconhecer os autores do atentado. "Não reconheceria, porque fui ferido logo, não vi mais nada".

Morador de Plataforma, no Subúrbio Ferroviário, o torcedor contou que, por causa da violência, perdeu o hábito de assistir aos jogos do Vitória no estádio. 

"E quando vou, não fico perto das [torcidas] organizadas. Estava de folga, resolvi distrair vendo o jogo e deu nisso", completa ele, que vestia o uniforme do rubro-negro no momento."Isso [torcidas organizadas] já devia ter acabado há muito tempo. Está feio demais, já. Salvador não era assim; torcedores de Bahia e Vitória não eram assim", lamentou.O crime está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).